quinta-feira, 19 de julho de 2012

O que fazer com a morte? Morrer...

Uma vez um professor psiquiatra disse que no hospital em que trabalhou, o pessoal o confundia com um padre. Que ele era chamado muitas vezes para situações, envolvendo a morte eminente de pessoas, e que pelo que entendi, nada mais poderia ser feito, nem mesmo para um psiquiatra.
Uma das poucas coisas interessantes, que o “sabe-tudo” Dr. Dráuzio Varella disse na minha opinião, foi com relação à morte. Ele trabalhou muito tempo com oncologia. Disse que uma das coisas que mais o impressionavam nos pacientes chamados de terminais, e que foi um grande aprendizado também para ele, era perceber na maioria das pessoas prestes a morrer, uma certa “tranquilidade” (não foi essa a palavra que ele usou), um certo “distanciamento” dessas pessoas, no olhar, diante outras pessoas, os familiares, diante a vida. E eu já vi essa característica também em algumas pessoas que visitamos em nosso cotidiano de trabalho. É como se essa pessoa já quase não fizesse parte desse mundo mais...
Quando vemos pessoas jovens, é sempre mais complicado.
Esses dias em uma conversa com minha mãe, lembrando os mortos de nossa família, ela me relatou dois episódios: a morte de seu pai, e a morte de seu tio. Ela disse que seu tio, segundos antes de seu suspiro final, viu ele segurar e apertar forte a mão de sua esposa. Aquela imagem marcou muito ela. Depois me contou sobre meu avô. Contou, já me recomendando, que se vivenciasse uma situação parecida com a dele, que nós, filhos, fizéssemos o mesmo que ela havia feito.
Ela disse que meu avó, entubado no hospital, sentia fortes dores. Que ela conseguia ver aflita, um grande sofrimento dele, através até da máscara de oxigênio, canos e etc. Depois, contou sobre como uma “santa” (ela quase sempre adjetiva assim os médicos) médica receitou para ele um remédio muito forte, para a dor. E que ele não sentiu mais nada, até seu fim... Ela relatou uma noite, em que estava dormindo no quarto com meu avó, e que ele começou a sentir muitas dores, e ficar agitado. Disse que foi atrás da enfermeira, e pediu que a mesma lhe aplicasse o remédio que a doutora havia receitado. Contou que no primeiro momento, a enfermeira relutou, dizendo que era um remédio muito forte, que encurtava a vida das pessoas, e portanto, era complicado sua administração. Mas mediante a afirmativa de uma outra colega, dizendo que a médica havia mesmo receitado o medicamento, a enfermeira aplicou, e meu avó dormiu.
Depois, eu e minha mãe ficamos discutindo sobre qual seria a melhor forma de partir... Ela disse que não gostaria de sentir dor alguma, como acontecera com meu avô. Disse que se ficasse naquela situação, que até encontrássemos a médica, para que ela lhe cuidasse.
Eu fui contra. Disse que é claro que ninguém mesmo quer sentir dor, porém, a pessoa com aquele tipo de medicação forte, também não vê nada o que está acontecendo, ou do que lhe resta ainda para acontecer. E que isso era muito complicado, pois a pessoa, pode fazer coisas, como por exemplo, apertar a mão da esposa, antes de partir. Coisa que não faria se estivesse sedado. E outra, o que seria a dor, nos momentos finais?
Enfim, esses dias, em conversa com colegas, chegamos a conclusão, que o ideal mesmo, era que a pessoa pudesse ter essa escolha, de ser sedado, ou não. Mas existem casos em que não podemos obter essa resposta da pessoa.