quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

O FILHO QUE EU QUERO TER


 
O Filho Que Eu Quero Ter


É comum a gente sonhar, eu sei
Quando vem o entardecer
Pois eu também dei de sonhar
Um sonho lindo de morrer.

Vejo um berço e nele eu me debruçar
Com o pranto a me correr.
E assim chorando acalentar
O filho que eu quero ter.

Dorme meu pequenininho,
Dorme que a noite já vem.
Teu pai está muito sozinho
De tanto amor que ele tem.

De repente o vejo se transformar
Num menino igual a mim
Que vem correndo me beijar,
Quando eu chegar lá de onde vim.

Um menino sempre a me perguntar
Um porquê que não tem fim.
Um filho a quem só queira bem
E a quem só diga que sim.

Dorme menino levado,
Dorme que a vida já vem.
Teu pai está muito cansado
De tanta dor que ele tem.

Quando a vida enfim me quiser levar
Pelo tanto que me deu
Sentir-lhe a barba me roçar
No derradeiro beijo seu.

E ao sentir também sua mão vedar
Meu olhar dos olhos seus
Ouvir-lhe a voz e me embalar
Num acalanto de adeus...

Dorme meu pai, sem cuidado.
Dorme que ao entardecer
Teu filho sonha acordado
Com o filho que ele quer ter...

VENDAS DE VAGAS DE MEDICINA ATÉ DA USP! 16 ANOS DEPOIS..


Alguém se lembra desse caso? Alguém sabe o que aconteceu? Alguém foi punido? Algum diploma casado?

Olhem a desculpa que a repórter deu:

“Quero passar para medicina sem estudar muito porque não tenho nem tempo. Trabalho com meu pai em São Paulo e sei que sem estudar é difícil.”

E olha a desculpa que a mulher que vendia as vagas deu:

“— Faço isso para ajudar as famílias dos alunos. Tem certos casos em que o aluno estuda, estuda um ano ou dois, e não consegue passar de jeito nenhum. A vida dele pára e até problemas psíquicos começam a aparecer. A família começa a viver em função daquele problema — disse ela durante a conversa.”

Abaixo, a notícia na íntegra:

Publicado em: O Globo (O País) em 25 de Agosto de 1996

Quadrilha vende vagas em faculdades paulistas

Por Rodrigo França Taves

Aprovação garantida custa de R$ 25 mil a R$ 45 mil. Esquema é tão seguro que o pagamento chega a ser facilitado.

BRASÍLIA - O vestibular de São Paulo está comprometido, antes mesmo de abertas as inscrições. Uma quadrilha com ramificações em várias cidades está vendendo, de R$ 25 mil a R$ 45 mil, vagas em faculdades de medicina e odontologia em São Paulo, São José do Rio Preto, Botucatu, Catanduva, Marília, Araçatuba e Araraquara.

A fraude envolve o mais importante concurso do estado. Dez vagas na faculdade de medicina da Santa Casa de Misericórdia já estão vendidas desde junho. Os alunos da Santa Casa são escolhidos através do Fuvest, assim como os da USP e da Universidade de Campinas (Unicamp).

Para comprovar a fraude, sobre a qual a Delegacia do Ministério da Educação em São Paulo já tinha recebido informações, o GLOBO conseguiu gravar em fita cassete duas conversas do repórter, que dizia estar interessado numa vaga em faculdade de medicina, com a dona de um curso pré-vestibular de São José do Rio Preto que se apresentou como intermediária.

O esquema não envolve escuta eletrônica, cópia de gabarito ou troca de provas, como nas fraudes tradicionais. A quadrilha tem acesso ao sistema de digitação dos gabaritos e, portanto, à organização dos vestibulares.

O aluno interessado precisa apenas pagar uma entrada de 40%, dar uma xerox com o número da inscrição e fazer a prova normalmente. Na conversa, a professora Fátima Souza, dona do Reforço Escolar 137, ofereceu 100% de garantia de aprovação. O aluno interessado seria procurado depois do concurso em seu escritório por outro integrante da quadrilha encarregado de cobrar a segunda parcela do negócio. Até seu endereço seria descoberto pelos documentos de inscrição no vestibular, aos quais eles têm acesso.

Os preços do esquema variam de acordo com a instituição: uma vaga na faculdade de medicina da Universidade do Estado de São Paulo (Unesp) em São José do Rio Preto custa R$ 25 mil. A professora disse que poderá vender este ano dez das 64 vagas da faculdade, das quais seis já estariam pagas e duas em negociação.

O vestibular é o Vunesp. Na tabela da corrupção, a quadrilha cobra o mesmo preço para ingresso sem esforço na Universidade de Marília (Unimar) e na Faculdade de Medicina de Catanduva, que fazem vestibulares isolados.

Já na Unesp de Botucatu, onde os alunos também ingressam pelo Vunesp, as vagas custam R$ 20 mil antes da inscrição e R$ 25 mil depois dos resultados — o mesmo preço da Santa Casa. Por ser realizado em duas fases, o Fuvest é mais trabalhoso também para os fraudadores.

A professora disse que o esquema funciona há pelo menos oito anos sem falha. Os integrantes da quadrilha responsáveis pela fraude num dos vestibulares não conhecem os do outro, para dificultar a ação da polícia.

— Já é o quarto ano que intermedio. É um esquema absolutamente garantido, tanto que recebemos a maior parte do valor depois que o aluno já está aprovado. É uma troca de confiança: o aluno confia na gente agora e nós corremos o risco de não receber a segunda parte depois que ele já estiver aprovado — disse.

Para a delegada do MEC em São Paulo, Gilda Portugal, não resta dúvida de que a comprovação da fraude "põe sob suspeita o vestibular de São Paulo":

Trechos da conversa com Fátima, integrante da quadrilha

 'VOCÊ SÓ TEM QUE FAZER A PROVA'

 O GLOBO: Quero passar para medicina sem estudar muito porque não tenho nem tempo. Trabalho com meu pai em São Paulo e sei que sem estudar é difícil.

FÁTIMA: Você quer fazer aqui? Porque pode ser até em São Paulo...

O GLOBO: Aqui.

FÁTIMA: Bom, o negócio é assim: feito o contato, você vai fazer sua inscrição normal. Depois você me entrega uma xerox da inscrição porque o trabalho é feito todo com o número de inscrição, e é feito o contato todo com você no seu escritório. Então não tem gabarito, não tem nada, nada, nada, não tem passagem eletrônica; isto tudo é arriscado. Você só tem que fazer a prova, tá? A forma de pagamento é feita da seguinte forma: quando a pessoa é conhecida fica mais fácil, porque sabe com quem está lidando...

O GLOBO: Essa questão de dinheiro não tem problema...

FÁTIMA: Primeira coisa: você paga agora dez e o resto depois da sua matrícula. O negócio é de tanta garantia que pode ser feito assim.

O GLOBO: E se eu quiser fazer em outra cidade?

FÁTIMA: Nas outras cidades que nós temos é particular. Aqui é estadual, a faculdade foi estadualizada pela Unesp. Então não tem problema, porque você não vai pagar mensalidade, só a matrícula. O GLOBO: Todas as outras são particulares?

FÁTIMA: São três particulares e duas que não são particulares. E tem a que é estadual, aí é a USP, e ela é bem mais cara. Eu vou ser sincera com você: não compensa. É o mesmo nível de São José do Rio Preto, só que o preço dela é R$ 45 mil.

O GLOBO: R$ 45 mil na USP?

FÁTIMA: Não é USP, é Unesp também, só que Unesp da Júlio de Mesquita. Aqui é Rio Preto-Unesp mas é uma fundação.

A USP não; a USP é Ribeirão Preto. São Paulo só tem a Santa Casa, nesse mesmo preço.

O GLOBO: R$ 45 mil?

FÁTIMA: R$ 45 mil, mas você vai pagar de entrada R$ 20 mil.

O GLOBO: E quais são os outros lugares que eu poderia escolher, mesmo sendo particular?

FÁTIMA: Catanduva e Marília. Uma é Funesp, outra é particular... mas não é vantagem para você porque vai estudar onde você quer e o destino é certo.

O GLOBO: Mas como a gente vai saber se vai dar certo, como é o esquema?

FÁTIMA: Você vai fazer a prova normal, como qualquer outro aluno.

O GLOBO: Faço a prova sem saber nada. E aí?

 FÁTIMA: Aí eles vão cuidar do teu problema, não há contato com você, nada. Por isso preciso do seu número, do seu código.

O GLOBO: É na hora de computar, talvez?

FÁTIMA: É na hora. É uma empresa que faz o vestibular, a Vunesp. Intermediária desconfia do logro mas mantém negócio Ao ser descoberta, diz que tinha pena dos alunos que têm dificuldades e acabam com problemas

BRASÍLIA - Mesmo já desconfiada de que não estava lidando com um estudante, depois da segunda conversa com o repórter do GLOBO, a professora Fátima Souza forneceu um número de conta-corrente no Banco Bamerindus para que os R$ 10 mil de entrada pela compra de uma vaga na Faculdade de Medicina da Unesp, em São José do Rio Preto, fossem depositados.

Os dois encontros foram realizados no fim de semana passado em seu curso pré-vestibular, na Rua Ipiroldes Borges, em São José do Rio Preto, e as conversas posteriores foram em telefonemas para o hotel onde seu suposto cliente estava hospedado.

Para gravar a história, o jornalista se apresentou como filho de um empresário paulista do ramo de comércio exterior. Antes de selar o negócio, a professora exigiu referências pessoais do aluno e fez questão de saber quem tinha indicado o esquema. Foi preciso que uma pessoa se apresentasse como pai do aluno, numa ligação para a casa dela, para que Fátima aceitasse incluir o repórter na relação de dez estudantes que não precisarão se esforçar para ingressar na universidade.

— Faço isso para ajudar as famílias dos alunos. Tem certos casos em que o aluno estuda, estuda um ano ou dois, e não consegue passar de jeito nenhum. A vida dele pára e até problemas psíquicos começam a aparecer. A família começa a viver em função daquele problema — disse ela durante a conversa.

Ao saber que suas conversas tinham sido gravadas por um repórter do GLOBO, a professora negou sua participação no esquema de venda de vagas e justificou as conversas com o argumento de que apenas tentava descobrir quem queria prejudicá-la.

Fátima pôs à disposição suas contas bancárias e telefônicas para provar que tem um padrão de vida baixo, incompatível com a corrupção que intermedia. Professora ameaça processar repórter por causa da denúncia

— Pago dois aluguéis e tenho um carro usado. Não tenho padrão de vida para quem faz o que vocês estão dizendo. Vou te processar se essa reportagem for publicada — ameaçou.

Como o Fuvest e o Vunesp são fiscalizados pelo Conselho Regional de Educação de São Paulo, a delegada do Ministério da Educação, Gilda Portugal, pretende se reunir com os conselheiros para discutir o que fazer diante da denúncia.

O MEC, segundo ela, tem responsabilidade direta pelos vestibulares isolados das faculdades particulares.

 

Fonte:

http://www.bv.fapesp.br/namidia/noticia/20287/quadrilha-vende-vagas-faculdades-paulistas/

A MÁFIA DAS VAGAS DE MEDICINA - Esmiuçando

Depois do escândalo do “diploma de Ensino Médio”: com aquelas provas compradas por correspondência.
Depois do escândalo do “diploma de Ensino Superior”: como aquele de Matemática, que se comprava em Nova Iguaçu.
Depois do escândalo do “diploma de pós-graduação”: como a compra de monografia pronta, ofertadas pela internet.
 
Bem (mal)
 
- Na nossa educação, só faltará mesmo, aparecer o escândalo do “diploma do Berçário ao Maternal”
 
E agora, o escândalo de compra das vagas dos cursos de medicina!
 
Neste último domingo, o Fantástico mostrou uma longa reportagem sobre a investigação da PF, que deflagrou um dos maiores esquemas na “história desse país”, sobre compra de vagas em faculdades de medicina. Esse esquema acontecia há mais de 20 anos. Ao todo, 40 instituições (das 182 cadastradas no MEC) que formam médicos no Brasil, foram citadas no processo. E 46 pessoas presas, suspeitas de serem integrantes de 7 quadrilhas (e ainda outras pessoas e esquemas diferentes estão sendo investigados. Ou seja, esses alarmantes números, ainda podem aumentar).
 
Um problema “endêmico” surgiu, melhor dizendo (fazendo uso de uma palavra muito utilizada na área de saúde).
 
É a máfia das vagas de medicina.
 
 
O CASO
 
Ofereciam as vagas, como se vendessem “qualquer” produto.
 
Uma cadeira em uma sala de aula, de um curso de medicina, era oferecida como uma oferta de bicicleta, ou moto, no site do Mercado Livre para se ter uma ideia.
 
A reportagem mostrou que um dos líderes da corja, é um médico clínico-geral, que trabalha nos arredores de Goiânia, e de lá, comandava o grande esquema. Ele chama-se Cláudio Cançado, e tem 39 anos.
 
E, novamente, aparecendo os “médicos-políticos-empresários”, ou melhor: “médicos-fazendeiros-empresários.” O que é quase a mesma coisa. Como a própria matéria trouxe:
 
Entre os chefes das ações havia empresários, médicos e fazendeiros, com “patrimônio gigantesco”."
 
 
O ESQUEMA
 
O esquema tinha requintes sofisticados. Efetivava-se, utilizando aparelhos de espionagem (como pontos eletrônicos escondidos em óculos). Até treinamentos comportamentais faziam parte do “pacote”, onde os “candidatos” (perdão por usar essa palavra), tinham instruções de “especialistas”, de como se portarem durante as provas, sem levantarem suspeitas.
 
Um complexo organograma dessa gangue, também foi apresentado. Onde cada um tinha uma função específica, hierarquicamente:
 
“Os Corretores”: tinham até uma lista das famílias onde existiam pessoas querendo entrar no curso (com possibilidades de renda para pagar a vaga). Assim, a função deles, era entrar em contato com essas famílias, oferecendo a “Mercadoria”.
 
“Os treinadores”: tinham a função de deixar aqueles que pagavam pela vaga, no “ponto."
 
“Os Pilotos”: “Gênios”.
 
Segundo a fala de uma acusada, de uma escuta telefônica da investigação:
 
Mulher: São 10 gênios fazendo as provas lá dentro. Geralmente, eles gabaritam tudo.
 
Esses pilotos:
 
eram geralmente alunos de Medicina, ganhavam por gabarito feito (R$ 10 mil) ou por candidato aprovado (R$ 5 mil cada)."
 
São pessoas às vezes com o QI acima da média. Especializadas em determinadas matérias e fazem a prova muito rapidamente e transmitem os gabaritos”, explica o delegado da Polícia Federal Alexandre Braga.”
 
E “Os Assistentes”: aquelas pessoas que organizavam as “Respostas Certas”, e as enviavam para os “candidatos”.
 
 
OS VALORES
 
 
Segundo a reportagem, por vestibular, a quadrilha, chegava a arrecadar meio milhão de reais.
 
Nas matérias que eu li, muitos valores diferentes, foram citados, referentes ao preço, que a quadrilha cobrava por cada vaga. Li valores falando em 25 mil, podendo chegar até ao preço de 95 mil.
 
Que seja, realizando um simples e rápido cálculo (nunca fui de matemática), dando uma média para facilitar de 50 mil por vaga, sendo a soma total por vestibular de 500 mil, logo, seriam 10 vagas por faculdade de medicina.
 
Acredito que esse número deve ser bem maior. Segundo uma estudante entrevistada:
 
Você vai prestar um vestibular que é 50 candidatos por vaga, na verdade é 100 candidatos por vaga. Porque metade das vagas são vendidas”.
 
Outro cálculo, para visualizar como o “buraco é bem mais embaixo”, supondo que eles fizessem essa fraude em 20 instituições de medicina por ano (só 50% das faculdades envolvidas, pois existem muitos vestibulares que talvez “caem” no mesmo dia), multiplicado pelos 20 anos que a quadrilha estava atuando, chegaremos ao número de 4.000 vagas vendidas. Ou seja, 4.000 pessoas (adolescentes, mulheres, homens, famílias...) que se sujeitaram/sujaram e foram beneficiadas com esse esquema. São 4.000 médicos envolvidos (ressaltando novamente: esses números são “apenas” de um escândalo deflagrado).
 
 
A FAMÍLIA – ÔÔÔÔÔ
 
 
Em uma das conversas gravadas, uma mãe e uma “Corretora (Jacke)”:
 
Mãe de estudante: Você não sabe, Jacke. Queriam levar a gente no camburão. Esperaram ele terminar a prova. Veio todo mundo da reitoria. Pegou ele. Levaram numa sala. Olha, esse menino foi de peito, viu, Jacke?”
 
Mulher: Ô.”
 
Mãe de estudante: Ele não aguentava aquele negócio no ouvido. Ele enfiou até o fundo o negócio pra ninguém ver.”
 
Em outro momento da reportagem a mesma mãe, relatando como ajudou o filho a se livrar das provas (equipamentos da fraude):
 
Mãe de estudante: O reitor falou assim: "Não, não. Você vai pegar seu carro". Nisso, fiz uma limpa no carro. Piquei celular, piquei papel. Tudo que tinha nome, sabe? Aí, ele: "Ai, mãe, tô com dor de barriga”. Nisso, ele arrancou o colar. Esparadrapo, tudo. Jogou na privada e deu o colar pra mim.”
 
Momentos depois... Apesar do relato da confusão, as duas ainda combinaram para o rapaz, o esquema em mais uma prova:
 
Mulher: Com certeza, ele vai entrar em Mato Grosso. Não tem vistoria, não tem nada. Ah, outra coisa. A redação tem peso zero.”


MAS É PARA TANTO?
 
 
Enfim, fiquei me perguntando:
 
Que tipo de mãe é essa?
 
Que tipo de “aprendizado” ela estava dando ao seu filho?
 
Será que essa mãe estava pensando que entrando no esquema, estaria dando o que para o filho?
 
Um presente?
 
Como um carro? Um uma roupa de marca? Um celular? Um perfume importado?

Um ato de amor?
 
E por que medicina?
 
Por que esse curso faz com que pais e mães entreguem talvez, suas parcas economias (vendendo aquela casinha de aluguel, ou a herança deixada pelo avô, ou o FGTS, fico imaginando), e porque não dizer, entregando a própria dignidade, descaradamente, mediante os próprios filhos e história da família, para que eles entrem nesse curso?
 
E porque não odontologia? Fisioterapia? Fonoaudiologia? Psicologia? Marcenaria? Filosofia? História? Química?
 
Quando falamos em profissão, estamos falando em algo que praticamente tomará, quase o maior tempo de nossas vidas. Ou seja, tem que no mínimo, ter um pouco de aptidão, gostar do que se faz.
 
Sei que Medicina é uma linda profissão. Admirada e cobiçada no mundo todo.
 
Sei que toda mãe, sempre quer, indubitavelmente, o melhor para o seu filho.
 
Mas é para tanto?
 
Sei que uma das maiores angústias que pais podem ter, é não verem seu filho, conseguindo prover sua própria subsistência. Sei que o mercado de empregos cada vez está mais difícil/concorrente, e que especialistas previram que os chineses e indianos, irão daqui uns anos, “tomar” os empregos dos nossos filhos por aqui.
 
Sei que ainda existe um déficit muito grande de médicos no país, e dentre a área de saúde, é a profissão mais valorizada financeiramente e de “poder”.
 
Mas é para tanto?
 
A vida tá difícil para muita gente. Tá todo mundo correndo atrás do seu “lugarzinho no sol” (querendo ter uma casa própria, uma carro legal, uma TV de plasma, uma viagem de férias com a família, o churrasquinho e a cerveja do final de semana, futebol, salão de beleza....) Sei que em profissões como as que citei acima, como a de marceneiro, psicólogo, professor, pintor, dentista, biólogo, teólogo, físico etc., poderá ser mais complicado encontrar “esse lugar”, do que se ele se tornar médico.
 
Mas será que esses pais não percebem que talvez seus filhos, poderão ser pessoas muito mais “felizes”, “conectadas” com o mundo, se passarem a conseguir conquistar suas vitórias, por seus próprios percalços e méritos? Que isso poderá torná-las talvez, no mínimo, pessoas mais sensatas, podendo até desenvolver uma das mais difíceis virtudes humanas: a humildade?
 
Será que essa mãe não percebe que comprando uma vaga para o seu filho, poderá privá-lo de muitas outras possibilidades que existe no mundo.
 
Será que essa mãe, dando assim essa vaga dessa forma ao filho, não estará pensando apenas no viés econômico? E quando o filho já médico, trabalhando em uma periferia dessas da vida, tendo que cuidar de pessoas totalmente “diferentes” dele, nesses postos de saúde espalhados por aí, não ver sentido nenhum em seu trabalho, o que ela irá dizer ao filho? Eu já vi isso acontecer algumas vezes...
 
Será que essa mãe não estará dando para o filho o próprio sonho, que foi dela? Será que essa mãe, não se lembra das dificuldades pelas quais já enfrentou também, mas que conseguiu superá-las, em circunstâncias muito mais precárias? E que agora, dando uma vida muito melhor ao filho do que a que teve, poderá também acreditar que ele conseguirá? Ela tem medo da educação que deu ao filho? É isso?
 
Será que essa mãe, quando pensa em medicina, não estaria pensando em “segurança e estabilidade”, privilégios esses, do qual ela mesma nunca gozou? Ou se gozou, não gosta nem de se lembrar de o que já fez na vida, para consegui-los? Que não admite nem que o filho “construa” seu próprio “gozo”? Será que foi tão difícil assim para ela?
 
É para tanto?
 
Mães, e nós pais, temos que nos tranquilizarmos de certa fora, pois criando os nossos filhos: rodeados de amor, afeto, livros na estante, filmes interessantes, amigos, viagens, colégios de boa qualidade, cursinhos classe A, não deixando que trabalhem enquanto estudam, em ambientes tranquilos, ruas e condomínios sossegados, com tabletes, aulas de natação, hi-fii, Apple, festas de aniversário etc., já estaremos dando a eles, grandes condições para dispararem “anos-luz”, na frente de milhões de outros brasileiros, que também um dia sonharam em ser médicos (ou outras profissões), tendo assim grandes chances, de passar mais “tranquilo” em uma prova, de vestibular por exemplo. Fazendo o bom uso assim, do jogo “mérito-democrático-liberal”, onde eu, você mãe, nossos filhos, os filhos da empregada, a empregada e o filho do motorista, ou seja, todos nós, estamos inseridos. Mas até aí, tudo bem.
 
Agora, famílias dessas como as nossas, corroborando e praticando Crimes, para que o filho entre em uma faculdade de medicina.
 
É para tanto?
 
 
PUNIÇÃO
 
 
Que direito tem um cidadão de comprar uma vaga quando dois milhões estão de forma democrática, republicana, se preparando, estudando, disputando pra poder entrar?”, pergunta o Ministro da Educação, Aloizio Mercadante.
 
Segundo o Ministro da Educação, os alunos envolvidos sofrerão também punições acadêmicas: “Eles vão ser todos identificados, vão ser expulsos da faculdade, os que eventualmente ainda estejam, e se forem formados terão seus diplomas cassados. Porque toda a vida acadêmica deles é uma fraude”.
 
Para o Conselho Federal de Medicina, os estudantes e médicos envolvidos nas fraudes devem ser punidos.
 
É um caso prioritariamente de polícia. É importante para nós médicos como ele entrou. Porque é o caráter dele que está em jogo. É a questão ética do médico que comprou uma vaga”, afirma Desiré Callegari, secretário do Conselho Federal de Medicina.
 
Ele não está disputando uma vaga, ele está comprando uma vaga, tirando o sonho de muita gente mais capaz que ele”, acusa um estudante.
 
Um comentário que escutei, sobre a possibilidade das pessoas realmente serem punidas (esses estudantes de medicina e médicos, até os já formados há anos), como estão falando acima:
 
“Se isso acontecer mesmo, vai faltar ainda mais médicos nesses postos de saúde por aí.”
 
Será que acontece?
 
OS INDICIADOS ATÉ AGORA (apenas pessoas das quadrilhas)
 
Além do já citado chefe-médico Luciano Cançado,
 
Foram indiciados por pertencer à quadrilha: o casal Marcos José Nunes de Souza e Ana Cândida Lima Souza, Filipe Marquez Belo e Melina de Souza Medeiros. Além de outros oito acusados: Jovina Cecília da Silva Gonçalves, Annie Jackieline Montenegro de Souza e Silva, Lara Cristina de Souza Cançado – irmã de Luciano -, João Paulo Rosilho, Carlos Eugênio Batista Meireles, Alisson Patrício Roque, Letícia Aguiar Milhomens, Leonardo Borges da Silva, Clarianne Silva Leite e Ewerton Alves Alagia.
 
A LISTA DAS FACULDADES DIVULGADAS (que não tiveram nada com isso?):
 
Segundo a Polícia Federal, não há evidências de que as faculdades fossem coniventes com o esquema. Mas pode ter havido falhas na fiscalização.”
 
Mulher: As faculdades que a gente coloca é porque a gente sabe que o aluno não vai ser pego."
 
Por mais que “não tenham nada com isso”, com certeza, ocorreu uma “mancha” nessas 40 instituições. Como: talvez, eu não leve um filho doente, a um médico que fosse formado em uma delas. E se alguma coisa de ruim acontece com ele? Ou: que tipo de influência, seu filho teria, estudando com alguns colegas, que apenas estão cursando o curso, devido a um crime praticado por sua família?
 
É uma verdadeira roleta-russa.
 
São elas:
- FMP (Faculdade de Medicina de Petrópolis (FMP)
- Unec (Centro Universitário de Caratinga/MG)
- Uniara (Centro Universitário De Araraquara)
- Centro Universitário São Camilo
- Unimes (Universidade Metropolitana De Santos)
- Cesupa (Centro Universitário Do Pará)
- Novafapi (Faculdade De Saúde, Ciências Humanas e Tecnológicas do Piauí)
- Unesc (Centro Universitário Do Espírito Santo)
- Unicid (Universidade Cidade De São Paulo)
- Unipac (Universidade Presidente Antonio Carlos)
- Faseh (Faculdade Da Saúde e Ecologia Humanas - Vespasiano/MG)
- UCPel (Universidade Católica de Pelotas)
- Universidade Anhembi Morumbi
- Unificado Cesgranrio
- Faculdade de Ciências da Saúde de Barretos Dr. Paulo Prata
- Uninove (Universidade Nove de Julho)
- Universidade Estácio de Sá
- Cesumar (Centro Universitário de Maringá)
- Universidade de Rio Verde
- Unifran (Universidade de Franca)
- Faciplac (Faculdades Integradas Da União Educacional Do Planalto Central)
- Ulbra (Universidade Luterana Do Brasil)
- Unievangélica (Associação Educativa Evangélica)
- Faseh (Faculdade Da Saúde E Ecologia Humana)
- Faceres (Faculdade Ceres)
- PUC-Minas (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais)
- Unifacs (Universidade Salvador)
- Unilago (União Das Faculdades Dos Grandes Lagos)
- Unisa (Universidade Santo Amaro)
- Unimar (Universidade De Marília)
- Uniderp (Universidade Anhanguera)
- Faculdade Santa Marcelina
- Unifeso (Centro Universitário Serra Dos Órgãos)
- Unievangélica (Associação Educativa Evangélica)
- Funorte (Faculdades Unidas Do Norte De Minas)
- Unipam (Centro Universitário De Patos De Minas)
- Fundação Técnico-Educacional Souza Marques
- Faminas (Faculdade De Minas-BH)
- PUC-Campinas (Pontifícia Universidade Católica De Campinas)
- Unicastelo (Universidade Camilo Castelo Branco)
 
FONTES: