Alguém se lembra desse caso? Alguém sabe o que aconteceu? Alguém foi
punido? Algum diploma casado?
Olhem a desculpa que a repórter deu:
“Quero passar para medicina sem estudar muito porque não tenho nem
tempo. Trabalho com meu pai em São Paulo e sei que sem estudar é difícil.”
E olha a desculpa que a mulher que vendia as vagas deu:
“— Faço isso para ajudar as famílias dos alunos. Tem certos casos em que
o aluno estuda, estuda um ano ou dois, e não consegue passar de jeito nenhum. A
vida dele pára e até problemas psíquicos começam a aparecer. A família começa a
viver em função daquele problema — disse ela durante a conversa.”
Abaixo, a notícia na
íntegra:
Publicado em: O Globo (O
País) em 25 de Agosto de 1996
Quadrilha vende vagas em faculdades paulistas
Por
Rodrigo França Taves
Aprovação
garantida custa de R$ 25 mil a R$ 45 mil. Esquema é tão seguro que o pagamento
chega a ser facilitado.
BRASÍLIA - O vestibular de São Paulo está comprometido, antes mesmo de
abertas as inscrições. Uma quadrilha com ramificações em várias cidades está
vendendo, de R$ 25 mil a R$ 45 mil, vagas em faculdades de medicina e
odontologia em São Paulo, São José do Rio Preto, Botucatu, Catanduva, Marília,
Araçatuba e Araraquara.
A fraude envolve o mais importante concurso do estado. Dez vagas na
faculdade de medicina da Santa Casa de Misericórdia já estão vendidas desde
junho. Os alunos da Santa Casa são escolhidos através do Fuvest, assim como os
da USP e da Universidade de Campinas (Unicamp).
Para comprovar a fraude, sobre a qual a Delegacia do Ministério da
Educação em São Paulo já tinha recebido informações, o GLOBO conseguiu gravar
em fita cassete duas conversas do repórter, que dizia estar interessado numa
vaga em faculdade de medicina, com a dona de um curso pré-vestibular de São
José do Rio Preto que se apresentou como intermediária.
O esquema não envolve escuta eletrônica, cópia de gabarito ou troca de
provas, como nas fraudes tradicionais. A quadrilha tem acesso ao sistema de
digitação dos gabaritos e, portanto, à organização dos vestibulares.
O aluno interessado precisa apenas pagar uma entrada de 40%, dar uma
xerox com o número da inscrição e fazer a prova normalmente. Na conversa, a
professora Fátima Souza, dona do Reforço Escolar 137, ofereceu 100% de garantia
de aprovação. O aluno interessado seria procurado depois do concurso em seu
escritório por outro integrante da quadrilha encarregado de cobrar a segunda
parcela do negócio. Até seu endereço seria descoberto pelos documentos de
inscrição no vestibular, aos quais eles têm acesso.
Os preços do esquema variam de acordo com a instituição: uma vaga na
faculdade de medicina da Universidade do Estado de São Paulo (Unesp) em São
José do Rio Preto custa R$ 25 mil. A professora disse que poderá vender este
ano dez das 64 vagas da faculdade, das quais seis já estariam pagas e duas em
negociação.
O vestibular é o Vunesp. Na tabela da corrupção, a quadrilha cobra o
mesmo preço para ingresso sem esforço na Universidade de Marília (Unimar) e na
Faculdade de Medicina de Catanduva, que fazem vestibulares isolados.
Já na Unesp de Botucatu, onde os alunos também ingressam pelo Vunesp, as
vagas custam R$ 20 mil antes da inscrição e R$ 25 mil depois dos resultados — o
mesmo preço da Santa Casa. Por ser realizado em duas fases, o Fuvest é mais
trabalhoso também para os fraudadores.
A professora disse que o esquema funciona há pelo menos oito anos sem
falha. Os integrantes da quadrilha responsáveis pela fraude num dos
vestibulares não conhecem os do outro, para dificultar a ação da polícia.
— Já é o quarto ano que intermedio. É um esquema absolutamente
garantido, tanto que recebemos a maior parte do valor depois que o aluno já
está aprovado. É uma troca de confiança: o aluno confia na gente agora e nós
corremos o risco de não receber a segunda parte depois que ele já estiver
aprovado — disse.
Para a delegada do MEC em São Paulo, Gilda Portugal, não resta dúvida de
que a comprovação da fraude "põe sob suspeita o vestibular de São
Paulo":
Trechos da conversa com Fátima, integrante da quadrilha
'VOCÊ SÓ TEM QUE FAZER A PROVA'
O GLOBO: Quero passar para
medicina sem estudar muito porque não tenho nem tempo. Trabalho com meu pai em
São Paulo e sei que sem estudar é difícil.
FÁTIMA: Você quer fazer aqui? Porque pode ser até em São Paulo...
O GLOBO: Aqui.
FÁTIMA: Bom, o negócio é assim: feito o contato, você vai fazer sua
inscrição normal. Depois você me entrega uma xerox da inscrição porque o
trabalho é feito todo com o número de inscrição, e é feito o contato todo com
você no seu escritório. Então não tem gabarito, não tem nada, nada, nada, não
tem passagem eletrônica; isto tudo é arriscado. Você só tem que fazer a prova,
tá? A forma de pagamento é feita da seguinte forma: quando a pessoa é conhecida
fica mais fácil, porque sabe com quem está lidando...
O GLOBO: Essa questão de dinheiro não tem problema...
FÁTIMA: Primeira coisa: você paga agora dez e o resto depois da sua
matrícula. O negócio é de tanta garantia que pode ser feito assim.
O GLOBO: E se eu quiser fazer em outra cidade?
FÁTIMA: Nas outras cidades que nós temos é particular. Aqui é estadual,
a faculdade foi estadualizada pela Unesp. Então não tem problema, porque você
não vai pagar mensalidade, só a matrícula. O GLOBO: Todas as outras são
particulares?
FÁTIMA: São três particulares e duas que não são particulares. E tem a
que é estadual, aí é a USP, e ela é bem mais cara. Eu vou ser sincera com você:
não compensa. É o mesmo nível de São José do Rio Preto, só que o preço dela é
R$ 45 mil.
O GLOBO: R$ 45 mil na USP?
FÁTIMA: Não é USP, é Unesp também, só que Unesp da Júlio de Mesquita.
Aqui é Rio Preto-Unesp mas é uma fundação.
A USP não; a USP é Ribeirão Preto. São Paulo só tem a Santa Casa, nesse
mesmo preço.
O GLOBO: R$ 45 mil?
FÁTIMA: R$ 45 mil, mas você vai pagar de entrada R$ 20 mil.
O GLOBO: E quais são os outros lugares que eu poderia escolher, mesmo
sendo particular?
FÁTIMA: Catanduva e Marília. Uma é Funesp, outra é particular... mas não
é vantagem para você porque vai estudar onde você quer e o destino é certo.
O GLOBO: Mas como a gente vai saber se vai dar certo, como é o esquema?
FÁTIMA: Você vai fazer a prova normal, como qualquer outro aluno.
O GLOBO: Faço a prova sem saber nada. E aí?
FÁTIMA: Aí eles vão cuidar do teu
problema, não há contato com você, nada. Por isso preciso do seu número, do seu
código.
O GLOBO: É na hora de computar, talvez?
FÁTIMA: É na hora. É uma empresa que faz o vestibular, a Vunesp.
Intermediária desconfia do logro mas mantém negócio Ao ser descoberta, diz que
tinha pena dos alunos que têm dificuldades e acabam com problemas
BRASÍLIA - Mesmo já desconfiada de que não estava lidando com um estudante,
depois da segunda conversa com o repórter do GLOBO, a professora Fátima Souza
forneceu um número de conta-corrente no Banco Bamerindus para que os R$ 10 mil
de entrada pela compra de uma vaga na Faculdade de Medicina da Unesp, em São
José do Rio Preto, fossem depositados.
Os dois encontros foram realizados no fim de semana passado em seu curso
pré-vestibular, na Rua Ipiroldes Borges, em São José do Rio Preto, e as
conversas posteriores foram em telefonemas para o hotel onde seu suposto
cliente estava hospedado.
Para gravar a história, o jornalista se apresentou como filho de um
empresário paulista do ramo de comércio exterior. Antes de selar o negócio, a
professora exigiu referências pessoais do aluno e fez questão de saber quem
tinha indicado o esquema. Foi preciso que uma pessoa se apresentasse como pai
do aluno, numa ligação para a casa dela, para que Fátima aceitasse incluir o
repórter na relação de dez estudantes que não precisarão se esforçar para
ingressar na universidade.
— Faço isso para ajudar as famílias dos alunos. Tem certos casos em que
o aluno estuda, estuda um ano ou dois, e não consegue passar de jeito nenhum. A
vida dele pára e até problemas psíquicos começam a aparecer. A família começa a
viver em função daquele problema — disse ela durante a conversa.
Ao saber que suas conversas tinham sido gravadas por um repórter do
GLOBO, a professora negou sua participação no esquema de venda de vagas e
justificou as conversas com o argumento de que apenas tentava descobrir quem
queria prejudicá-la.
Fátima pôs à disposição suas contas bancárias e telefônicas para provar
que tem um padrão de vida baixo, incompatível com a corrupção que intermedia.
Professora ameaça processar repórter por causa da denúncia
— Pago dois aluguéis e tenho um carro usado. Não tenho padrão de vida
para quem faz o que vocês estão dizendo. Vou te processar se essa reportagem
for publicada — ameaçou.
Como o Fuvest e o Vunesp são fiscalizados pelo Conselho Regional de
Educação de São Paulo, a delegada do Ministério da Educação, Gilda Portugal,
pretende se reunir com os conselheiros para discutir o que fazer diante da
denúncia.
O MEC, segundo ela, tem responsabilidade direta pelos vestibulares
isolados das faculdades particulares.
Fonte:
http://www.bv.fapesp.br/namidia/noticia/20287/quadrilha-vende-vagas-faculdades-paulistas/
Eu querendo ir para uma pública de medicina , e tem gente fazendo essa merda
ResponderExcluirIndico sem dúvidas uma
ResponderExcluirpessoa que faz de verdade
Oliveiraingrid89@gmail.com
Conseguir a minha
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Indico oliveiraingrid89@gmail.com
ResponderExcluirConseguir a minha vaga com ela
Interesse?
ResponderExcluirProcure esse número
38998383557