quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

No Choque e Espanto de 12 de janeiro, PM de Alckmin promoveu emboscada, arrancou camiseta do PSOL e quebrou os dentes de manifestante; veja as imagens

publicado em 13 de janeiro de 2016 às 16:36
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Depoimento de Raul Santiago, militante do PSOL que a PM obrigou a tirar a camisa do partido
da página do PSOL
Raul Santiago Rosa é militante do PSOL em São Paulo. Durante o ato desta terça-feira (12) contra o aumento das tarifas de transporte público, foi duramente reprimido pela Polícia Militar e, em meio a diversas ameaças, recebeu uma ordem de policiais para tirar a camisa que vestia, não por acaso com os símbolos do partido, que ficou como demonstra a foto. Leia abaixo o seu depoimento:
“Estava na concentração 40 minutos antes do ato ‘começar’. Mal os manifestantes se posicionaram para marchar já iniciou o bombardeio. A polícia estava visivelmente bem organizada, armada e fardada, e todas as vias foram fechadas de modo a nos encurralar.
Eu já estive em várias manifestações com repressão, mas nunca vi essa quantidade de bombas ser jogada no meio da multidão. Várias pessoas se machucaram muito seriamente.
Estava com minha namorada, que estava ajudando uma outra garota, e neste momento estávamos com as mãos para o alto quando jogaram uma bomba de estilhaço entre eu e ela. Ambos fomos atingidos, eu um pouco mais gravemente pois os estilhaços se espalharam pela perna, costas e braço. Neste momento nos perdemos.
Demorei um tempo até conseguir falar com ela, e quando consegui imediatamente fui encontrá-la. Então, quando estava no último quarteirão da Rua Haddock Lobo em direção à Av. Paulista, fui abordado por 5 policiais da PM.
O motorista tirou a arma de fogo letal de dentro do carro para me fazer parar. Joguei minha mala no chão e eles mandaram eu abrir as pernas e colocar a mão na cabeça de costas. Neste momento eles gritaram:
— Sua mala está pesada né? Tem explosivo aí? – Fiquei com muito medo de eles implantarem algo. — Você tem passagem na delegacia? O que faz da vida?
Eu respondi que não tinha, que era estudante e trabalhador de carteira assinada, que estava lá porque era contra o aumento.
– Repete para mim: você tem sorte de estar vivo – repeti – é a primeira vez que te vejo aqui, se eu te ver de novo em manifestaçãozinha de esquerda vou quebrar seus dentes e você vai cuspir um a um.
Estava com muito medo, mas tentei olhar as identificações dele. Eles não deixavam.
— Olho nos meus olhos seu vagabundo, vou dar um tapa nessa orelha com brinco até rasgar ele fora.
Depois disso eles tiraram dezenas de fotos minhas, do meu rosto com RG etc.
— Você tá no meu “book” agora, se eu te pegar de novo vou te estraçalhar.
Eles revistaram minha mala inteira, ficaram me aterrorizando. Depois que terminou eu segurava minha camiseta para cima pois ela encostava no machucado do estilhaço da bala e ardia muito.
– Tomou bala é? Isso é menos do que você merece, eu tô com vontade de te encher de porrada aqui. Tira essa camiseta do partido e põe na mala que cê tá liberado, cê entendeu?
Foi horrível, mas eu tive de tirar a camiseta que expressa minha posição política e colocar dentro da mala como se eu tivesse vergonha dela. Eu tinha outra camisa que ele me obrigou a vestir e fui embora.
Visivelmente essa equipe da PM estava destacada para ‘apavorar’ a juventude, desestimulando todo mundo a ir nas manifestações. Mas isso nos fortalece, sabemos que lutar por direitos não é crime, portanto não devemos nos intimidar. Além disso é um absurdo a repressão ideológica que sofri, mostrando o retrocesso que é essa polícia militarizada.
Estou feliz de saber que estou fazendo o certo. Se meu partido é inimigo de quem aumenta a passagem, fecha escolas, precariza a saúde e bate em trabalhadores e estudante, tenho orgulho de vestir a camisa do PSOL e tomar quantas bombas forem necessárias para deixar clara a minha posição de que sou contra a política do governo do estado e da prefeitura.”
PS do Viomundo: O Estadão contou uma bomba a cada sete segundos por um período de 6 minutos. Um verdadeiro Choque e Espanto.
*****
NOTA DO MOVIMENTO PASSE LIVRE SOBRE A REPRESSÃO POLICIAL NO ATO DO DIA 12
Em 2013,a população mobilizada barrou o aumento da tarifa. De lá para cá, ao invés de respeitar a conquista histórica do povo, a Prefeitura e Governo do Estado aumentaram em 80 centavos a tarifa, 26% em relação aos R$3,00! Pelo segundo ano seguido o governador Geraldo Alckmin e o prefeito Fernando Haddad deram as mãos e aumentaram juntos as passagens de trens, metrôs, ônibus urbanos e interurbanos.
Esse aumento absurdo, prejudica principalmente a população mais pobre. Estudos do IPEA sugerem que mais de 400 mil pessoas podem ser excluídas do transporte público só na cidade de São Paulo por não poder pagar a tarifa. Esse aumento só interessa aos empresários do transporte, que mantém seus lucros milionários. O valor da tarifa, assim como sua própria existência, é uma decisão política, que nada tem haver com a inflação.
É a decisão de fazer a população arcar com a farra dos ricos pagando não só com a delapidação dos seus salários, mas também com seu sofrimento cotidiano nos ônibus e trens lotados! Não aguentamos mais!
O direito à cidade é a pauta básica do MPL. Ontem vimos que ainda há muito pelo que lutar. A cidade esteve sitiada pela polícia militar numa verdadeira operação de guerra contra a população, que se reunia para lutar contra mais um aumento de tarifa.
As barreiras policiais são mais uma das inúmeras catracas que enfrentamos todos os dias. Elas impediam que a população participasse da manifestação, revistando e prendendo pessoas que tentavam passar pelo bloqueio policial para chegar até o ato. Foi instalado um clima de terror impedindo nosso direito democrático de manifestação. A tática orquestrada pela Polícia era obrigar a manifestação a descer pela Consolação, onde tinha sido armada um verdadeiro matadouro, com policias da tropa de choque espalhadas ao longo do percurso.
Ao denunciarmos esta situação, e insistir em nosso trajeto original, o ato foi reprimido antes mesmo que ele começasse, situação que nunca ocorreu em um ato organizado pelo MPL. A PM cercou o ato completamente, nos impediu de seguir nosso trajeto, quis impor um trajeto que levava a manifestação para a praça de guerra montada no centro da cidade, e quando o ato tentou sair, sem descumprir nada do que havia sido informado ao Comando da Polícia, massacrou os manifestantes com bombas de estilhaço, de gás lacimogênio, balas de borrachas, spray de pimenta e porrada.
A PM continuou perseguindo os manifestantes após a implosão do ato, deixando dezenas de feridos, com fraturas expostas pelos estilhaços de bombas, atropelando manifestantes com motos, novamente atirando com bala de borracha nos olhos das pessoas.
Além dos vários detidos durante o ato na manobra conhecida como Calderão de Hamburgo, proibida em diversos países, a PM encaminhou 16 detidos as Delegacias, e 2 seguiram presos: um adolescente espera decisão da Vara da Infância para ser liberado ou encaminhado à Fundação Casa, e um maior de idade que acaba de ser liberado na audiência de custódia.
As cenas de terror que vivenciamos não foram despreparo da Polícia: são parte de uma estratégia de endurecimento da repressão. O Secretário de Segurança Pública, Alexandre de Moraes, defendeu a ação e fez uma estranha coletiva às 21h, quando a população que resistia ainda era reprimida no centro, defendendo que os movimentos sociais não tem direito de decidir o trajeto de seus atos. E a repressão que assistimos ontem não foi isolada.
A SSP mostrou que está disposta a trabalhar na ilegalidade para combater os protestos e defender as catracas: na segunda-feira, a Polícia Militar fez uma ofensiva contra os manifestantes, divulgando em tom de ameaça uma série de imagens de pessoas que teriam agredido um policial militar infiltrado durante protesto após terem presenciado o mesmo policial à paisana dando golpes em um manifestante.
Após a divulgação dessas imagens, SEM NENHUM MANDADO DE PRISÃO, a Polícia Militar foi na casa de duas pessoas que dizem que nem sequer participavam da manifestação, e supostamente teriam sido identificadas nessas imagens, e de forma absolutamente ilegal as levou presas para o 3o DP. A partir daí uma série de coações e ilegalidades se seguiram, diferentemente da versão apresentada pela polícia militar, eles foram obrigados a ir para a delegacia.
Como comprova o boletim de ocorrência, a chegada ao DP ocorreu as 20:13. Na delegacia, uma série de abusos ocorreu, a começar pelo fato de que as pessoas estavam detidas ilegalmente sem ordem judicial, e sem que aquilo configurasse um flagrante. No 3o DP, argumentou-se que essas prisões estariam dentro de um boletim de ocorrência por roubo registrado no 2o DP na sexta-feira, dia 08/01, mais de 72 horas antes.
Para buscar legitimar essa atuação absolutamente ilegal da polícia militar, o delegado da polícia civil conseguiu um mandado judicial decretando a prisão temporária dessas três pessoas em plena madrugada, que foi emitido às 01:48, ou seja, muito depois da PM ter prendido as pessoas em suas próprias casas.
Os dois seguem presos temporariamente, tendo sido a prisão decretada por um prazo de 5 dias. Além disso, outra pessoa foi presa em flagrante na sexta-feira, também no 2o DP, acusada de roubo da mochila do policial infiltrado. Ao todo, nesse momento, ao menos 5 pessoas seguem presas em virtude das manifestações contra o aumento da passagem.
Ao invés de discutir o transporte, o governo mostra que o único diálogo é a repressão. E a única prioridade também: os tanques blindados para conter as manifestações custaram R$30 milhões de dinheiro público, e cada uma das centenas de bombas lançadas contra a população chega a custar R$800. A munição que nos ataca é tarifa zero, bancada pelos impostos, mas a tarifa do transporte não! Não vamos nos intimidar! Resistiremos até o fim de todas as catracas!
R$3,80 NUNCA!
Movimento Passe Livre – São Paulo

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