sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

"A categoria dos agentes comunitários é a que mais trabalha"

 
12/02/2015 15h22 - Atualizado em 13/02/2015 11h07

Vídeo de sindicalista quer jogar agentes contra enfermeiros, diz Sinte

Em nota, sindicato diz que comparação é equivocada e que pretende causar revolta
 
 
Em nota divulgada nesta quinta-feira (12), o Sinte/PMCG (Sindicato dos Trabalhadores da Enfermagem da Prefeitura de Campo Grande) se pronunciou sobre vídeo divulgado pelo presidente do Sisem (Sindicato dos Servidores e Funcionários Municipais de Campo Grande), Marcos Tabosa, que compara o trabalho de agentes de saúde ao de enfermeiros.
O vídeo, de pouco mais de 1min30, foi postado no próprio perfil de Tabosa no Facebook. Nele, Marcos aparece acompanhado de um homem, identificado como Willian, e faz discurso destacando a alta temperatura na qual os agentes comunitários de saúde trabalham, fazendo comparações com o ambiente de trabalho dos enfermeiros e gerentes das unidades.
Na nota, o Sinte/PMCG diz que a comparação do sindicalista é equivocada e que ele pretende causar revolta nos agentes comunitários, além de querer “jogá-los” contra os enfermeiros: “transbordou os limites da luta dos trabalhadores da saúde”.
O Sindicato dos Trabalhadores de Enfermagem negou que aja favorecimento e ainda afirmou defender a luta dos agentes comunitários pela redução da carga horária. Confira abaixo a nota na íntegra.
O Sinte PMCG (Sindicato dos trabalhadores da Enfermagem da Prefeitura Municipal de Campo Grande) nascido em data recente e proveniente da insatisfação dos auxiliares, técnicos de enfermagem e enfermeiros no que toca a não representatividade da entidade sindical genérica denominada SISEM, vem a público por meio desta nota destacar que a suposta convocação feita pela referida entidade (SISEM) para a mobilização dos Agentes Comunitários de Saúde para ser realizada na data de 26/02/2015, e que tem como a pauta a manutenção da redução da carga horária, transbordou os limites da luta dos trabalhadores da saúde, pois é inconteste que na mídia de convocação encetada supostamente pelo Presidente do SISEM, por meio de vídeo publicado na internet, tem como fundamento o enfrentamento de duas categorias funcionais que labutam no dia a dia pela saúde do povo campo-grandense, pois ao que se vê no vídeo há uma clara tentativa de “jogar” os Agentes Comunitários de Saúde contra os servidores da Enfermagem, pois é indene que se parte de uma comparação equivocada que tem como pano de fundo a distinção das funções exercidas por estas categoriais distintas, vez que ao que se vê é a tentativa de criar um ambiente de revolta, indignação e insatisfação na categoria dos Agentes Comunitários de Saúde, como se houvesse uma escala em casta na relação de trabalho, onde estes louváveis servidores, fosse então a menor das castas do serviço de saúde e que os servidores da enfermagens seriam seus algozes.
Isto não é verdade, todos os servidores da saúde merecem o respeito mútuo pelo trabalho que exercem, e mais, para soterrar os argumentos supostamente vindos do SISEM que em seu conteúdo pretende causar uma pane no serviço de saúde justamente no período de vulnerabilidade da dengue e da Chikungunya é de se asseverar que o SINTE/PMCG assim como toda a enfermagem do Município de Campo Grande é a favor da luta dos Agentes Comunitários de Saúde pela redução da jornada de trabalho de 40 para 30 horas semanais, contudo, acredita que esta luta tenha que se expressar por meio dos instrumentos legais com a edição de leis e normas que regulamentem a jornada reduzida dos Agentes Comunitários de Saúde.
A repercussão
A divulgação do vídeo causou revolta entre profissionais da saúde. As imagens mostram o sindicalista convocando os agentes comunitários para uma passeata e, durante o discurso, ele afirma que quem ocupa cargo de direção, além do pessoal da enfermagem, é favorecido com melhores condições de trabalho.
“Queremos melhor qualidade de vida pra você agente comunitário de saúde. Eu venho aqui convocar vocês pra grande passeata porque os gerentes [das unidades] e os enfermeiros estão no ar-condicionado e você agente comunitário de saúde tendo de enfrentar um sol de mais de 35ºC”, fala Tabosa.
O vídeo recebeu vários compartilhamentos e comentários nas redes sociais. Uma enfermeira da Rede Municipal de Saúde, que preferiu não se identificar, diz que as declarações de Tabosa provocam discórdia entre as categorias. Ela enfatiza que o ambiente de trabalho dos enfermeiros não é tão boa quanto sugere o presidente do Sisem.
Na internet, vários enfermeiros e agentes de saúde se manifestaram contra o posicionamento do presidente do Sisem. Questionada a respeito do assunto, a assessoria de comunicação da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde Pública) diz que o chefe da pasta não vai se posicionar a respeito do caso.
A reportagem do Jornal Midiamax também entrou em contato com o Coren/MS (Conselho Regional de Enfermagem de Mato Grosso do Sul) e, em nota, o presidente, Diogo Nogueira do Casal, considera "inoportuna e infeliz", a declaração feita por Tabosa.
"Lamentamos o discurso inflamado do Tabosa, que ao invés de unir forças, tenta semear a desunião, enfraquecendo a luta de todas as categorias de trabalhadores da área de saúde, o que afirmamos, sem hesitação ou qualquer receio é, em síntese, um desserviço para todos os profissionais", observa.
A passeata anunciada pelo presidente do Sisem será realizada às 16 horas, do dia 26, no cruzamento da Avenida Afonso Pena com a Rio Grande do Sul.
"A categoria dos agentes comunitários é a que mais trabalha, entra dentro das residências, pesa crianças e não podemos deixar que sejam massacrados pelos enfermeiros e gerentes de postos. Eu defendo o servidor organizado", disse Tabosa.


"A honestidade dos que dizem lutar contra a corrupção me comove"

 http://mariolobato.blogspot.com.br/2015/02/uma-elite-que-combate-bolsa-familia-mas.html

Por Ana Helena Tavares


O bolsa-madame e o bolsa-família


Do QTMD? (Quem tem medo da democracia?) reproduzido no GGN



Um grupo de mulheres de deputados reúne-se num chá oferecido por uma delas. O convidado de honra é Eduardo Cunha. No cardápio, um pedido para que volte um benefício que garante às madames passagens de graça para acompanhar os maridos.

O que isso diz sobre a sociedade brasileira? Machismo em alto grau partindo de mulheres. Hipocrisia de uma elite carcomida que combate políticas públicas para os mais pobres, mas não se acanha em usar e abusar das mordomias do Estado.


A uma ex-catadora de papelão, que se tornou presidente da Petrobrás, não é permitido roubar. Se roubou ou não pouco importa. Não é com isso que as madames bem-nascidas estão preocupadas. Ela simplesmente não pode roubar. Os maridos iluminados podem.

Num mundo em que todos comam, onde todas as classes, cores e credos sejam julgados da mesma maneira, como madame poderá ser madame? Como aeroportos poderão ter o vazio sepulcral dos lugares reservados a privilegiados?

É dolorosamente atual a frase de Raymundo Faoro: “Eles querem um país de 20 milhões de habitantes e uma democracia sem povo”. E como dói constatar que, depois de tantas lutas por direitos iguais, elas também querem isso.

Não são todas, é claro, para alívio da nação, mas a composição do Congresso que toma posse neste domingo, 1º de fevereiro de 2015, não deixa dúvidas quanto ao caráter conservador, machista, preconceituoso, da maior parte da sociedade brasileira.

O dinheiro pode ser livre – para quem convém que seja livre. Seres humanos têm que viver presos. Presos à moral alheia, presos a dogmas. E, aqueles que “não deram certo”, presos a grades. Quiçá, mortos.


Num país de senzalas inconfessas, não é de se espantar que distintas senhoras não se contentem em viver à custa de homens. Querem mamar nas tetas do erário. Não lhes envergonha em nada receber o “bolsa-madame”. Faz parte da nossa tradição secular.

Se forem vistas por aí em alguma passeata contra a roubalheira na Petrobras e contra o bolsa-família, dirão que estão lutando para salvar o Brasil. E serão capa da maior revista semanal, como já foi o “caçador de marajás”. A honestidade dos que dizem lutar contra a corrupção me comove.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

k22

A coragem de ser si mesma

Por Beatriz Preciado, em comitedisperso, 20/11/14 | Trad. UniNômade
“Sair do sonho coletivo da verdade de gênero, tal como se saiu da ideia de que o Sol gira ao redor da Terra.”

Quando recebi este convite de falar sobre a coragem de ser eu mesma, no começo meu ego ronronou. Como se tivessem me oferecido uma página publicitária em que eu fosse seu objeto, em vez de usuária. Eu já me via com uma medalha no peito, heroica. Depois, a memória dos oprimidos me atingiu e qualquer complacência se apagou.
Hoje, vocês me concederão o privilégio de evocar o “meu” valor de ser eu mesma, depois de ter-me feito carregar durante toda a minha infância o signo da exclusão e da vergonha. Vocês me oferecem este privilégio, como quem presenteia uma dose a um cirrótico, negando ao mesmo tempo os meus direitos fundamentais em nome da nação, confiscando as minhas células e os meus órgãos para a vossa política delirante. Me concedem esta coragem como presenteiam uma moeda a um ludopata, e depois me rechaçam a possibilidade de chamar-me pelo nome masculino ou associar o meu nome a adjetivos masculinos, só porque eu não tenho documentos oficiais necessários nem a barba.
Nos reunimos aqui como um grupo de escravos que têm sabido alargar seus grilhões mas que ficam mais ou menos disponíveis, que obtiveram seus diplomas e aceitam falar o idioma dos mestres. Estamos aqui, diante de vocês, todos nascidos em corpos femininos, Catherine Millet, Cécile Guibert, Hélèn Cixous, travas, bissexuais, mulheres de voz grossa, argelinas, judias, machonas, espanholas. Mas quando vocês se cansarão de assistir à nossa “coragem”, como se fosse uma diversão? Quando se cansarão de diferenciarem-nos para nos identificarem a vocês mesmas?
Me atribuem valor, suponho, porque eu lutei do lado das putas, das pessoas que vivem com Aids, das pessoas com deficiência. Em meus livros, falei de minhas práticas sexuais com vibradores e próteses. Falei de minha relação com o testosterona. Este é o meu mundo, a minha vida, e não a vivi com coragem, mas com entusiasmo e alegria. Mas vocês não sabem nada da minha alegria. Preferem compadecerem-se dela e me consignar a coragem, porque em nosso regime político sexual, imperante no capitalismo farmacológico, negar a diferença do sexo é como negar a encarnação de Cristo na Idade Média. Me atribuem uma grande coragem porque hoje, frente aos teoremas genéticos e aos documentos administrativos, negar a diferença de gênero é como cuspir na cara de um rei do século 15.
E me dizem: “Fale-nos da coragem de ser você mesma”, como os juízes do tribunal da inquisição falavam a Giordano Bruno durante oito anos: “Fale-nos do heliocentrismo, da impossibilidade da Santa Trindade”, enquanto isso, separavam a lenha da fogueira. Mas embora já se possam ver as chamas, penso como Giordano Bruno que não será suficiente uma pequena mudança de rumo, que se terá de mudar tudo, de estalar o campo semântico e o domínio pragmático. Sair do sonho coletivo da verdade de gênero, tal como se saiu da ideia de que o Sol gira ao redor da Terra.
Para falar de sexo, gênero e sexualidade, é necessário começar com um ato de ruptura epistemológica, um rechaço categórico, uma fratura da coluna conceitual que fará florescer uma emancipação cognitiva. Temos de abandonar por completo a linguagem da diferença de gênero e a identidade (inclusive a linguagem da identidade estratégica de Spivak, ou a identidade nômade de Rosi Braidotti). O gênero ou a sexualidade não são uma propriedade essencial da matéria, senão o produto de diversas tecnologias sociais e discursivas, de práticas políticas de gestão da verdade e da vida. O produto de sua coragem.
Não existem os gêneros e sexualidades, senão os usos do corpo reconhecidos como naturais ou castigados porque desviantes. E não serve lançar uma última carta transcendental: a maternidade como diferença chave. A maternidade é somente um dos vários usos possíveis do corpo, não é garantia da diferença de gênero ou da feminilidade.
Então fiquem com vosso valor. Mantenham-no para vossos casamentos e divórcios, vossos enganos e vossas mentiras, vossas famílias, vossa maternidade, vossos filhos e netos. Fiquem com a coragem que necessitam para seguir a norma. O sangue frio para prestar vosso corpo ao processo imparável da repetição regulada. O valor, como a violência e o silêncio, como a força e a ordem, estão de vosso lado. Ao contrário, eu hoje reivindico a legendária falta de coragem de Virginia Woolf e de Klaus Mann, de Audre Lorde e di Adrienne Rich, de Angela Davis e de Fred Moten, de Kathy Acker e de Annie Sprinkle, de June Jordan e de Pedro Lemebel, de Eve K. Sedgwick e de Gregg Bordowitz, de Guillaume Dustan e de Amelia Baggs, de Judith Butler e de Dean Spade.
Mas porque os amo, minhas corajosas semelhantes, desejo-lhes que percam o valor vocês também. Desejo-lhes que não tenham mais a força de repetir a norma nem de fabricar a identidade, que percam a fé no que dizem sobre vocês os documentos. E uma vez que tenham perdido vosso valor, cansadas da alegria, desejo-lhes que inventem uma maneira de usar vosso corpo. Justamente porque os amo, quero que sejam frágeis e desprezíveis. Porque é através da fragilidade que opera a revolução.
 
 

Propaganda de carnaval da Skol é alvo de críticas feministas

      http://www.revistaforum.com.br/blog/2015/02/propaganda-de-carnaval-da-skol-e-alvo-de-criticas-feministas/

fevereiro 11, 2015 17:01
Propaganda de carnaval da Skol é alvo de críticas feministas
Para ativistas, nova campanha publicitária da marca de cerveja, que utiliza a frase “Esqueci o ‘não’ em casa”, reforça a cultura de opressão à mulher
Por Jarid Arraes
A nova campanha de carnaval da marca de cerveja Skol se tornou alvo de críticas feministas na internet. Em seus perfis pessoais nas redes sociais, a publicitária Pri Ferrari publicou fotos dela mesma acompanhada da jornalista Mila Alves em frente a um anúncio da marca. A peça da campanha publicitária da Skol, onde se lê “Esqueci o ‘não’ em casa”, foi pichada para dar lugar ao complemento “e trouxe o ‘nunca’”, como parte do protesto contra a propaganda. 

Ferrari explica que encontrou o anúncio em um ponto de ônibus e ficou chocada. “A peça e a campanha em si mostram claramente um conceito errado, de ‘topo depois pergunto’, de ‘não pode dizer não’”, afirma. Para ela, o carnaval exige das pessoas maior responsabilidade, para que digam “não” em diversas situações: “Não ao estupro, não a beber e dirigir, não ao sexo sem camisinha”, exemplifica.

Segundo Juliana de Faria, fundadora do Think Eva um núcleo de inteligência que atua junto às marcas e empresas em questões como a representatividade feminina e o respeito às mulheres na mídia –, a situação requer seriedade. “Entendemos a intenção da campanha em transmitir uma mensagem de liberdade, diversão e celebração. Porém, esse é apenas um jeito de enxergar a situação. Existem, sim, opressões, violências e pensamentos misóginos associados ao universo do carnaval e da cerveja. Então as críticas também são válidas. A intenção de libertar acaba incitando uma cultura opressora. E opressora para as mulheres, constante vítimas de violências – principalmente a sexual”, pontua.

Faria ainda chama atenção para o fato de que a sociedade não tem plena compreensão a respeito do que é consentimento. “Muitas vezes, ele [o consentimento] é embutido em algo, como uma saia curta ou simplesmente a presença da mulher num bloco de carnaval, numa balada. Por isso mensagens que diminuem o poder do ‘não’ são perigosas”. 

Pri Ferrari também relata que as mensagens enviadas para a marca Skol foram deletadas da página da empresa e questiona a responsabilidade de toda a equipe envolvida na criação da propaganda. “Não só alguém criou, como passou na mão de muita gente e ninguém problematizou a questão, isso é uma falta de respeito e de responsabilidade que se repete no mundo da publicidade”, protesta. A publicitária espera que mais pessoas percebam o equívoco e passem a reagir diante de acontecimentos similares.
Blog da Mulher

Ananda Hilgert: Em busca de novos apelidos para a vagina

publicado em 1 de fevereiro de 2015 às 19:27
 
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VAGINA NÃO É BACALHAU
por Ananda Hilgert, no Noo, em 26.01.2015, sugerido por Eduardo Prestes Diefenbach
O nome que a gente dá para as coisas na vida não é inocente, não é por acaso, é marcado por posicionamento, é político, é cultural. Pensando nisso, os diversos apelidos dados aos órgãos sexuais feminino e masculino dizem muito sobre sexo e papéis de gênero:
Enquanto o pênis tem todos os nomes possíveis que remetem ao formato de cenoura, nabo, cano, anaconda, espeto e tantos outros mais, à vagina direciona-se outro tipo de apelido, muito mais pejorativo, como:
bacalhau
carne mijada
nugget de peixe
marisco
suvaco de coxa
túnel cheiroso
suadinha
A vagina e seus perseguidos odores! Fedor de peixe, suor, mijo. A vagina é nojenta, tem mau cheiro. Tudo que o homem hétero quer é que sua estaca crave esse marisco, mas sem abrir mão de rebaixar essa pobre carne mijada ao seu devido lugar.
A mulher escuta esses nomes desde pequena mesmo sem entender ainda seus significados. A gente vai crescendo e entendendo que é suja, que deve esconder nossos cheiros, mesmo que sejam naturais para todas as mulheres. A menina desde novinha aprende a usar uma infinidade de produtos de higiene, enquanto o menino aprende a fazer xixi na árvore e dar só uma balançadinha na sua bengalinha. A gente aprende que peixe podre e vagina tem o mesmo odor. Carregamos um túnel “cheiroso” no meio das pernas, motivo de piada, medo, objeto de controle.
Esses apelidos podem parecer apenas piadinhas inofensivas para muita gente, mas carregam um peso muito maior que uma comédia boba. Muitas mulheres realmente acabam tendo nojo de si mesmas, não conhecem suas próprias vaginas, não tocam em si mesmas. Aliás, falando em toque, a masturbação feminina é um grande tabu que vem também desses apelidinhos carinhosos:
engole espada
ninho de rola
lixa-pica
casa do caralho
papa-duro
gulosinha
buraco da serpente
Se o homem chama a vagina de lixa-pica e casa do caralho, isso significa que a maldita xoxota só existe para servir ao homem; portanto, mulheres, o prazer sexual não é de vocês, mas do homem e sua espada.
O homem carrega orgulhoso sua terceira perna (a vontade de aumentar o tamanho do pênis através de apelidos é visível), sua furadeira, seu socador, sua ferramenta. A mulher esconde, depila, limpa sem cansar seu suvaco de coxa. Dar nomes pejorativos à vagina prejudica muito a sexualidade feminina, pois a mulher tem pensamentos negativos em relação a si mesma, acaba se limitando, tem medo de se expor, de ter o cheiro errado, o formato errado, o prazer errado.
A tentadora vagina, o testador de batina pode parecer idolatrado por muitos homens, mas essa adoração tem um limite muito demarcado: o controle. Dar nome é querer controlar, diminuir, determinar a função. O homem apelida de ninho de rola quando quer dizer que a vagina serve para nada além das vontades de sua rola. O homem corta, mete, penetra, come com sua serpente, seu canivete, sua arma. E finaliza chamando de bacalhau.
Essa mistura de idolatria e controle é muito parecida com aquela história de chamar as mulheres de musas que muitos adoram. Vários homens tentam fugir de uma imagem de machista dizendo que amam as mulheres, que elas são musas inspiradoras, deusas que devem ser veneradas. Gente, deixa eu contar um segredo: isso ainda é machismo, isso ainda é tentar definir uma posição para mulher alheia à sua vontade. Portanto, não me venha dizer que a vagina é a coisa mais adorada do mundo, a área VIP, a desejada, a caixa dos prazeres, pois, homem, você está determinando que a vagina só serve pra ti.
Os apelidos dados à vagina tiram da mulher o controle (e orgulho) sobre o próprio corpo. Quando somos condenadas a levar entre as pernas nada além de um nugget de peixe e um buraco de serpente, aprendemos que somos submissas ao gigante adormecido masculino. O poder das palavras é forte na subjugação de qualquer grupo, qualquer minoria. As 100 palavras para vagina citadas no vídeo no início deste texto podem ser separadas em três grupos: mau cheiro/aparência feia; diminutivos; provedor do prazer masculino. Nenhum apelido carrega uma ideia de poder como espada, ou de algo que machuca e domina como arma.
Esses nomes condenam a mulher pela sua própria natureza, ou seja, não há saída. As mulheres passam a vida lutando contra as suas cavernas, cabaças, cabeludas, pombinhas. A espada manda, o engole-espada obedece. Vivemos numa cultura de idolatria do pênis, toda a teoria psicanalítica do Freud gira em torno do desejo ao falo. No entanto, com as mulheres tentando se libertar cada vez mais, podendo finalmente falar (de vez em quando e ainda controladamente) que gostam de sexo, que se masturbam, que gostam do próprio corpo, acho que está na hora de apelidos com mais empoderamento feminino.

Basta de Política SUBTERRÂNEA - Política TAPA BURACO Fantasma

 
Edição do dia 29/01/2015
29/01/2015 09h12 - Atualizado em 29/01/2015 09h12

Rua com asfalto liso tem operação tapa-buraco fantasma em MS

Vídeo da operação foi gravado por câmera de segurança. Prefeitura de Campo Grande tem contratos de mais de R$ 50 milhões com empresa.

 
 
 
Funcionários de uma empresa que presta serviço para prefeitura de Campo Grande fizeram uma operação inédita: eles tapavam buracos em uma rua com o asfalto lisinho.
Em Campo Grande, por conta do excesso de chuva no verão, buraco é o que não falta. Por onde a se passa é só reclamação. “É perigo porque a gente freia bruscamente, às vezes no buraco, e prejudica o carro da gente e o que vem atrás pode bater também”, diz um motorista.
“Causa muito acidente. Realmente, é difícil com essa buraqueira aí cada dia aumentando mais”, conta o motociclista.
Buraco para tapar tem aos montes. Mas uma imagem chamou a atenção essa semana. Em um bairro da região norte, funcionários de uma empresa que presta serviço para a prefeitura de Campo Grande estavam tapando buracos que simplesmente não existiam.
O vídeo foi gravado pela câmera de segurança de um condomínio. O porteiro Éder Palermo viu a movimentação pelo circuito interno e achou o trabalho estranho. Decidiu gravar o vídeo e divulgar na internet. “Fiquei horrorizado com a situação. O pessoal está fazendo um serviço que não existe? Buraco fantasma? Isso é de revoltar qualquer um”, diz.
Na prefeitura, ninguém quis gravar entrevista. A assessoria de imprensa informou que a empresa Selco Engenharia foi notificada a prestar esclarecimentos e que vai manter o contrato. Mas não soube dizer como é feita a fiscalização desses serviços.
Por meio de nota, a empresa contratada afirmou que um funcionário foi demitido e os outros afastados. E abriu uma sindicância para avaliar o caso. De acordo com o Diário Oficial da prefeitura, existem pelo menos dez contratos firmados entre o município e a empresa, desde 2011. O montante passa de R$ 50 milhões.
Segundo o Ministério Público, o serviço deveria ser fiscalizado pela prefeitura. “Ela pode ser responsabilizada, inclusive, por atos de improbidade administrativa e por omissão na fiscalização”, afirma o promotor de Justiça William Marra Silva Júnior.
“É uma vergonha. Muita vergonha o pessoal fazer um descaso desse com a população”, reclama o decorador Claudinei Xavier.

ELES VENCERAM!!! partido do homem comum

Delhi election results 2015: Big winners and losers

 
NEW DELHI: The Aam Aadmi Party sweep clean bowled several senior members of Congress and BJP. The biggest upset was probably that of BJP's chief ministerial candidate Kiran Bedi from the Krishna Nagar seat, considered a bastion of BJP and RSS. In fact, the seat was considered the safest bet for the new politician who joined BJP on January 15 this year.

Other BJP top brass that lost out in the AAP sweep were Jagdish Mukhi from Janakpuri who contested against his son in-law. The seat was won by Rajesh Rishi from AAP. Vikram Biduri from Tughlakabad and Rambir Singh Biduri from Badarpur were the other major losers, the latter from a seat which he has reportedly never lost till today.

In the Congress camp, which dropped to zero this election, most of those who were routed were politicians who have never lost assembly elections. These included Chaudhary Mateen Ahmed from Seelampur, Prahlad Singh Sawhney from Chandi Chowk, Haroon Yusuf from Ballimaran and Shoaib Iqbal from Okhla. All these seats were won by AAP.

partido do homem comum - Aam

A novidade que veio da Índia

O partido do homem comum (Aam Aadmi Party, AAP) surgiu sem grandes bases programáticas, para além da luta contra a corrupção, mas com uma forte mensagem ética

 
 
Escrevo esta crônica da Índia onde tenho estado nas últimas três semanas. Na última década, a Índia foi avassalada pelo mesmo modelo de desenvolvimento neoliberal que domina hoje em boa parte mundo e que a direita europeia e seus agentes locais estão a impor no Sul da Europa. As situações entre a Índia e o Sul da Europa  são dificilmente comparáveis mas têm três características comuns: concentração da riqueza, degradação das políticas sociais (saúde e educação), corrupção política sistêmica, envolvendo todos os principais partidos envolvidos na governança e setores da administração pública.

A frustração dos cidadãos perante a venalidade da classe política levou um velho ativista neo-gandhiano, Anna Hazare, a organizar em 2011 um movimento de luta contra a corrupção que ganhou grande popularidade e transformou as greves de fome do seu líder num acontecimento nacional e até internacional. Em 2013, um vasto grupo de adeptos decidiu transformar o movimento em partido, a que chamaram o partido do homem comum (Aam Aadmi Party, AAP). O partido surgiu sem grandes bases programáticas, para além da luta contra a corrupção, mas com uma forte mensagem ética: reduzir os salários dos políticos eleitos, proibir a renovação de mandatos, assentar o trabalho militante em voluntários e não em funcionários, lutar contra as parcerias público-privadas em nome do interesse público, erradicar a praga dos consultores através dos quais interesses privados se transformam em públicos, promover a democracia participativa como modo de neutralizar a corrupção dos dirigentes políticos. Dada esta base ética, o partido recusou-se a ser classificado como de esquerda ou de direita, dando voz ao sentimento popular de que, uma vez  no poder, os dois grandes partidos de governo (Partido do Congresso, centro esquerda e Bharatiya Janata Party, BJP, direita) pouco se distinguem.

Em dezembro passado, o partido concorreu às eleições municipais de Nova Delhi e, para surpresa dos próprios militantes, foi o segundo partido mais votado e o único capaz de formar governo. O governo foi uma lufada de ar fresco, e em fevereiro o AAP era o centro de todas as conversas. Consistente com o seu magro programa, o partido propôs duas leis, uma contra a corrupção e outra instituindo o orçamento participativo no governo da cidade, e exigiu a redução do preço da energia elétrica, considerado um caso paradigmático de corrupção política. Como era um governo minoritário, dependia dos aliados na assembleia municipal. Quando o apoio lhe foi negado, demitiu-se em vez de fazer concessões. Esteve 49 dias no poder e a sua coerência fez com que visse aumentar o número de adeptos depois da demissão.

Perplexo, perguntei a um colega e amigo, que durante 42 anos fora militante do Partido Comunista da Índia e durante 20 anos membro do comitê central, o que o levara a aderir ao AAP: “ fomos vítimas do veneno com que liquidamos os nossos melhores, favorecendo uma burocracia cujo objetivo era manter-se no poder a qualquer preço. É tempo de começar de novo e como militante-voluntário de base”.

Outro colega e amigo, socialista e votante fiel do Partido do Congresso: “aderi quando vi o AAP a enfrentar Mukesh Ambani, o homem mais rico da Ásia, cujo poder de fixar as tarifas de eletricidade é tão grande quanto o de nomear e demitir ministros, incluindo os do meu partido”.

Suspeito que tarde ou cedo vai surgir o partido do homem e da mulher comuns noutros países assolados pela corrupção e pela captura da democracia por interesses minoritários mas economicamente muito poderosos. Em Portugal já tem nome e muitos adeptos. Chamar-se-á Partido do 25 de Abril ( evocando a Revolução dos Cravos de 25 de Abril de 1974). Quarenta anos depois de revolução, será a resposta política aos que, aproveitando um momento de debilidade, destruíram em três anos o que os portugueses construíram durante quarenta anos.

O 25 de Abril é o nome do português e da portuguesa comum cuja dignidade não está à venda no mercado dos mercenários onde todos os dias se vende o país. Será um partido de tipo novo que estará presente na política de muitos países, quer se constitua ou não. Se se constituir, terá o voto de muitas e muitos; se não se constituir, terá igualmente o voto de muitas e muitos, na forma de voto em branco.

Garoto chinês vende rim para comprar iPad 2

02/06/2011 18:40
 
 
São Paulo - Um estudante de 17 anos decidiu vender um rim para comparar um iPad 2, segundo o jornal Shangai Daily. Depois de estudo recente que compara a atividade cerebral de fãs da Apple à de devotos em cerimônias religiosas, o caso do jovem chinês é um dos mais extremos sobre a obsessão pela marca criada por Steve Jobs.
"Queria comprar um iPad 2, mas não tinha dinheiro", disse o rapaz ao The Global Times. O estudante contou que foi contactado por um agente na internet, que o informou que seria possível vender o órgão por 22 mil iuanes (cerca de 4,9 mil reais).
A cirurgia foi marcada sem o consentimento dos pais do garoto, que só tomaram conhecimento quando ele retornou para casa. Segundo o Shangai Daily, o hospital não estava qualificado para transplante de órgãos.
O estudante teve complicações após o procedimento e diz se "arrepender" do feito. A polícia chinesa investiga o caso.

O que as ruas ensinam ao trabalho, segundo Roman Krznaric

 
Protesto toma a Avenida Paulista, em São Paulo: a sensação de solidariedade faz bem
 
São Paulo - O filósofo australiano Roman Krznaric, um dos fundadores da The School of Life, a badalada escola inglesa que oferece cursos livres na área de humanidades, começou a se tornar conhecido no Brasil nos últimos meses após a publicação no país de dois de seus três livros.
O primeiro, Como Encontrar o Trabalho da Sua Vida (Editora Objetiva, 176 páginas, 26,90 reais), resume um curso da The School of Life com o mesmo tema e pertence a uma coleção editada pelo filósofo Alain de Botton, principal nome da instituição.
Em Sobre a Arte de Viver (Editora Zahar, 376 páginas, 44,90 reais), recém-lançado no Brasil, Roman trata de sua principal bandeira, a empatia. O autor vai buscar nos livros de história lições sobre como aprimorar a capacidade de se colocar no lugar de outra pessoa .
Roman adota o termo outrospection, que ele inventou para ilustrar o que seria o oposto da introspecção. Em sua opinião, é a atitude necessária para viver no século 21. Para ele, durante os últimos 100 anos foi construída a ideia de que o profissional deve olhar para dentro de si para entender melhor quem é.
Agora, no novo milênio, nossa mente deve ter olhos para fora, ou melhor, para o outro. Para o filósofo, as manifestações que ocorreram em diversas cidades brasileiras em junho mostram quanto as pessoas estão interessadas em praticar a empatia, defendendo direitos que são de todos.
Essa capacidade de compreender o pensamento e os sentimentos alheios, de acordo com Roman, permite ao profissional circular com desenvoltura e cumprir bem suas tarefas. Em entrevista a VOCÊ S/A, o autor fala sobre o que é possível ganhar com essa experiência e sobre o que temos a aprender com os protestos, para aplicar no trabalho.

VOCÊ S/A - O que as manifestações de junho nos ensinam sobrenossa vida profissional?
Roman Krznaric - Os protestos revelam algo muito importante sobre a relação entre trabalho, empatia e valores comunitários. Uma das coisas que levam o povo às ruas, e que as pessoas descobrem quando estão lá, é a boa sensação de fazer parte de algo grande, de agir com solidariedade e de compartilhar a empatia com os outros cidadãos.
Perceber-se parte da sociedade é bom para o bem-estar pessoal, um caminho para a felicidade que se perdeu em muitos países onde o ativismo político esteve em baixa nas últimas décadas. O que podemos aprender com as manifestações é que dar alta prioridade a seus valores no trabalho pode aproximá-lo dessa experiência de bem-estar comunitário em seu cotidiano — o que é melhor do que experimentá-los apenas nos raros momentos de grandes protestos.
A grande lição das ruas é que, quando se trata de satisfação na vida, o "nós" é tão importante quanto o "eu". Precisamos de mais "nós" na nossa rotina profissional.
VOCÊ S/A - O que a empatia pode trazer de positivo para a carreira?
Krznaric - No passado, as pessoas consideravam que a empatia tinha uma importância moral, algo que faz bem para as outras pessoas. Mas estudos recentes mostram que a empatia é boa principalmente para você. Ao reunir visões diferentes, o trabalho se torna mais rico e proporciona mais felicidade.
As companhias têm percebido que a empatia é uma habilidade importante para seus funcionários, pois permite um trabalho em equipe mais eficaz, uma vez que as pessoas se entendem e também compreendem os desejos e as necessidades dos clientes.

VOCÊ S/A - O ambiente de trabalho dá à empatia a devida importância?
Krznaric - Tradicionalmente a maioria das organizações não valoriza nem estimula relações empáticas. Em alguns setores há mesmo um estímulo à competição, ao individualismo e ao progresso com base na queda de outras pessoas. Mas acredito em fortes evidências de que a empatia pode tornar negócios e relações de trabalho melhores. Empresas que têm altos níveis de empatia mantêm os funcionários por mais tempo. 
Por exemplo, durante uma conversa dura com seu chefe, ele pode aproveitar tais situações para ser terrível nas críticas ou para buscar entender o porquê de seu desempenho ter oscilado. Isso lhe ajuda a corrigir o que precisa, se você estiver interessado em crescer, e facilita ao líder entender como contribuir para essa melhoria.
Todo mundo funciona melhor quando a empatia faz parte da cultura de uma empresa. Quando pesquisei sobre o que as pessoas dão valor no trabalho, descobri que as amizades e as boas relações desenvolvidas figuram entre os principais fatores.

VOCÊ S/A - A empatia ajuda a crescer na carreira?
Krznaric - Passamos muito tempo aprendendo a ler e escrever, mas não somos ensinados a entender as outras pessoas e nos colocarmos em lugares diferentes. Se não entendermos como fazer isso, não seremos capazes de pensar em diferentes atitudes. No espaço do trabalho é possível aprender muito ao se colocar no lugar de qualquer colega. Esse tipo de pensamento imaginativo é essencial para melhorar a comunicação.

VOCÊ S/A - Qual é a principal mudança do trabalho no mundo atual?
Krznaric - Hoje, as pessoas veem significado no trabalho quando colocam seus valores em prática. Anos atrás, o dinheiro era a motivação principal. Desde o fim da Segunda Guerra a necessidade de ter significado no trabalho está crescendo. Uma das principais maneiras de obter isso é levar valores éticos, sociais e morais para o que você faz. Ao longo das últimas décadas, construímos a noção de que, se tivéssemos mais dinheiro, seríamos mais felizes, uma maneira mais individualista de avaliar o que é uma boa vida.
Pesquisas recentes em vários países apontam que a sensação de felicidade não cresce no mesmo ritmo que a renda. Não somos felizes na mesma proporção em que somos ricos. Você trabalha duro e compra coisas que proporcionam uma felicidade imediata e passageira.
Mas aí as expectativas aumentam e você deseja consumir mais para manter-se realizado. Isso traz ansiedade e frustração. Assim como a felicidade vem sendo atrelada a conquistas individualistas, a insatisfação com o trabalho anda pelo mesmo caminho.
O ato de olhar para fora de si pode ser uma maneira de sair dessa lógica. Ao ver a questão de outra perspectiva, você cria diferentes laços sociais e passa a se importar com as outras pessoas de maneira nova.

VOCÊ S/A - O que temos a aprender com a história sobre o trabalho?
Krznaric - O maior erro dos atuais conselhos de carreira é aquele que diz que há um trabalho perfeito para você. Isso não é verdade para a maioria das pessoas. Não há um único trabalho perfeito porque temos muitos traços de personalidade, uma identidade formada por diversos conhecimentos e interesses. A ideia de um “profissional de amplo espectro” é mais interessante como maneira de satisfazer mais objetivos.
Pensar nesse modelo de “portfólio” de atividades é bom não só por aumentar a satisfação com o trabalho. Trata-se de uma sábia estratégia num momento de recessão econômica e insegurança no emprego. Você distribui o risco e não fica com uma única carta na mão. Ser generalista, em vez de especialista, se torna importante.

VOCÊ S/A - É difícil ser generalista numa época em que o trabalho é altamente especializado.
Krznaric - A ideia clássica de sucesso e satisfação no trabalho indica que você alcançará esse estágio após se tornar um especialista em seu campo. Mas já houve períodos históricos, como a Renascença, em que o homem era considerado sábio quando dominava assuntos variados.
Acredito que isso voltará a ser importante hoje em dia. Estamos num momento em que as pessoas recomeçam a atuar em frentes múltiplas, como participar de projetos de curta duração paralelos à ocupação principal. As pessoas querem alimentar os muitos lados de sua personalidade.

Depois do consumismo, o quê?

 

 
Uma das linhas de montagem do IPhone. Nelas, 14 trabalhadores suicidaram-se, só em 2010, por não suportarem condições de trabalho física e psiquicamente demolidoras
A grande ferramenta de controle social da pós-modernidade está em crise. Mas para superá-la, não bastam discursos. O decisivo é reinventar experiências e laços sociais
 
Por George Monbiot | Tradução: Inês Castilho
 
Uma mulher entra numa grande loja de varejo. Sufocada pelas prateleiras abarrotadas, música melosa, cartazes de ofertas, consumidores indiferentes que perambulam pelos corredores, ela e é levada a gritar – repentinamente e para seu próprio espanto. “Isso é tudo o que existe?” Um funcionário sai de seu posto e vem até ela: “Não, minha senhora. Tem mais coisas em nosso catálogo.”
Essa é a resposta que recebemos para tudo – a única resposta. Podemos ter perdido nossos vínculos, nossas comunidades e nossa noção de sentido e valor, mas sempre haverá mais dinheiro e objetos com que substituí-los. Agora que a promessa evaporou, o tamanho do vazio torna-se compreensível.
Não que a velha ordem moderna fosse necessariamente melhor: era ruim de modo diferente. Hierarquias de classe e gênero esmagam o espírito humano tão completamente quanto a fragmentação. A questão é que o vazio preenchido com lixo poderia ter sido ocupado por uma sociedade melhor, construída sobre apoio mútuo e conectividade, sem a estratificação asfixiante da velha ordem. Mas os movimentos que ajudaram a quebrar o velho mundo foram favorecidos e cooptados pelo consumismo.
A individuação, resposta necessária à conformidade opressiva, é capturável. Novas hierarquias sociais, construídas em torno de bens que dão status, e consumo compulsivo tomaram o lugar da velha. O conflito entre individualismo e igualitarismo, ignorado por aqueles que ajudaram a quebrar as velhas normas e restrições opressivas, não se resolve por si mesmo.
De modo que nos encontramos perdidos no século 21, vivendo num estado de desagregação social que dificilmente alguém desejou, mas emerge de um mundo que depende do aumento do consumo para evitar o colapso econômico, saturado de publicidade e enquadrado pelo fundamentalismo de mercado. Habitamos um planeta que nossos ancestrais achariam impossível imaginar: 7 bilhões de pessoas padecendo de solidão epidêmica. É um mundo feito por nós, mas que não escolhemos.
TEXTO-MEIO
Agora, tudo indica que a festa para a qual fomos convidados é restrita aos poucos. Há duas semanas, a Oxfam revelou que o 1% mais rico do planeta possui agora 48% da riqueza mundial; e ano que vem, eles terão mais que o resto do mundo inteiro junto. No mesmo dia, uma empresa austríaca divulgou o modelo de seu novo superiate. Construído sobre o casco de um navio petroleiro, medirá 280 metros (918 pés) de comprimento. Terá 11 decks, três helipontos, teatros, salas de concerto e restaurantes, carros elétricos para levar proprietário e hóspedes de um lado para o outro do navio, e uma pista de esqui com quatro andares.
Em 1949, Aldous Huxley escreveu a George Orwell argumentando que sua própria visão distópica era a mais convincente. “O desejo de poder pode ser tão plenamente satisfeito quando se leva as pessoas a amarem sua servidão quanto se você as flagela e chuta para que obedeçam…” Não creio que estivesse errado.
O consumismo é contrário ao bem comum. Ele reprime a sensibilidade, embotando nosso interesse por outras pessoas. A liberdade de gastar desloca outras liberdades, assim como comer em posição de lótus possibilita esquecer nossas carências. A maioria das formas pacíficas de protesto são agora proibidas, mas ninguém nos impede de devorar os recursos dos quais dependem as futuras gerações. Tudo isso ajuda os oligarcas globais a esgarçar a rede de segurança social, encontrar um jeito de aliviar-se das restrições impostas tanto pela democracia quanto pela tributação e neutralizar ou privatizar o bem comum.
Assim como a sociedade humana foi despedaçada pelo consumismo e pelo materialismo, empurrando-nos para uma Era da Solidão sem precedentes, os ecossistemas foram destroçados pelas mesmas forças. É a mentalidade consumista, elevada à escala global, que agora nos ameaça com um colapso climático, catalisa uma sexta grande extinção de espécies, põe em risco o abastecimento global de água e violenta o solo do qual toda a vida humana depende.
Mas eu não acredito que o consentimento à servidão, vislumbrado por Huxley, seja um estado permanente. A estagnação dos salários, a brutalidade das novas condições de emprego, o rompimento do vínculo entre progressão educacional e avanço social, a impossibilidade para muitos jovens de encontrar boa moradia: tudo nos confronta com a pergunta que só poderia ser adiada em condições de crescimento geral da prosperidade – “isso é tudo o que existe”?
Como sugere o crescimento do Syriza e do Podemos, não é possível construir movimentos políticos que desafiem essas questões se não construirmos também relações sociais. Não é suficiente convocar as pessoas a mudar suas políticas: precisamos criar não só identidade com projetos políticos, mas também experiências de apoio mútuo que ofereçam a segurança, a sobrevivência e o respeito que o Estado não mais proverá.
Em uma série notável de iniciativas que se desdobram além de seus temas usuais, a rede Amigos da Terra começou a explorar as formas como podemos nos reconectar uns com os outros e com o mundo natural. Está, por exemplo, procurando novos modelos para a vida urbana com base na partilha, ao invés do consumo competitivo. Partilha não apenas de carros, eletrodomésticos e ferramentas, mas também de dinheiro (por meio de cooperativas de crédito e microfinanças) e poder. Isso significa um processo de decisões, liderado pela comunidade, em relação a temas como transporte, planejamento e talvez os níveis de renda, salários mínimos e máximos, os orçamentos municipais e a tributação.
Tais iniciativas não substituem a ação governamental: sem a articulação do Estado, elas perdem sentido. Mas podem unir pessoas com uma noção comum de propósito, pertencimento e apoio mútuo que os processos centralizados nunca poderão proporcionar.
Os Amigos da Terra também apoiam a revolução da empatia liderada pelo autor Roman Krznaric, e a educação permanente, que poderia contrapor-se à escolaridade sempre mais restrita, hoje imposta a nossos filhos – uma educação cujo objetivo é preparar as pessoas para empregos que nunca terão, a serviço de uma economia organizada em benefício de outros.
Nessas ideias e movimentos encontramos os sinais de uma resposta à pergunta inicial. Não, isso não e tudo que existe. Há conexão. Apesar dos melhores esforços daqueles que acreditam não haver algo chamado  sociedade, não perdemos nossa capacidade de nos vincular.