terça-feira, 28 de agosto de 2012

Aluna vira alvo ao expor escola em rede social


(Reprodução da notícia, onde uma corajosa menina narradora, expõe aspectos da realidade educacional brasileira. Parabéns Isadora!!! Nota 1000)

Porta sem maçaneta, fios desencapados, carteiras quebradas e ventiladores que dão choque. Isadora Faber,...
 
Porta sem maçaneta, fios desencapados, carteiras quebradas e ventiladores que dão choque. Isadora Faber, de 13 anos, não imaginava que a ideia de postar as fotos de sua escola na internet causaria tamanha repercussão.

"Eu sempre reclamei, mas nunca adiantou. Pensei que publicar poderia fazer com que a prefeitura se sensibilizasse. Mas não tinha noção do que estava por vir", diz a aluna da 7.ª série, de voz tímida e dedos muito afiados.

Em pouco mais de um mês, a página Diário de Classe, que Isadora criou no Facebook, recebeu até ontem quase 30 mil "curtir" e cada uma das publicações tem dezenas de comentários elogiosos à guria que não teve medo de mostrar a situação da Escola Básica Municipal Maria Tomázia Coelho, em Florianópolis.

Mas o apoio é de desconhecidos. Dentro da escola onde ela estuda há mais de sete anos, desde o início do ensino fundamental, a iniciativa tem sido duramente criticada. Muitos amigos se afastaram e os professores consideram um absurdo. Talvez por eles também serem vítimas.

Ao lado da foto do vidro quebrado da fachada do prédio, está o vídeo que mostra a desordem na aula de matemática. Também há comentários sobre o fraco desempenho dos professores auxiliares. "Quando temos aulas com auxiliares, elas dão um texto e uma pergunta e é sempre isso, acho que o tempo poderia ser melhor aproveitado", publicou.

Com mensagens tão diretas, não dava para esperar que os professores apenas ignorassem a página. A reação já começou. Num comentário, uma das professoras perguntou onde estava a menina meiga que visitava muito a biblioteca e pediu que aluna deixasse de trilhar caminhos obscuros ou teria um futuro triste.

Numa publicação de sexta-feira passada, Isadora conta que a professora de português decidiu falar sobre política e internet e ensinou que "ninguém podia falar da vida dos professores". Ontem, segundo Isadora, a professora pediu desculpas depois que seu pai procurou a direção da escola. Mas não dá para esperar que as coisas se acalmem. Quem mexe com todo mundo tem de aguentar as consequências, teria sinalizado a diretora da escola, depois que a menina não cedeu aos apelos de tirar a página do ar.

Retaguarda

Apoio em casa não tem faltado. "Ela levantou uma bandeira muito forte, a da educação, e isso nunca pode ser podado", diz a mãe, Mel Faber.

Assim que a página foi criada, Mel foi convocada à escola e avisada: era melhor tirar essa ideia da cabeça da menina antes que ela começasse a sofrer ameaças ou até fosse presa. "Fui taxativa no meu não. Minha filha quer é o que é dela por direito."

Agora, com a fama repentina, o apoio vem mesclado a conselhos: "Eu digo que, agora que ela se tornou uma pessoa pública, tudo o que escreve é uma responsabilidade para a vida toda", conta a mãe.

Isadora sabe disso e diz que a repercussão não a fez abrir mão de sua principal meta: "Mostrar a verdade sobre as escolas públicas". Tanto que já abriu sua página a participações externas: alunos de outras instituições estão convidados a enviar fotos dos problemas de infraestrutura.

Na escola de Isadora, apesar da polêmica, as coisas melhoraram: algumas fechaduras e uma porta foram trocadas e os fios que davam choque foram consertados.

A assessoria de imprensa da Secretaria Municipal de Educação de Florianópolis disse que dará seu posicionamento apenas após uma reunião agendada para hoje com a secretária de Educação e a diretora da escola. O objetivo é checar o que procede e o que não procede nas postagens.

Atualizado: 28/08/2012 03:02 | Por OCIMARA BALMANT, estadao.com.br
Fonte: http://estadao.br.msn.com/ciencia/aluna-vira-alvo-ao-expor-escola-em-rede-social

PSICOLOGIA: 50 anos de profissão...ou 50 anos de procissão?


 
 
(Esse e-mail foi enviado ontem por mim, a um grande professor. Ele proferiu uma palestra, mas não tive oportunidade de fazer dois quetionamentos, pois não ocorreu aquele momento de perguntas e respostas no final. Assim, enviei por e-mail. O professor prontamente respondeu. Fiquei muito feliz por sua atenção. E minha mãe também.)


Caro Professor,

Assisti hoje atentamente a sua palestra-magna, em comemoração aos 50 anos de Profissão da Psicologia. Infelizmente ao meu ver foi muito rápida. E me surgiram dois questionamentos. Porém, não foi aberto o espaço para as perguntas no final de sua fala. Momentos esses, únicos, pois é o espaço que geralmente sobre para um profissional psicólogo, e que está constantemente tentando realizar um trabalho digno, com muitos questionamentos. Assim, tomei a liberdade de fazê-los por e-mail.
Antes de qualquer coisa, quero dizer que para mim foi uma feliz coincidência ver o senhor, como palestrante. É que há tempos atrás, minha mãe assistiu a uma palestra sua, proferida em Ponta Porã, sobre, eu acho, a qualidade de vida na aposentadoria. Ela me falou sobre o senhor muito encantada. Disse que foi até cumprimentá-lo, dizendo que tinha um filho psicólogo e coisa e tal... Coisa de mãe... Fiquei muito curioso.
Também, disse que o senhor era de Campo Grande, e que pesquisava sobre a temática do trabalho, sendo professor da UNB. Eu atuo especificamente na área da saúde aqui, mas a área que mais me identifiquei até hoje foi a do trabalho. Na minha concepção, não existe relação com maior franqueza no campo profissional, que a de dois trabalhadores. Reparo e tento aprender com os pesquisadores dessa área, como seu colega Wanderley Codo, o Dejours, Fadel, e outros da Psicologia do Trabalho, e vejo muita sinceridade não apenas em seus escritos, mas principalmente numa certa postura. E agora conheci o senhor. E quero aprender bastante com o seu livro.
Enfim, os meus questionamentos são:
1 – É que o senhor, tentando traçar o perfil do psicólogo brasileiro atual, se entendi bem, tem como um dos aspectos, a satisfação mediante seu trabalho, relacionado a seu engajamento social. O profissional então estaria satisfeito com o produto do seu trabalho, digamos assim. E esse produto em minha opinião, relaciona-se com a transformação da sociedade. Mas eu me pergunto como professor. Uma vez que há tempos, vivemos em uma das sociedades mais iníquas existentes no mundo?
Eu tenho um comentário sobre o perfil do psicólogo. Uma vez, assistindo a uma palestra do professor Marcus Vinícius, ele abordou alguns aspectos do perfil do psicólogo também. E um dos aspectos que apresentou, senão me engano, foi referente à classe social dos profissionais: Classe média. Outro aspecto: maioria de mulheres. Outro: “quase casadas”. E a partir apenas desses três aspectos, teceu algumas considerações interessantes, como o questionamento: que tipo de “choque”, digamos, essas profissionais, de classe média, teriam, quando depois de formadas, sendo abarcadas por políticas públicas como a dos CRAS, para trabalharem nas periferias, enfrentando problemas de uma complexidade enorme? Como pobreza, misérias, violências, drogas, etc..etc..etc..? Sei que aqui também poderia caber uma discussão forte sobre a formação do psicólogo. Da distância que existe sobre o que é aprendido (ou vendido) na academia, pelas faculdades, e as práticas que os profissionais almejam, e/ou devem exercer no dia-a-dia.
Então quando se fala em satisfação na percepção do profissional de seu trabalho, de seu engajamento social, seria uma “alienação”?
Na minha realidade professor, o que eu vejo, são muitos profissionais engajados sim, mas principalmente angustiados, mediante as condições de trabalho, a baixa valorização, e principalmente a complexidade, como disse anteriormente, dos problemas que nós profissionais estamos enfrentando cotidianamente.
2 – O segundo questionamento, refere-se a: Qual é a importância do profissional psicólogo, aquele da prática, da “ponta” na Psicologia Brasileira?
Participando desse evento professor, me veio o trocadilho, que ao invés de estarmos comemorando os 50 anos de” profissão”, não estaríamos comemorando os 50 anos de “procissão”...
Sabe professor, em muito me entristece, quando em um evento como esse que participo, quando se compõe a mesa com as autoridades, não se vê nenhum trabalhador da Psicologia... Nem mesmo nosso sindicato, teve sequer um nome citado. Homenagearam-se professoras de Psicologia, coordenadoras de cursos de Psicologia, estudantes das primeiras turmas de Psicologia, mas não ouvi nenhuma ao trabalhador da Psicologia. Sei que o senhor deve entender muito bem a importância que é um sindicato.
Nossa profissão está passando por muitas metamorfoses, como o próprio campo do trabalho, como o senhor bem associou, e trouxe o interessantíssimo conceito sobre a questão da “flexibilização” (do galho que entorta e vai para lá, e para cá...), quero aprender muito mais sobre isso. É uma das minhas principais “pulgas” atrás da orelha, quando em saúde me deparo com os conceitos de “Campo e Núcleo” , de “Clínica Ampliada” do professor Gastão Wagner, ou com o de “transdiciplinariedade”, ou o de “Tecnologias Leves”, do professor Emerson Merry. Ainda não compreendo o que é essa “flexibilidade”... E porque não dizer da própria “flexibilização” da Psicologia, com sua famosa diversidade.
Também professor, sabemos que nossa profissão nasceu, mediante um contexto infeliz, a ponto de até condecorarmos um presidente da república militar/ditador, com o título de doutor honoris-causa em Psicologia. São muitos os espaços que a Psicologia vem conquistando. Mas como foi ressaltado no evento, que não é apenas o espaço, mas principalmente as lutas, as bandeiras, que nós profissionais estamos levantando diariamente, é que determinarão o caminho que a Psicologia está rumando....
Enfim professor, sou apenas mais um profissional, e porque não dizer batalhador, como no “Os batalhadores brasileiros: nova classe média ou nova classe média trabalhadora?” do professor Jesse de Souza. Que trabalha mais de 10 horas por dia, tentando associar suas coisas domésticas, lendo e estudando um pouco a noite. E termina de escrever um e-mail a 02:00 horas da madrugada com alguns questionamentos na cabeça.
Obrigado pela atenção.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Médico Político

Esse é um tema que muito me faz pensar. Abaixo, uma "pérola" que foi distribuída o ano passado, enquanto estávamos realizando uma ação, em uma lanchanete famosa na periferia da cidade. Foi coincidência estarmos no mesmo lugar e momento, que as pessoas que distribuíam esses panfletos. Guardei um para mim.
Dá mais algumas "pistas" dessa associação tão presente por essas bandas, da política e a saúde. O médico/vereador em questão (na época presidente da câmara), tem até um programa na TV sobre "saúde da família" e é candidato novamente a reeleição esse ano.

Eleições - "Começou a baixaria..."

Sobre a política em Campo Grande, o senador Delcídio do Amaral alerta que: “já começou a baixaria em Campo Grande”...

CFP lamenta morte de criança em conflito de jagunços e indígenas Kaiowá-guarani no MS e repudia omissão do governo


(Por que será que essa notícia não teve repercussão por essas bandas? Louvo aqui o firme posicionamento que o CFP vem tendo, mediante essa questão dos índios, como entre outras, provocando tensões. Parece que essa situação a cada dia que se passa, se torna mais grave, hedionda. Abaixo, reprodução da notícia.)


A Comissão Nacional de Direitos Humanos do Conselho Federal de Psicologia acompanha, com grande perplexidade, expectativa e dor, a situação dos índios guarani-kaiowá, que lutam pela ocupação de suas terras no município de Paranhos, a 477 km de Campo Grande (MS).
Segundo informações obtidas até agora pela CNDH, um confronto armado ocorrido na madrugada da última sexta-feira (10), na área conhecida como Arroio Coral, resultou na morte de uma criança de apenas nove meses de idade. Ainda não foi divulgado o resultado do laudo oficial sobre a causa da morte que vai esclarecer se a criança morreu devido a uma queda ou se atingida por arma de fogo.
Além disso, de acordo com testemunhas, um índio de aproximadamente 50 anos, está desaparecido desde então. A tensão é grande na região e, os índios reclamam da falta de segurança na área e afirmam que o medo de novo ataque é constante.
Essa situação de insegurança e medo é recorrente na região o que indica o quanto é preocupante a omissão do poder público em relação a estes conflitos que provocam danos à saúde e à vida dos índios, principalmente das crianças indígenas.
Com o objetivo de produzir relatórios e vídeos que documentem a situação de vulnerabilidade, conflitos, mortes e perseguição desse grupo de habitantes, o Conselho Federal de Psicologia esteve presente, por meio de sua Comissão Nacional de Direitos Humanos, em janeiro último, à missão de Direitos Humanos ao grupo Kaiowá-Guarani, da família Tupi Guarani, localizados no MS, entre os rios Ápa e Dourados.
De acordo com Pedro Paulo Bicalho, integrante da missão e coordenador da Comissão de Direitos Humanos do CFP que durante 12 dias interagiu com os Kaiowá-Guarani, a pressão psicológica é uma constante na vida desses indígenas. Também constatou que estes indígenas continuam expostos a atos de violência de grupos armados e de omissão do Estado para práticas de extermínio. Tais práticas criminosas englobam pelo menos 14 crimes, como homicídio, violação da dignidade da pessoa humana, suicídio simulado, ocultação de cadáver, estupro, infanticídio, entre outros. Além disso, ressaltou a desnutrição que as comunidades vivem todos os dias por falta de alimentação. Chama atenção também, na região, a presença dos chamados “jagunços”, forças de segurança privadas das fazendas, que têm inclusive autorização para porte de armas.
A Comissão de Direitos Humanos do CFP entende que o Estado brasileiro possui uma grande dívida com aquele povo, que possui mais de 100 (cem) territórios tradicionais ou “tekoha” invadidos por fazendeiros, latifundiários, grileiros, criadores de gado ou empresários do agro-negócio. Muitas comunidades vivem na beira de estradas, expostas a toda sorte de violências, da falta de terra para plantar aos atropelamentos e agressões físicas, frutos do preconceito que a sociedade local ainda possui contra os povos indígenas. Vale lembrar que só no ano de 2007, de 22 assassinatos de índios no Brasil, 18 foram no Mato Grosso do Sul.
Na raiz de tudo isso está a omissão do Estado brasileiro, dos governos federal e estadual, em implementar com a urgência necessária a demarcação de todos os territórios indígenas no Mato Grosso do Sul e encaminhar a construção de políticas indigenistas, em saúde, educação, produção agrícola e auto-sustentação, condizentes com as diferentes culturas e com participação plena das comunidades indígenas.
Enquanto estes processos, urgentes e inadiáveis, não forem implementados, a sociedade brasileira e a comunidade internacional continuarão a assistir estarrecidas à dramática situação vivida pela comunidade indígena naquele estado, cujo indicador mais terrível tem sido o crescente número de mortes de crianças e jovens indígenas do povo Kaiowá-Guarani.

17/08/2012 - 16:36, atualizado em 20/08/2012 - 18:01
FONTE:http://site.cfp.org.br/cfp-lamenta-morte-de-crianca-em-conflito-de-jaguncos-e-indigenas-kaiowa-guarani-no-ms-e-repudia-omissao-do-governo/

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Eleições - Dr. MADEIRA

Um final de semana atípico o ano passado, aconteceu por essas bandas. Culturalmente pelo menos, digo. No mesmo único final de semana (sábado), a cidade “acumulou” apresentações musicais e de entretenimento. Que eu me lembre, aconteceram shows: do Ney Mato Grosso (caríssimo), do Benegão e os Seletores de Frequência (free – na faixa – grátis – na praça – eu fui), do Matanza (caro), e por último, do Criolo Doido (caro - eu fui – e me arrependi). A... (ia me esquecendo) teve até show também das “Divãs do pornô” por aqui nesse dia: a Julia Paes (não fui, mas deu vontade) e da veterana Rita Cadillac (não fui, e acho que meu pai ficaria mais feliz em um show dela). Quanta coisa!
No show na praça, o sussegado Benegão, com muita responsabilidade, mandou seu ótimo som, apesar de alguns equipamentos não funcionarem, e apesar da chuva que deu no final. Foi um evento legal. Mas eu estou contando essa história, porque além da “sonzera” toda, uma outra coisa me chamou muito a atenção. Foi um grafite em uma tela, que estava exposto logo abaixo do palco, onde os artistas estavam se apresentando. Era um evento tentando promover a “cultura da rua”, digamos. Achei muito interessante e compartilho aqui uma foto que fiz dela, pelo meu celular. Infelizmente, não soube o nome do artista para dar os créditos aqui. Mas o parabenizo, por sua criatividade, e provocação, mediante o quadro político que se configura por aqui.

O preço da coragem (2007) – FILME

O que faz uma pessoa nascer nos EUA, morar em Los Angeles, estudar nas mais conceituadas universidades, trabalhar para um dos mais importantes jornais do mundo, ter família, amigos, etc., (como qualquer outra pessoa, pelo menos nesses últimos aspectos), e mesmo assim, se “enfiar” com sua bela esposa, numa das zonas de conflitos mais perigosas do mundo: a Caxemira, onde a Índia e o Paquistão se digladiam? Uma região pobre, miserável, e um dos principais abrigos para pessoas chamadas de “terroristas”?
Filmes assim muito me fascinam e inquietam. E levanto algumas questões que passam por minha cabeça. Seria a fama? Um jornalista arriscaria a vida, como por exemplo, Tim Lopes, no meio dos traficantes, para ter fama? Lógico que no caso dele não, pois a grande maioria das pessoas como eu, não o conheciam. Ele foi um repórter investigativo, então, nunca divulgava sua identidade. Seria o dinheiro? Mas o cara do filme já tinha uma vida “sossegada” pelo que me pareceu. Nascido nos EUA, inteligente, jornalista...
O filme “O preço da coragem” fala de uma história real, do jornalista Daniel Pearl, que morreu em 2007, sequestrado e depois decapitado no Paquistão. Mostra os dias que se sucederam, depois de seu sequestro, até o seu final fatídico. O filme foi baseado no livro da esposa de Daniel, Mariane Pearl, também jornalista, grávida de 06 meses, que o escreveu, como uma forma de falar um pouco ao filho, quem teria sido o seu pai. O papel dela foi interpretado por Angelina Jolie, com belos encaracolados cabelos pretos, caracterizando sua personagem, francesa, de origem cubana.
Daniel era o chefe da sucursal asiática, do The Wall Street Journal. Estava fazendo uma matéria sobre um suposto homem bomba. Saiu para o trabalho, dizendo a esposa que talvez chegasse atrasado para o jantar, e não mais voltou. O filme fala sobre questões atuais e nem tão atuais assim. Atuais: terrorismo, 11 de setembro, homem bomba, Guantánamo, jornalismo global. Nem tão atuais: miséria, miséria humana, conflitos religiosos, direitos humanos, dignidade, espionagem, diplomacia, diferenças e principalmente: coragem. Uma frase que a esposa disse, que me recordo, apelando para a TV, no decorrer do sequestro (pois existia um boato, de que Daniel seria um espião americano) muito forte: “onde existir miséria, existirá o terror”.
O mensagem que me passou o filme foi esse grande, descolamento que pode uma pessoa, fazer de sua “zona de conforto”. Sua coragem em ir para um lugar desses do mundo (falando assim, até parece que eu vivo na Europa...), para narrar fatos para um outro mundo, relacionados a coisas “obscuras”, como disputas petrolíferas, intolerância religiosa, genocídios, escravidão, ditaduras, tráfico de armas, política, entre outras, que estão acontecendo por aí (sem excluir nosso país). Quer dizer, existe muita “coisa errada” nesse mundo. Ele poderia sentar sua bunda em um escritório, cuidar de sua aposentadoria, e viver a vida tentando gozar o máximo possível. Optou por tentar fazer a diferença, e trabalhar por um sentido maior, acreditando que essa realidade ora pode ser muito cruel, e que podemos fazer alguma coisa. Como jornalista, foi trabalhar. Morreu.
Lembrei-me de um outro filme verídico, em que contava a história de um fotógrafo americano, senão me engano, que trabalhando fotografando as atrocidades de uma guerra recente no leste europeu, foi morto. Recentemente também, uma fotógrafa morreu, nesses conflitos que estão acontecendo no Oriente Médio...
Enfim, o filme mostra como existe “o mau no mundo” (que mata – que explora – que faz sofrer) em seu sentido amplo, abstrato, difuso, mas real. E como existe ainda pessoas que dão até a própria vida, para que alguma coisa melhore.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

"Povo inteligente. Povo Bonito." - Sérgio Vaz

Em fevereiro desse ano, fui a Brasília. Fui tentar buscar uma oportunidade de estudar. Por lá, andando de ônibus, uma cena me chamou muito atenção, até tirei uma foto com meu celular, tamanha minha surpresa. Em quase toda parada (digo no Plano Piloto), havia uma estante com livros. Na hora, essa cena me fez lembrar daquela "prática" chamada BookCrossing. Que é a pessoa pegar um tal livro, e deixá-lo em um local público, como em praças, parques, paradas, etc., com um aviso, pedindo para que a pessoa, se tiver interesse, que o levasse consigo, e depois de lê-lo, deixasse também no mesmo espaço ou em outro, para que outra pessoa possa fazer o mesmo que ele, e assim por diante. (Eu mesmo, nunca fiz isso, pois tenho um certo apego aos meus livros, mas vou fazer a partir de agora. E conheço pessoas também, que para emprestar um livro para um conhecido, é uma dureza...)
Mas em Brasília, fiquei muito impressionado, como disse, devido ver a quantidade de livros, das mais variadas qualidades (vi títulos muito interessantes), ali a disposição de qualquer um, de todos, e a estrutura em que estavam eles (eram estantes de ferro que ficavam fixas nas paradas, no cantinho geralmente).
Isso foi em fevereiro. E eu fiquei pensando nesse incrível iniciativa, que o governo do DF, havia tido.
Semanas depois, assistindo um programa a noite na TV Brasil, o: 3 a 1, surpreendentemente para mim, o entrevistado era o idealizador daquela iniciativa (caindo por terra minha impressão de que era o governo. “Santa ingenuidade” né?). O apresentador o apresentou como um “agitador cultural de Brasília”. E ele falou sobre alguns trechos de sua bonita história de vida. Imigrante nordestino, chegou em Brasília de “pau –de – arara”. Aos 15 anos aprendeu a ler, e aos 18 leu seu primeiro livro. Ressaltou que gosta de ler os clássicos, como Platão e Aristóteles. Numa frase linda que disse, citou Aristóteles: “o homem somente é realmente livre, quando percebe que não é maior, nem menor, do que nenhum outro homem.” E em vários outros momentos da entrevista, cita outros trechos com força, parecendo incorporadamente.
E a história ainda fica melhor. Há algum tempo, ele com muita “ralação”, comprou um açougue. Isso mesmo, ele é açougueiro de profissão até hoje também. E em seu estabelecimento, de carnes, começou também a oferecer livros para os seus clientes, e não apenas proteínas. Pelo que eu entendi, os livros ficavam dentro no açougue, e no próximo momento, ele os colocou na frente do açougue. Depois, os livros foram parar no ponto de ônibus, que fica próximo. E agora, 10 anos depois, a Unesco divulga mundialmente essa experiência, muito bem sucedida, relacionada a cultura e a educação de uma sociedade, para uma cidade. Parece que a partir desse “estopim”, surgiram outros projetos. Como um outro, em que em um dia do meio do ano, eles (com o pessoal dele) promovem um momento de “arte na rua”, onde entre outras atividades, um artista da música de renome nacional faz um show, em uma quadra comercial, na rua, no Centro do DF. Disse que mais de 20 mil pessoas participaram do último evento (já incluso no calendário anual cultural oficial de Brasília).
Voltando aos livros nos pontos de ônibus, ele disse que existem relatos de pessoas que passaram no vestibular, com a ajuda dos livros emprestados da “Biblioteca Popular de Cultura” (acho que esse é o nome do projeto) para se ter uma ideia. E ainda, que vê cada vez mais as pessoas cuidando daqueles livros, do seu manuseio, na entrega deles, dos locais onde ficam... Contou até o relato de uma amiga sua, que surpreendida por um mendigo na calçada de um bar, oferecendo uma pilha de livros, depois de comprá-los, por qualquer “mereca”, viu o carimbo do Açougue. Foi lá, e os deixou novamente em uma parada.
Nas palavras de uma amigo, depois de relatar a ele essa história: “coisas assim transformam o mundo”.

Na única foto que tirei (essa foi uma das últimas paradas que havia passado, e em outras, havia muito mais livros, e não estavam nesse estado de "desarrumação"....), reparei que o nome do açougue estava em uma folha colada na estante (Açougue CulturalT-Bone). Mas quando a tirei, nem reparei, achei que era propaganda... Ele se chama Luiz Amorim.
Lembrando disso tudo, eu me recordei de uma matéria que há muitos anos atrás assisti, de uma iniciativa ocorrida no Nordeste, onde burros, carregavam balaios de livros em seus lombos, de uma cidadezinha à outra. Passavam em uma cidade, recebiam cuidados de seus moradores, que depois de “beberem” dos livros que eles traziam e/ou levavam, e eles (os burros) também materem sua sede e se alimentarem, rumavam os mesmos na estrada para a próxima cidade. Uma foto também dessa outra magnífica ideia.


quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Faça o que eu falo, não faça o que eu faço.

Há tempos venho querendo escrever sobre uma coisa que ainda lateja na minha cabeça, apesar do tempo. Mais de dois anos.
O que me fez escrever foi um artigo que li na folha, do interessante, e “na moda” - Luiz Felipe Pondé. Esse Pondé, que ainda não li nenhum de seus livros, está a todo o momento na mídia, como na Globo e Veja. É um filósofo que vem dando entrevistas. Ele fala sobre os “jantares intelectuais”, onde as pessoas não conseguem digerir o ensopado que são suas próprias vidas. Vi ele também no Roda Viva. Ele faz uma crítica forte, contundente e criativa, desse esquerdismo existente em nosso país. Acho isso muito bom. Ele escreveu sobre suas percepções na Rio +20. Em um trecho, comenta sobre a hipocrisia, dos intelectuais “verdes”, que pregam ideais como a solidariedade, a fraternidade, porém, contraditoriamente, fazem parte de violentos e desonestos ambientes de trabalho. E eu fico imaginando outra questão também: esses ambientalistas, com certeza, fazem umas 20 viagens por mês, sempre participando de conferências (achando que são imprescindíveis sempre), palestras, etc e tal. Será que não sabem quanto é nocivo para o ambiente, o combustível usado em aviões? Que lógica é essa? Enfim...
Ele me fez lembrar a palestra que assisti do Gastão Wagner, uma das mais importantes da minha vida...
Gastão é um médico, sanitarista, da saúde coletiva se preferir, que influenciou com suas ideias, a maneira como a saúde pública vem sendo implantada atualmente. Em suas palavras, muito me impressionou, não apenas o seu conhecimento, mas principalmente, a forma como deu “tapas com luvas de pelica” na cara das pessoas que se faziam presentes no recinto (hábito de pessoas muito inteligentes). Entre os presentes, alguns secretários de saúde e outros gestores. Ele abordou os temas centrais, discutidos em saúde atualmente.
Um de seus comentários “mexeu” na relação dos gestores ( na maioria de médicos mesmo - só a título de esclarecimento) com a classe médica. Levantou um ponto, relacionado as reformas na saúde mediante as atribuições dos gestores (o tema da palestra era “co-gestão, ou gestão compartilhada”): é a política do “doa a quem doer”. E sabemos que a classe médica, é uma, que ninguém gosta de provocar. Argumentou, falando de uma grande quantidade de médicos estrangeiros (africanos, asiáticos) existentes na Atenção Primária da Inglaterra. Que quando começaram as reformas por lá, os médicos ingleses “torceram o nariz”, e partiram para outros países, abrindo vagas para médicos de outras nacionalidades. Ou seja, reformas geram conflitos, e tensões, e é necessário compromisso administrativo para executá-las, como estão no papel. E o que vemos, é que existe uma “flexibilidade” (para não dizer outras coisas) com a classe médica...
Mas o mais interessante mesmo, foi quando falou sobre seus colegas de trabalho, que trabalham no Departamento de Medicina da Unicamp. Criticou seus próprios pares (e isso é quase inédito), questionando: que tipo de “compromisso com a saúde” tinham, colocando professores substitutos em seus lugares em sala de aula por exemplo, enquanto percorriam o mundo, dando consultorias, enriquecendo...
Esse tipo de comentário, de crítica, autocrítica, me impressiona muito. No caso acima, como essas pessoas vão a determinados lugares, falarem de Humanização, de Controle Social, Determinantes Sociais em Saúde, tendo um estilo tão ganancioso e agressivo de vida? Soa como um disparate. Fora o compromisso com a formação dos alunos.... etc.
É sempre complicado vivermos esse equilíbrio, entre o que eu falo com o que eu faço... E do que adianta as questões “macro”, sendo que o meu “micro” é contraditório. Interessante aquela famosa frase de Gandhi: “devemos ser a mudança que queremos ver no mundo”.