quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

HIPERATIVIDADE: Ritalina feat Rita LEEEE

Comentei sobre a educação na postagem passada, agora, um vídeo que tenho guardado, da professora de Medicina da Unicamp, Maria Aparecida Moyses, em que trás a tona uma questão muito atual: o abuso de drogas compradas em farmácias e drogarias, e o pior, compradas por pais, responsáveis, receitadas por especialistas, e com indicação de professores/escolas, para dar para aos nossos pequenos. Condutas estas, muitas vezes, relacionadas ao diagnóstico com o nome de Hiperatividade, e/ou "bagunça em sala de aula". Enfim, temas como a “medicalização da vida”, ou “simplificação da vida”, também fazem parte dessa discussão.

 

A fotografia de Joceli Borges e sua NARRATIVA PESSOAL e Nossa famigerada EDUCAÇÃO NACIONAL

Estou tentando desenvolver um trabalho que envolve “a fotografia”. Assim, venho também tentando entender um pouco mais, sobre esse tipo de arte ultimamente. Sei quase nada sobre fotografia. Mas sempre que acho uma foto bonita e/ou interessante, a guardo em meus arquivos, e às vezes fico olhando para elas.
 
Uma das poucas coisas que sei sobre fotografia, é que existe um prêmio americano, chamado Politzer, que premia os melhores fotógrafos do mundo. Eu sempre dou uma olhada nos ganhadores, em suas fotografias.  E uma das fotos que me impressionou uma vez, que nem sei de quem, nem o ano, é a de uma “Menina Afegã”. É impressionante a força da expressão/beleza dessa menina, na fotografia.
 
Um dos grandes nomes que sei sobre fotografia no Brasil é o de Sebastião Salgado. E vendo um de seus trabalhos, me deparei com uma foto muito bonita, de uma menina que está na capa de um livro seu, chamado “TERRA”. Ela é uma menina também, como a Afegã.
 
Quis saber um pouco mais sobre a história daquela foto. E achei uma notícia na Folha, desse ano, em que conta um pouco como está à vida dessa menina. Foto esta, que percorreu o mundo todo, e que ganhou vários prêmios.
 
E achei muito impressionante, a história por detrás dessa bela foto. Como pano de fundo, a questão do MST, entre outras. Como disse, essa foto faz parte de um livro, em que Salgado registrou pessoas do Movimento Sem-Terra, em marchas e acampamentos pelo país. Essas fotos foram registradas quase logo após, aquele massacre que aconteceu em Eldorado do Carajás (PA), onde a Polícia abriu fogo em um acampamento do MST.
 
Passado alguns anos depois do retrato que a deixou “conhecida” por todo o mundo, (e Joceli diz que não se lembra do momento da fotografia, e nem de ter conversado com o fotógrafo), ela perdeu a mãe assassinada em um assentamento sem-terra. É que o pai, diz ela, logo depois da foto, conseguiu um pedaço de terra, e ainda hoje vive nele. E ela, o marido, e os filhos, que antes moravam na cidade, agora estão também vivendo em um acampamento, sonhando um dia, conquistar um pedaço de terra.
 
Joceli fez uma espécie de narrativa pessoal, em uma carta que a matéria trás, para falar um pouco sobre suas condições.

 (A Narrativa Pessoal)
 

Um dos aspectos que eu gostaria de levantar nisso tudo (e até peço desculpas por minha “pequenez”, mediante tanta beleza, e tristeza, envolvendo essa história), é que claramente, ela (Joceli) se enquadraria no que quase 60% dos brasileiros se enquadram atualmente, em termos de Educação, segundo especialistas: Analfabetismo Funcional.
 
O que eu penso sobre tudo isso: Uma bela foto. Um retrato do país. Mais uma história muito triste (já não bastasse episódios como o dos Carajás, relacionado a pré-foto, e depois a morte da mãe da moça no pós-foto). Injustiça.
 
E essa história toda, contradiz (espontaneamente também), aquela ideiazinha furada-fascista, que tange por aí nas conversas de maneira tão espontânea, que os tais “sem-terra”, são tudo “gente sem-vergonha”, “que querem a terra para vender...” 
 
 E uma ideiazinha que eu também carrego comigo, que uma vez uma colega Ass. Social me contou, e que achei simples, mas muito digna: “não é aquele negócio de dar o peixe fisgado não. É dar a varinha? É ensinar a pescar? Sim. E ainda: é dar a varinha, o anzol, ensinar a pescar, verificar as condições do rio, como por exemplo, que tipo de peixe tem por lá, o transporte para o pescado, o gelo para ele não estragar, o protetor solar...”
 
Agora, como uma pessoa que nem ao menos sabe escrever direito, terá condições para trabalhar com agricultura, e viver satisfatoriamente? Não sei ao certo as causas que essa menina não estudou. Na matéria, fala que ela, teve até uma oportunidade de estudar no Rio de Janeiro, a convite da Fundação vinculada a Sebastião Salgado. Mas ela teria recusado, pois não queria ficar longe da família.
 
Suponhamos que perto do acampamento, onde ela e os pais viviam, deveria ter uma escola.
 
Mas porque ela não estudou, e não conseguiu terminar os estudos, para ao menos conseguir escrever uma carta de maneira que pudesse comunicar melhor seus pensamentos, sentimentos?
 
Não sei por que essa moça não foi à escola. Mas essa história toda envolve um dos graves, grandes problemas que nosso país, que as pessoas, enfrentam.
 
Falando sobre esse assunto: Educação, me lembrei de um vídeo, que vi tempos atrás, de uma professora, que virou a maior “febre” (pena que a febre passa, nesse caso) no país. Essa professora (Amanda Gurgel é o seu nome), tempos depois, parece-me que apareceu até no Faustão. Ela melhor que qualquer pessoa, em minha opinião, pode falar sobre a questão da educação no nosso país. Lembro que quando conheci essa narrativa, fiquei assistindo-a por várias vezes repetidamente, como se fosse um “café da manhã reforçado”, para motivação. Tamanha sua lucidez, clareza, coragem, força. Ela é também é mais uma trabalhadora da ponta (só que em área diferente da minha). E aproveito aqui, para fazer essa rememoração dessa bela narrativa.  
 
Abaixo, a foto da Menina Afegã, da Joceli por Salgado, o vídeo da professora Amanda, e o link da matéria sobre Joceli.





http://www1.folha.uol.com.br/poder/1142313-menina-eternizada-em-foto-de-sebastiao-salgado-ainda-e-sem-terra.shtml

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

INFORMATIVO NA SOLA DA BOTA - O Agente Comunitário de Saúde em Foco

(POSTANDO UMA EXPERIÊNCIA QUE REALIZAMOS JUNTO PRINCIPALMENTE AOS AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE NO ANO  DE 2010 E 2011)
 
INFORMATIVO NA SOLA DA BOTA – O Agente Comunitário de Saúde em Foco
 
Nos vários momentos que diariamente nossa equipe, tem com os Agentes Comunitários de Saúde - ACS, um tom bastante presente nas conversas, é o sentimento de desvalorização, que essa categoria de profissionais de saúde verbaliza. Existiu uma narrativa de uma ACS, na época em que estávamos começando nosso trabalho, e que nos motivou a construir uma proposta de atividade voltada especificamente para os ACS. Em uma conversa, uma ACS disse que num encontro inusitado com uma moradora da sua área, em um supermercado, fora o horário de trabalho, recebeu a seguinte exclamação: “Nossa, nem estava reconhecendo você sem o uniforme, é você que todo mês vai lá em casa! Como é bonita!”; A Agente citou esse acontecimento, ressaltando que as pessoas nem a reconhecem, sem o uniforme diário de ACS. Mas pensamos que existem muitos outros “não-reconhecimentos”, nessa profissão. Que aliás, para muito gestores/especialistas, ainda nem está definido, se é ou não considerado uma profissão.
 
Começamos a nos encontrar com os ACS de uma Unidade de Saúde. Nessa Unidade existe uma equipe de saúde, composta por: médica clínico-geral, uma odontóloga, uma auxiliar de odontologia, uma enfermeira, dois técnicos de enfermagem, dois agentes administrativos, uma agente administrativa que dispõe as medicações para a população e uma gerente, que também atua como assistente social. São quatro ACS ao todo. E juntos, caracterizamos e pensamos em alguma ação que “desse mais voz” ao ACS, almejando de que eles, e sua categoria, sejam um pouco mais valorizadas, tanto pela comunidade em que trabalham, como entre os colegas de serviço. Geralmente, a conversa com os ACS se deu nos primeiros horários da manhã, onde eles, todos os dias de trabalho, se reúnem na Unidade de Saúde, para o planejamento das ações diárias. Nesses momentos, a enfermeira também faz algumas orientações e repassa alguns informes. E se deu também nas sextas-feiras no período vespertino, pois aqui na rede de saúde, está estipulado também, que devem acontecer as reuniões de equipe. Momentos esses, que também pensamos ser importantes para as atividades interdisciplinares, como a confecção do informativo. Dessa maneira, pensamos em confeccionar um informativo, onde eles pudessem “aparecer” mais.
 
O informativo está dividido em algumas partes: a primeira chama-se: “Bate Papo Saúde”. É o maior espaço do informativo, e geralmente é escrito em parceria de um ACS com outro profissional da unidade de saúde de nível superior, como a enfermeira por exemplo. Assuntos como: vacinação, diferença entre urgência e emergência, métodos contraceptivos e violência contra a mulher, foram discutidos nesse espaço ao longo das edições do informativo.
 
São informações que os ACS esboçaram curiosidade em entender melhor, relacionadas com as problemáticas que enfrentam. E o profissional de nível superior, pode contribuir com um “olhar mais científico” sobre a o assunto. O espaço fica na primeira página, centralizado, no informativo. 
 
 Logo abaixo, existe um quadrante esquerdo e outro direito. No esquerdo, está o espaço: “Conselho de Saúde”. São escritas por um ACS, notícias sobre os últimos acontecimentos do Conselho Local de Saúde (como o dia das reuniões, ou, o que é o conselho, sobre a sua eleição, onde acontece, e as suas ações). Geralmente, o ACS que escreveu essa parte, estava integrando o conselho. No quadrante direito, está um espaço chamado: “Nosso Bairro”. Onde outro ACS escreve uma nota sobre o território, ou seja, a região de abrangência de cobertura da Unidade, e onde ele mesmo reside (já foi escrito sobre a questão dos moradores jogarem lixo em lugares impróprios no bairro, sobre a existência de muitos cães soltos pelas ruas, prejudicando o trabalho deles (ACS) inclusive. Em outra edição, foi abordado a questão da água, e saneamento básico, uma vez que em grande parte dos bairros, não existe esgoto, e nem mesmo água encanada. E no último informativo confeccionado, abordou-se um projeto em que a Universidade Católica da cidade, estava desenvolvendo, especificamente nessa região. 
 
 No verso (o informativo tem apenas uma folha - frente e verso), está um espaço grande, chamado: “Sem Uniforme”, onde postamos em cada edição, uma foto de um dos ACS, sem uniforme, e ao lado, uma enquete/entrevista, onde o ACS pode falar um pouco mais sobre a sua vida (como: qual é o seu filme favorito, quantos filhos, animais de estimação, sobre sua família, quanto tempo de trabalho como ACS, o que é saúde na opinião dele, os desafios da profissão, as limitações, os projetos dele para o futuro etc.). Esse espaço foi o primeiro pensado, e surgiu a partir da questão da percepção da “não valorização” do trabalho e da própria profissão ACS. Pensamos ser essa uma forma de materialização do “aparecer” para a comunidade, e para os colegas de trabalho. Interessante, que para a fotografia, alguns ACS relataram “ter passado até pelo salão de beleza”, com roupas diferentes, para aparecerem “bem arrumados” (nas próprias palavras deles). E em um dos informativos, nós tivemos a ideia de entrevistar para esse espaço, um ACS de outra unidade de saúde vizinha. É uma antiga colega de trabalho dos Agentes dessa unidade de saúde, do qual todos tinham muito apreço. E antes, na realidade, todos trabalhavam juntos, pois ocorreu um desmembramento da região, criando mais uma unidade de saúde (nessa nova, era onde estávamos confeccionando os informativos).
 
Logo abaixo existe um espaço, com o nome de: “Informes da Unidade”, onde são postulados: horários, procedimentos que a unidade de saúde está oferecendo, mudanças na agenda/rotina da unidade, início ou encerramento de grupos e outras atividades da UBSF.
 
E por último, um espaço denominado: “Saúde e qualidade de vida é:”:, onde escolhemos alguns temas geralmente em forma de desenhos, para a finalização do informativo de maneira mais “provocativa”. Todos esses processos do informativo foram construídos não apenas pelos ACS, mas por outros profissionais da unidade, como a gerente da unidade, a enfermeira, os técnicos etc. E sempre em parceria com o com o nosso grupo.
 
Foram confeccionados 4 informativos, ao longo de 1 ano e meio. Com tiragem de 100 exemplares de cada informativo. Com essa experiência, não apenas almejamos valorizar um pouco mais o ACS enquanto profissional fundamental e diferenciado da Atenção Básica, mas também trabalhar conceitos como: de Educação Permanente, de Controle Social, e principalmente de Educação em Saúde. Quanto ao impacto das informações mediante a população, pouco podemos dizer nesse aspecto. Uma vez que o informativo depois de pronto, ficava a disposição da população, na sala de espera da unidade de saúde, e não temos relatos dos comentários da população. Sabemos que existia a possibilidade da população as vezes nem ler o que estávamos escrevendo.  Mas foi notório o empenho e satisfação nossa, a cada informativo confeccionado.
 
Outro comentário é com relação ao tempo, para a confecção do informativo disponibilizado para os ACS. Devido à rotina desses ACS na unidade, a confecção do informativo, foi realizada em horários “não estipulados”. Quando existiu um “tempo livre”, sentávamos juntos (Nós e os ACS), para pensarmos os temas, pautas, dos informativos, bem como na sua edição. Assim, não foram preestabelecidos horários para a confecção desse informativo, com a gerência da unidade, já  que nos foi justificado que o tempo do ACS era limitado, devido a grande demanda de atribuições.
Pensamos que diante o processo de trabalho cotidiano que os ACS exercem, uma atividade como o Informativo, talvez não se “enquadre” no que ainda está arraigado na Atenção Básica: aquele modelo tradicional. Não sendo entendido como algo que também pode “promover saúde” de alguma forma. Acreditamos também, que poderíamos ter melhor aproveitado o informativo, no sentido de se trabalhar com a população. Talvez, ter pensado na participação da comunidade no próprio processo de elaboração do informativo.
 
E foi muito legal perceber, que no andamento dessa atividade do informativo, dois dos 04 ACS que participaram na elaboração deles, começaram a cursar um curso superior. Uma delas está cursando enfermagem, e o outro ACS está fazendo letras.
 

 

CAPScioso

CAPS cioso
Meu intestino, não sei distante
Aperta doído, quando não tem
E os meu vídeos, pela cabeça
Passando sem pausa. Alucinam
E assim sendo, rico de mim
Ah sem ninguém querer,
Ninguém melindrando
E muito que eu quis, cadê!
E se roubaste um diamente
De um banco bem verde, ficaria mais contente
Claro,
Claro por de baixo dos panos,
há um calor azedo
Vem sufocar essa flor, sentar na mesa fria
Com aquele fulgor
Para comer então
Fish frito com macacão
Eduardo Filho

sábado, 15 de dezembro de 2012

AlucinaAÇÃO

Alucinação

Belchior

Eu não estou interessado
Em nenhuma teoria
Em nenhuma fantasia
Nem no algo mais
Nem em tinta pro meu rosto
Ou oba oba, ou melodia
Para acompanhar bocejos
Sonhos matinais...

Eu não estou interessado
Em nenhuma teoria
Nem nessas coisas do oriente
Romances astrais
A minha alucinação
É suportar o dia-a-dia
E meu delírio
É a experiência
Com coisas reais...

Um preto, um pobre
Uma estudante
Uma mulher sozinha
Blue jeans e motocicletas
Pessoas cinzas normais
Garotas dentro da noite
Revólver: cheira cachorro
Os humilhados do parque
Com os seus jornais...

Carneiros, mesa, trabalho
Meu corpo que cai
Do oitavo andar
E a solidão das pessoas
Dessas capitais
A violência da noite
O movimento do tráfego
Um rapaz delicado e alegre
Que canta e requebra
É demais!...

Cravos, espinhas no rosto
Rock, Hot Dog
"Play it cool, Baby"
Doze Jovens Coloridos
Dois Policiais
Cumprindo o seu duro dever
E defendendo o seu amor
E nossa vida
Cumprindo o seu duro dever
E defendendo o seu amor
E nossa vida...

Mas eu não estou interessado
Em nenhuma teoria
Em nenhuma fantasia
Nem no algo mais
Longe o profeta do terror
Que a laranja mecânica anuncia
Amar e mudar as coisas
Me interessa mais
Amar e mudar as coisas
Amar e mudar as coisas
Me interessa mais...

Um preto, um pobre
Uma estudante
Uma mulher sozinha
Blue jeans e motocicletas
Pessoas cinzas normais
Garotas dentro da noite
Revólver: cheira cachorro
Os humilhados do parque
Com os seus jornais...

Carneiros, mesa, trabalho
Meu corpo que cai
Do oitavo andar
E a solidão das pessoas
Dessas capitais
A violência da noite
O movimento do tráfego
Um rapaz delicado e alegre
Que canta e requebra
É demais!...

Cravos, espinhas no rosto
Rock, Hot Dog
"Play it cool, Baby"
Doze Jovens Coloridos
Dois Policiais
Cumprindo o seu duro dever
E defendendo o seu amor
E nossa vida
Cumprindo o seu duro dever
E defendendo o seu amor
E nossa vida...

Mas eu não estou interessado
Em nenhuma teoria
Em nenhuma fantasia
Nem no algo mais
Longe o profeta do terror
Que a laranja mecânica anuncia
Amar e mudar as coisas
Me interessa mais
Amar e mudar as coisas
Amar e mudar as coisas
Me interessa mais...

GRANDE BELCHIOR

Não Leve Flores

Belchior

Não cante vitória muito cedo, não.
Nem leve flores para a cova do inimigo,
que as lágrimas do jovem
são fortes como um segredo:
podem fazer renascer um mal antigo.


Tudo poderia ter mudado, sim,
pelo trabalho que fizemos - tu e eu.
Mas o dinheiro é cruel
e um vento forte levou os amigos
para longe das conversas, dos cafés e dos abrigos,
e nossa esperança de jovens não aconteceu, não, não.


Palavra e som são meus caminhos pra ser livre,
e eu sigo, sim.
Faço o destino com o suor de minha mão.
Bebi, conversei com os amigos ao redor de minha mesa
e não deixei meu cigarro se apagar pela tristeza.

- Sempre é dia de ironia no meu coração.
Tenho falado à minha garota:
- Meu bem, é difícil saber o que acontecerá.
Mas eu agradeço ao tempo.
o inimigo eu já conheço.
Sei seu nome, sei seu rosto, residência e endereço.
 

A voz resiste. A fala insiste: você me ouvirá.
A voz resiste. A fala insiste: quem viver verá

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

NOTA


Esses dias participei de uma atividade, que eu achei bastante interessante, em uma unidade de saúde.
Todo final de ano, essa unidade de saúde realiza um evento, onde o foco são as crianças da comunidade. Já é uma tradição. E fazem um “desfile” com os pequenos. Esse ano o tema foi “Anos 60”. Teve um ano em que o tema foi “Cowboy”, e na parede das salas da unidade, tem fotos das crianças que participaram nos anos passados.
É um momento em que eu vi a maior parte dos trabalhadores de saúde dessa unidade, principalmente os Agentes Comunitários de Saúde, se mobilizando, organizando, planejando um momento voltado para as crianças daquela comunidade. A Assistente Social cuidou das inscrições, a enfermagem e os Agentes fizeram a decoração, o odontólogo ficou com a fotografia, e quem não participou diretamente, fez uma doação: brinquedos, doces, materiais para a decoração etc. E existe sempre o “rateio” para comprar alguma coisa que fica faltando nas doações, que os Agentes principalmente angariaram na comunidade.
Percebi que foram momentos que integraram a equipe de uma forma ímpar. Por exemplo. Participei do momento em que as Agentes estavam aprontando a decoração no local. Havia até uma Agente, que estava de licença maternidade, e que foi até o local, para ajudar. É o momento em que os filhos dessas mulheres, também ajudam, e /ou atrapalham, com suas traquinagens. E conhecemos os filhos, netos, de quem trabalha conosco. E cuidamos do filho do nosso colega naquele momento. Foi um momento descontraído, de conversa, enquanto embalávamos os brinquedos, e pensávamos na decoração do lugar.
E essa história, para mim, especificamente, ficou complicada. É que além de dar uma “mãozinha” nesse evento, me pediram para que eu fosse o jurado do desfile. Eu, com a enfermeira, a educadora física e o Assistente Social da unidade, seríamos o “corpo de jurados”, e tínhamos que ver as crianças, bem pequenas, e darmos uma nota a elas. Os quesitos eram: desenvoltura, simpatia, armação da fantasia, e acompanhamento da criança pela unidade de saúde (como o número de consultas, vacinas, pré-natal etc). Desde já, as Agentes de Saúde, “pularam fora” dessa questão de dar notas as crianças. Pois elas mesmos disseram: “nós não podemos dar nota não, pois isso pode dar “rolo”, uma vez que moramos na comunidade, e vai que uma mãe acha que estamos beneficiando algum parente nosso, ou coisa parecida...”. Enfim, aceitei.
E fiquei pensando em como avaliar uma criança. Na verdade, eu nem sabia os quesitos que iríamos avaliar. Chegando no dia, ajudei a instalar o som, e ainda fiquei como DJ, vendo as crianças passarem por nós, aumentando e abaixando a música, enquanto a apresentadora falava.  Desfilaram crianças lindas (e não encontro nenhum outro adjetivo para elas), a maior parte delas, desfilavam acompanhadas por suas mães, avós, irmãs, responsáveis. Meninas com vestidos de bolinhas, óculos escuros, tiaras. Para os meninos até gel e bebês com costeletas feitas a lápis preto. E desfilaram também crianças com roupas sem correlação a temática proposta. Crianças com “roupas de sair”, de ir à igreja. Mas em todas as crianças, você via todo o cuidado e carinho que aquelas mulheres tiveram com elas para a preparação do momento, para o desfile. Mulheres que ao acompanhar as crianças na “passarela”, estampavam um sorriso na cara. Mulheres que desfilavam de chinelo de dedo.
E fiquei pensando sobre essa questão de se avaliar alguém, e mais, de se avaliar uma criança.
O primeiro pensamento que tive com essa proposta, foi com relação aquele belo filme: “Pequena Miss Sunshine”. Que retrata a priori, sobre o exagero que esses concursos de beleza voltados para crianças assumem. São meninas no caso, que colocavam dentes “postiços”, “mega hair”, salto alto, maquiagem, para ganharem os concursos. Sem falar no impacto emocional que vai causando essas “disputas”. E esse filme, retrata também, me parece, aquela coisa do “esvaziamento” na vida dos adultos, por detrás dessas crianças.
Uma vez eu li um texto, em que a autora falava exatamente do papel que as crianças exerciam na vida das pessoas, que moravam nas comunidades mais pobres. Naquelas famílias em que o pai e a mãe são um mero detalhe. São avós, tios, tias, sobrinhos, filhos de outros casamentos, mães que deixam seus filhos com vizinhos, avós que tomam filhos de filhas, e por aí vai, tudo na mesma casa, no mesmo ambiente. E no centro disso tudo: as crianças. E em sua tese, a ideia de que as crianças, nem mais, nem menos, representavam para os adultos dessas famílias: um futuro melhor.
Quando eu penso em criança ultimamente, eu me lembro de Manoel de Barros: ele simplesmente diz que é nas crianças, que estão os verdadeiros ensinamentos. Que devemos sempre aprender com elas.
E fiquei pensando nesse negócio de dar nota para uma criança. E me lembrei do Rubens Alves. E tenho que falar um pouco sobre Rubens Alves. Tive duas vezes oportunidades de ouvi-lo falar. Da primeira vez que eu o vi, tinha 17 anos, e fui assistir a uma palestra sua. Depois fui à casa onde ele estava almoçando. Eu era amigo de uma das mulheres que estavam organizando o evento, e ele foi almoçar na casa dela. Mas na época, de tanta timidez eu acho, nem troquei sequer uma palavra com ele. Mas lembro-me bem que uma das cenas mais impactantes que eu presenciei, foi no final de sua palestra, em ver o aglomerado de professoras, pedagogas, entorno dele, querendo sua atenção. Pareciam fãs adolescentes “alá” Luan Santana. Mas como? Um senhor, com o mínimo de cabelo brancos, provocando mulheres dessa maneira, com sua inteligência, carinho, carisma? A ponto delas quase darem suas calcinhas para ele autografar. Fiquei pensando nisso. E da outra vez que eu o vi falar, foi nessa cidade aqui mesmo. Depois de mais de uma década. O auditório lotado, e não havia lugar mais nem para se sentar no chão.
Mas a história que ele me contou, relacionado ao tema nota, é que tem uma ideia de como para ele, deveria ser o vestibular. Na verdade, em sua opinião (e já ressalta que é maluco mesmo), não deveria nem existir o vestibular. Um dos argumentos que o fez chegar a essa conclusão, foi ter tido conhecimento da indignação de um cronista na época, depois de ter tido um trecho de uma de suas crônicas, publicada em uma questão de vestibular. A indignação dele era que nem mesmo ele, se tivesse prestado e tentado resolver a tal questão, não conseguiria. Assim, para Rubens Alves, o que deveria existir ao invés de vestibular, seria um sorteio. Simples assim: sorteio de vagas, para quantidade de candidatos. Só um humanista como ele, pode ter ideias assim.
Então, como eu avaliaria aquelas crianças...
Esse negócio de dar notas é complicado. Quem de nós não esteve já do outro lado da moeda? Ou seja, quem de nós já não foi avaliado algum dia? Aliás, desde que nascemos, nas primeiras horas, já “ganhamos” uma nota. O teste de Apgar, já é uma nota que nos dão no hospital, avaliando alguns sinais do bebê. E tem o colégio, e tem a carteira de habilitação, e as entrevistas e emprego, e muitas e muitas outras avaliações, que nos fazem cotidianamente.
E acho isso tudo muito complicado. Assim, como eu avaliaria aquelas crianças?
Por fim, a única saída que eu vi para mim foi: dei 10 para todas as crianças, em todos os quesitos, deixando assim, para os meus colegas jurados, as notas diferenciais, que escolheram o primeiro, o segundo e o terceiro lugar. Mas todas as crianças, ganhando ou não, ganharam um brinquedo. Lógico que para as primeiras, o brinquedo era melhor.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Por entre PRAÇAS MEDO DROGAS - Educação Popular em Saúde

Era um sábado à tarde a toa. Estava no centro da cidade, e fui conhecer a nova praça principal daqui. Ela recentemente passou por uma longa reforma. Achei um jornalzinho desses de igreja no chão, com uma capa que me chamou muito atenção, coloquei-o embaixo do braço, e fui buscar um lugar para me sentar.
 

No primeiro intacto que me causou essa praça, já não gostei. Achei muito carregado o paisagismo que fizeram. Na verdade já não gostei bem antes. É que apesar dos compensados de madeira que impediam a visão da reforma, já dava para perceber que ao redor da praça inteira, estava sendo erguida uma grade. Mas como assim? Vão cercar com grades uma praça pública que antes era aberta? É isso. Antes a qualquer hora do dia e noite, você poderia ir e vir, entrar e sair nessa praça, mas agora não. Mas quais seriam os motivos por detrás disso? A primeira coisa que me veio à cabeça: é para que lá, não se aglomeram mendigos, usuários de drogas e as prostitutas. Os usuários de drogas e prostitutas, eu nem vou comentar. Mas e os mendigos...
 
Como que retiram dos mendigos até os bancos da praça? Nem mais o banco da praça os mendigos tem direito??? Aqui na nossa cidade, existem coisas que eu classificaria como “FORJADAS.” Existe até a cidade do Papai Noel, do Polo Sul, ou Norte (nunca soube bem ao certo), que se transferiu, ou abriu uma filial nos Altos da Afonso Pena.
 
Como também fizeram com a famosa, e cheirosa feira livre central, a maior, que servia o delicioso Sobá. Ela sempre existiu, e cresceu, em uma rua. Ficava paralela a avenida Mato Grosso. Dizem que  saiu da dessa rua, devido ao empreendimento religioso que se ergueu em frente: segunda maior Igreja Universal do país. Enfim, não sei direito os porquês, só sei a mudaram de lugar, e a transferiam para um galpão da antiga estação ferroviária. Agora ela atende um aglomerado de gente, mais turistas, num lugar amplo e mais organizado... Mas como uma amigo meu disse, não poderia se chamar mais “feira”, nem muito menos “livre”. Feira é um lugar na rua. É o momento em que a rua descansa de carros. É o lugar onde encontramos pessoas vizinhas, que moram ao nosso lado, e nem ao menos sabemos seus nomes. É o lugar onde podemos comer talvez na frente de casa, pois as comidas chegam até nós, sem precisar pedir delivery...
 
Outro acontecimento que eu me lembre, foi relativo ao monumento chamado de“Cabeça de Boi”. É uma estrutura de ferro grande, que tem em uma de suas partes, uma cabeça de boi com um cifre grande. A discussão da época, era que essa cabeça que ficava no centro de uma praça antiga, de um bairro bem tradicional daqui, simplesmente, da noite para o dia, sumiu. Retiram essa cabeça dali, e a colocaram em um cruzamento, de uma nova avenida que foi revitalizada de outra parta da cidade recentemente. Lembro-me da indignação de alguns moradores, pois não haviam em nenhum momento sido indagados, sobre a transposição da cabeça da praça, desse monumento da cidade. Sentiram-se lesados com isso.
 
Enfim, mas estou eu, nessa nova praça. Com o pensamento de abrir o jornal. Uma fonte bonita com luzes acessa (era dia, acho que a noite a praça fica trancada), faz jorrar um grosso de água pra cima. E de imediato percebo um som instrumental, alto, tipo música clássica. Algumas crianças correndo pra lá e pra cá. No início acho que é alguma apresentação artística, ou coisa do gênero. Tendo achar essa apresentação. Mas logo percebo que esse som alto, vem de quatro caixas estridentes e grandes, posicionadas fixamente e quadrangularmente, de modo que o som perpasse por todo o território. No início acho até interessante. Mas minutinhos depois, não sei direito por que, mas aquele som vai me incomodando tanto, que nem consigo mais ficar ali. Fiquei pensando: quem está colocando aquele som? E que mal qualidade de som... Qual era o nome daquela música? Quem tocava? Se eu quisesse buscar mais informações sobre a música, e/ou, até mesmo o som, quem eu deveria procurar ali? Quem era o cara que colocava essa música? Onde estava o “toca CD”? Se alguém se incomodasse com aquele som, poderia pedir para abaixar o volume? Existem outros estilos que também são colocados para ouvir? É o dia todo de som daquela forma? Qual é o horário que começa a tocar, e qual é o término? Muitas questões acho que passaram por mim, e esse foi o motivo do meu mal-estar. Fui embora da praça...
 
Conversando com minha irmã sobre a praça, ela havia me dito que uma amiga sua, que reside no centro de uma cidade do interior de São Paulo, mais especificamente na frente de uma outra praça como aquela, e que também tocava som (com caixas na praça), sentia-se frequentemente angustiada, com a sensação até de loucura, dizendo que as vezes aquele som emitido pelas caixas de som da praça, a deixava “doida”.Fiquei mais tranquilo...
 
Lembrei-me da corrutela dos meus pais, onde hinos da igreja, e notas de falecimentos, também são até hoje, emitidos na praça, pelos alto-falantes da igreja. Os sinos demarcando acontecimentos e horários, significam isso. Mas acho que era diferente. Havia um por que. Mas e aquele som, de música clássica, naquela altura, naquele horário, o que significava aquilo?
 
Voltando para o jornal, a capa trazia uma bomba relógio vermelha prestes a explodir, bem grande, na página inteira. DROGAS, UMA BOMBA-RELÓGIO, PRESTES A EXPLODIR. Folheando o jornal, por entre testemunhos, bênçãos e pecúlio, com a palavra, os especialistas. Os psiquiatras, ressaltaram os malefícios que as drogas causam nas pessoas começando por (não me lembro exatamente, mas o tom era esse): aceleramento da queda do cabelo, déficit cognitivo, cânceres, disfunções sexuais, homossexualismo, perda de identidade, fundo do poço, depressões e esquizofrenias, perda de laços sociais e/ou afetivos, desemprego e por fim, a tal da morte. Pouco falaram sobre o álcool. E em um outro quadrante, uma nota inteira sobre a maconha, e seus malefícios, e alertavam: não é uma droga leve, como existe o mito. Cuidado! Afeta severamente a memória. E também associaram o HIV as drogas. E muito pouco, ou quase nada, falaram sobre a questão do próprio abuso de psicotrópicos, já que a maioria deles eram psiquiatras. E quase nada sobre o álcool.
 
Eu não quero entrar nessa questão, mas vou fazer um comentário sobre o que faz mal para nós. (Penso que o lance é cada um, na sua individualidade, conhecer e poder escolher, aquilo que faz ou não mal, para sua própria saúde, mas iriei falar mais disso logo abaixo) O que é que podemos considerar o que pode nos matar? Quais substâncias que também podemos associar a vários males de saúde? Quais são essas substâncias? Apenas as tais drogas que o jornal ressaltou? Ampliando, muitas drogas como muitos sabem, são vendidas em drogarias, farmácias, em toda e qualquer esquina. Quem não sabe que toda medicação, tem seu efeito colateral, como os simples remédios para hipertensão? Que em sua ingestão ao longo dos anos, vai causando deterioramento das funções renais, entre outros males... que os psicotrópicos como o Clonazepam, está cada vez mais causando dependências nas pessoas...
 
E por falar nesse assunto, lembro-me de uma pesquisa que vi a algum tempo atrás, não me lembro bem se foi na palestra ou no livro, de Gustavo Tenório (A Construção da Clínica Ampliada na Atenção Básica), médico professor da Unicamp, em que apresentou um estudo estarrecedor. Falando de alguns dados obtidos pela pesquisadora Barbara Stratifil, onde ela aponta a IATROGENIA, como a terceira maior causa de óbitos nos EUA. Numa rápida busca:
 
Iatrogenia é uma doença com efeitos e complicações causadas como resultado de um tratamento médico. O termo deriva do grego e significa de origem médica, e pode-se aplicar tanto a efeitos bons ou maus. Em farmacologia, iatrogenia refere-se a doenças ou alterações patológicas criadas por efeitos colaterais dos medicamentos. Geralmente a palavra é usada para se referir às consequências de ações danosas dos médicos, mas também pode ser resultado das ações de outros profissionais, como psicólogos, terapeutas, enfermeiros, dentistas, etc. Além disso, medicinas alternativas também podem ser uma fonte de iatrogenia. Uma causa muito comum de efeitos iatrogénicos, que acarreta em óbito, é a interação medicamentosa, que é quando um ou mais medicamentos alteram os efeitos de outros que estão sendo tomados pelo paciente, que podem aumentar ou diminuir a ação do mesmo. Efeitos colaterais, assim como reações alérgicas a medicamentos, também são uma forma de iatrogenia. Com o passar do tempo, algumas bactérias se tornan resistentes a determinados medicamentos, e essa resistência também é uma iatrogenia.”
 
Então, o que faz mal e pode nos matar? Ampliando: quem não se lembra do chumbo, que havia nas tintas usadas nas paredes das nossas casas, e que causavam prejuízos ao desenvolvimento das pessoas, como sérias dificuldades de aprendizagem em crianças... quem não se lembra das telhas e caixas d´água feitas de amianto.... quem não se lembra da água oxigenada que colocavam no leite, um produto altamente cancerígeno, para que o leite rendesse mais... quem não frequentemente come carne de supermercado e sente um gosto estranho, e sabe lá o que é que tem nessa carne... quem não vive em cidades onde o ar, aquele que respiramos, e está cada vez mais poluído devido ao entupimento de gás carbônico emitido pelos carros, fábricas e afins, causando “probleminhas” como o aquecimento global, asma, bronquite, entre outros...
 
Enfim, mas não é sobre essa questão, que eu quero falar. Gostaria de falar sobre uma área que eu trabalho, que é a Educação Popular em Saúde. Relacionando-a a questão das drogas, o que eu percebo, no meio da saúde pública, é infelizmente esse tipo de “pedagogia”que li no jornalzinho, que é baseada fundamentalmente no MEDO. Tem alguns colegas que até classificam como “Tratamento de Choque” e coisas parecidas. Quando colocamos uma bomba relógio na capa, com os especialistas falando dessa maneira, eu acho muito complicado.
 
Em contrapartida a isso tudo, em uma entrevista que li e guardei na minha “pastinha”, de muito tempo atrás, um dos maiores médicos infectologistas do país (tipo time do Fantástico), dá uma contribuição lúcida, e depois humilde, de possíveis começos de caminhos, relacionados a essa questão da educação em saúde relacionada as drogas, sexualidade, que podemos trilhar.
 
O que mais me impressionou nesse relato dele, é quando fala sobre a palestra que foi dar na escola da filha, e que a filha pediu para a colega perguntar em seu lugar, sobre as dúvidas que carregava sobre as drogas, sobre a sexualidade. Ou seja, ela não fez a pergunta em uma conversa de almoço, ou no carro indo viajar com a família para o litoral, ou mesmo num momento em que a família assistia a um filme, de bobeira. Ela não conseguia esclarecer suas dúvidas, angústias com o pai. Talvez não é nem esclarecer, mas apenas conversar sobre o assunto. E precisou que ele fosse a sua sala de aula, repito, um dos maiores médicos-especialistas do país, para que ela usasse uma amiguinha da turma, para fazer os seus questionamentos... Parabéns pela humildade desse médico.
 
O título da entrevista é: DROGA É BOM, CAMISINHA É RUIM. Impressionante. Abaixo a entrevista na íntegra:
 
David Uip
"Camisinha é ruim e droga é bom"

Para o médico, é preciso dizer a verdade antes de se reforçar que o preservativo salva vidas e que a dependência química mata. Pode ser um caminho para melhorar a prevenção da Aids
Gisele Vitória
 
Assim como tantos pais, o infectologista David Uip enfrentou dificuldades para conversar com os filhos sobre sexo, drogas e Aids. Com toda a experiência que acumulou em 34 anos de medicina, ficou roxo quando seu filho, aos 7 anos, achou uma camisinha e lhe pediu para mostrar como usava. Ciente das travas históricas entre pais e filhos nessas conversas delicadas, ele acredita no poder da família, da cumplicidade e da verdade para mudar comportamentos. Aos 57 anos, ex-diretor do Incor, Uip é um dos maiores nomes da medicina no Brasil e comanda um dos centros de referência de tratamento de Aids no País.

"A prevenção virá na hora em que tivermos vacina. O que não quer dizer que devemos desistir
do preservativo. Porque a vacina vai demorar muito”



O Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo, é modelo para a Organização Mundial da Saúde e realiza mensalmente 2,7 mil atendimentos de pronto-socorro, 6 mil de ambulatório e 500 internações. Mesmo que os mais recentes números da Aids no mundo mostrem uma redução de 17% nos casos de novos contágios da doença, o médico não vê com otimismo o trabalho de prevenção. Para ele, o coquetel mudou a história da Aids, mas a doença tem sido banalizada. E só a chegada da vacina, que ainda vai demorar, será capaz de mudar este cenário. Quando observa o aumento de casos entre meninas de 13 a 19 anos, ele permanece fiel à crença de que só o diálogo verdadeiro com a família e com a escola fará as gerações futuras mudarem o olhar para a importância do uso do preservativo como forma de evitar mais mortes pela doença.
 
"Adolescentes não usam preservativo. E questiono se uma menina de 13 anos está pronta para
ter uma vida sexual. Como ela vai negociar a prevenção?”
 
Istoé-
O recente relatório da Unaids expõe um panorama mundial mais otimista sobre a redução do número de novos casos de Aids. Mas a prevenção se mantém ineficaz. Como explica isso?
 
David Uip -
 
É uma notícia boa, mas precisa ser bem entendida. O que na verdade melhorou foi o acesso aos medicamentos. Não a prevenção. As pessoas tomam remédios, diminuem a quantidade de vírus no sangue e nas secreções, e contaminam menos. Isso fica claro na prevenção da transmissão materno-fetal. No Brasil, uma mulher grávida soropositivo que não toma o coquetel anti-Aids tem 25% de chance, em média, de passar o vírus para o filho. Com o tratamento, o risco cai para 2%. Em um trabalho que realizo em Angola mantivemos o parto normal e o aleitamento (duas situações de risco para a transmissão do HIV) e, mesmo assim, o índice de contágio de mãe para filho é menor do que 3%.
 
Istoé-
 
Os anos se passaram e a prevenção continua sendo o grande problema da disseminação da Aids.
 
David Uip -
 
O mundo não achou ainda uma saída. O uso de drogas injetáveis, ilícitas, diminuiu. Mas cresceu o de outras drogas que fazem com que o indivíduo aumente a liberalidade e se contamine por sexo. Você estabiliza uma coisa, mas desestabiliza outra. Conversando com as pessoas você nota que a doença tem sido banalizada. Ah, tem remédio, não vou morrer mais. Há pessoas que buscam o risco.
 
Istoé-
 
Por que fazem isso?
 
David Uip -
 
O que determina o comportamento é o impulso. O indivíduo para o carro, contrata uma pessoa e, sem nenhum cuidado, se relaciona. Não há aqui nenhum preconceito quanto às preferências sexuais, mas eu me refiro à proteção da pessoa e do próximo com quem ela vai se relacionar. Estou muito preocupado.
 
Istoé -
 
Não existe medo?
 
David Uip -
 
O impulso é maior que o medo. Você pode ter desejo e se prevenir. Uma outra história é quando um dos parceiros é soropositivo e o outro não. Interessa muito que essa relação se perpetue. Porque se estabelece critério de confiança. Mas vira e mexe aparece o parceiro ou a parceira contaminada, ou grávida. Ou seja, não fizeram a lição de casa. Isso é frustrante. Continuo cada vez mais descrente. Dificilmente você muda comportamento.
 
Istoé-
 
As campanhas de prevenção não são mais tão enfáticas?
 
David Uip -
 
Quando se fala de Aids hoje? Próximo a 1º de dezembro, Dia Mundial de Combate à Aids, e no Carnaval. Imaginar que as pessoas não estejam informadas é complicado. As pessoas sabem como se transmite e como se previne. O que explica a exposição? Comportamento você não muda com campanha, com informação. Você tem uma chance com a educação continuada, desde a fase pré-adolescente.
 
Istoé-
 
O sr. vê diferenças de comportamento nos adolescentes hoje?
 
David Uip -
 
Eles não usam preservativo. Aumentou o número de meninas com Aids. É uma coisa que está clara. Aos 13 anos, questiono se esta menina está pronta para ter uma vida sexual ativa. Como ela vai negociar prevenção? Na outra ponta, aos 19 anos, a jovem muitas vezes se relaciona com um cara bonito, legal e ela confia. Só que não está estampado naquele rapaz que ele tem a doença. Aí vem a gravidez indesejada, doenças sexualmente transmissíveis. Se isso acontece é porque a pessoa não está usando camisinha.
 
Istoé-
 
A velha situação de que a camisinha atrapalha o sexo ainda é frequente?
 
David Uip -
 
Entendo que isso é da minha geração, gente com mais de 50 anos. Não fomos treinados a usar preservativo. É um desafio, porque na cabeça do homem de meia-idade pode significar que ele vai falhar. Para colocar a camisinha, tem que haver ereção. Isso pode comprometer o momento.
 
Istoé-
 
Como mudar os rumos da proteção contra a Aids?
David Uip -
 
Acredito que a prevenção virá na hora em que tivermos vacina. O que não quer dizer que devemos desistir do preservativo. Porque a vacina vai demorar. Muito. A prevenção virá com a educação. Família e escola. Isso é um trabalho a quatro mãos.
 
Istoé-
 
Com a chegada da vacina algum dia, acabaria então o fantasma da camisinha que atrapalha o sexo?
 
David Uip -
 
A Adriane Galisteu, que começou uma campanha beneficente, A Cara da Vida, para ajudar pacientes com Aids, fala uma coisa com a qual concordo plenamente. Temos que começar a falar a verdade. Camisinha é ruim. Droga é bom. Não adianta negar. Adriane diz publicamente que seu irmão morreu vítima da Aids e se contaminou com uso de drogas injetáveis. (Dias antes de morrer, o irmão da apresentadora pediu a ela que nunca experimentasse drogas, porque poderia gostar). Quando ela me contou desse pedido, inseri no contexto do que eu penso. Não venha dizer que camisinha é bom porque não é. E não adianta você dizer para um usuário de drogas que droga não é bom. É bom, mas mata, tenho que avisar. Sou visceralmente contra o uso de qualquer droga ilícita. Mas a conversa com a Adriane me fez refletir muito. Porque é verdadeira.Vou dizer para o usuário que não é legal ter barato? Ele vai dizer que eu digo isso porque nunca usei. Então temos que falar a verdade. Droga é bom? É, mas vai te matar. Camisinha é bom? Não, mas, se você não usar, pode morrer. Essa é a história. Não adianta advogar prazer, fetiche numa coisa que não tem. São situações desconfortáveis, mas necessárias.
 
Istoé-
 
É importante os pais dizerem aos filhos que camisinha é ruim?
 
David Uip -
 
Eu diria: é ruim, mas tem que usar. Filho, droga pode ser bom, mas vai te matar. Talvez os filhos criem mais confiança nos pais. É um discurso mais autêntico. Outra coisa que acho importante dizer aos filhos: acredite no que estou dizendo, no ensinamento. Se você for experimentar de tudo na sua vida, vai parar aonde?
 
Istoé-
 
O sr. sustenta a opinião de que é mais difícil o homem se contaminar do que a mulher?
 
David Uip -
 
Eu e a estatística. Quando falei publicamente sobre isso, em 1991, as pessoas me desaconselharam a manter a posição. E eu mantive. Não mudei uma palavra. Naquela época, a proporção de casos de Aids era mais ou menos de 40 homens para uma mulher. Se a taxa de aumento de homens fosse paralela à de mulheres, hoje teríamos muito mais homens infectados do que mulheres. Como é que agora essa proporção está mais ou menos de um para um ou duas mulheres para um homem? Porque a possibilidade de o homem se infectar com a mulher é muito menor do que a da mulher com o homem. É óbvio. Essa história, que me trouxe enormes problemas, hoje é confirmada. Aquilo que foi visto como preconceito, homofobia, na verdade era um alerta. Eu estava falando para as mulheres: previnam-se. Não achem que pelo fato de serem casadas vocês não possam pegar Aids.
 
Istoé-
 
Como os pais podem ajudar os filhos a se prevenir?
 
David Uip -
 
Esse é outro desafio. As famílias esperam que a informação venha da escola. Percebo uma enorme dificuldade na abordagem dos assuntos sexo e drogas, mas me coloco numa posição muito confortável porque as minhas dificuldades não foram menores.
 
Istoé-
 
Que histórias tem para contar sobre isso?
 
David Uip -
 
Quando a minha filha de 29 anos tinha 15, fiz um ciclo de palestras na escola dela. Ao falar para a classe dela, o tempo inteiro ela ficou conversando com uma amiga. Fiquei irritado. Acabou a palestra e eu fui metralhado de perguntas pela amiga dela, com quem ela conversava antes. No fim, perguntei para minha filha: que tanto você conversava? Ela me respondeu que tinha coisas para me perguntar, mas pediu à amiga para fazer isso. Baixei a bola e percebi que estava falando um monte de coisas, mas que havia um problema na minha própria casa. Outra história: meu filho, que tem 18 anos, aos sete descobriu uma camisinha. E me perguntou: pai, o que é isso? Respondi desconfortável. Para que serve? Tentei explicar. E o meu filho insistiu. Mostra como usa? Aí eu fui na cozinha e peguei uma banana. E ele disse: eu não quero ver com banana. Fiquei roxo. Foi uma dificuldade que não pensei que tivesse.
 
Istoé-
 
E como se pode iniciar o assunto de uma maneira menos desconfortável e impositiva?
 
David Uip -
 
A família precisa conversar. Mas trabalhamos muito, temos pouco tempo, o que cria distanciamento. Entendo que é difícil estabelecer uma forma de abordagem. Isso vai muito da maturidade do pai e da mãe, do convívio, da cumplicidade. Essa é a palavra-chave. Primeiro tem que aprender a conversar com o filho. E, antes, tem que aprender a ouvir. O grande truque é saber ouvir o que não está falado. Isso requer um treinamento. Humildade.
 
FONTE:





quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

QUEM NÃO GOSTARIA DE ENVELHECER COMO ELE?

Singela In Memoriam de Oscar Niemeyer
A VIDA É UM SOPRO
 
Isso aos 80 e poucos anos....
“Arquitetura é para os ricos apenas.”
“Já militei muito nesse país pelo Comunismo.”
- E sobre os eventos de Arquitetura?
- O último que eu fui foi há alguns anos atrás. Eu não fui e nem vou a mais a nenhum, prefiro ficar em minha casa, em companhia de amigos. Lendo, trabalhando, conversando, bebericando...
- Por quê?
- Nesse último que eu fui, bem mal começou, com 15 minutos fui embora.
- O que aconteceu?
- Iriam me homenagear, mas não aguentei ficar por lá. Era um tal de pessoas.... Uma querendo falar mais alto que a outra. Querendo se impor de maneira agressiva sabe...?
- Mas você era o homenageado, e foi embora?
- Sim, esses professores, doutores, esses “engomadinhos”, que só vivem confortavelmente em suas cadeiras, em salas com ar-condicionado. É um querendo aparecer mais que o outro... Prefiro ficar na minha casa.
QUE SOPRO QUENTE E INTENSO...REFRESCANTE


PERPLEXIDADE E CORAGEM

Como se nasce uma narrativa: Perplexidade (ou ao contrário, Encantamento) e Coragem

 
A chamada da matéria no Folha-UOL:
Vi a covardia e a coragem brigando na minha frente”, diz testemunha de agressão homofóbica em Pinheiros
Passei no local na hora que os caras estavam começando a bater no André. Não vi as provocações verbais . Eram dois caras ‘musculosos’, sem camisa, correndo atrás de um rapaz e dando porrada sem nenhum temor. Primeiro, derrubaram o pacote que o André levava na mão e gritavam muito: ‘Viado tem que tomar porrada, vem aqui seu merdinha’. O André reagiu bem firme e enfrentou mandando tapa nos caras. Eu não consegui chegar perto deles, só gritava. Uma moça ao meu lado conseguiu ligar para a polícia, eu sai correndo atrás de algum policial que estivesse por perto. Às 18h40, os policiais chegaram e acalmaram a situação.

O André machucou a cabeça e teve ferimentos na mão. Isso tudo você já deve saber, o importante de contar é que ninguém apoiou os caras, todas as pessoas estavam horrorizadas com a enorme truculência . Chegou muita gente perto e fiquei ali, esperando ouvir algum comentário preconceituoso para meter a mão na cara (pior que é verdade, eu tive um ódio que nunca senti), mas, o melhor e mais emocionante, é que não rolou. Todos estavam indignados com a violência gratuita. É claro que só depois que a briga começou é que podemos sacar que era homofobia. Teve uma moça que gritava: ‘Isso tem que parar de acontecer, isso é preconceito’. Um frentista me disse que o policia tinha que ser firme porque ele já tinha visto isso acontecer na Henrique Schaumann muitas vezes.

Os policiais cercaram os dois caras e foram bem duros. André ficou se acalmando, alguém trouxe um banco. Todo mundo testemunhou a favor dele. Fiz questão de ficar por ali, dizendo pra todo mundo que chegava e queria saber o que aconteceu, ‘Não foi uma briga de trânsito, isso é homofobia porra!’.

Só sei que esse André é um cara admirável e eu tô muito impressionada com sua força moral. Foi muito duro, eu passei o dia inteiro lembrando da cena. Os caras são uns animais, só digo isso, aquilo não é gente não. Vi a covardia e a coragem brigando na minha frente. Viva o André!“
Fonte: http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/12/04/vi-a-covardia-e-a-coragem-brigando-na-minha-frente-diz-testemunha-de-agressao-homofobica-em-pinheiros/