Uma vez
um professor psiquiatra disse que no hospital em que trabalhou, o
pessoal o confundia com um padre. Que ele era chamado muitas vezes
para situações, envolvendo a morte eminente de pessoas, e que pelo
que entendi, nada mais poderia ser feito, nem mesmo para um
psiquiatra.
Uma das
poucas coisas interessantes, que o “sabe-tudo” Dr. Dráuzio
Varella disse na minha opinião, foi com relação à morte. Ele
trabalhou muito tempo com oncologia. Disse que uma das coisas que
mais o impressionavam nos pacientes chamados de terminais, e que foi
um grande aprendizado também para ele, era perceber na maioria das
pessoas prestes a morrer, uma certa “tranquilidade” (não foi
essa a palavra que ele usou), um certo “distanciamento” dessas
pessoas, no olhar, diante outras pessoas, os familiares, diante a
vida. E eu já vi essa característica também em algumas pessoas que
visitamos em nosso cotidiano de trabalho. É como se essa pessoa já quase não
fizesse parte desse mundo mais...
Quando
vemos pessoas jovens, é sempre mais complicado.
Esses
dias em uma conversa com minha mãe, lembrando os mortos de nossa
família, ela me relatou dois episódios: a morte de seu pai, e a
morte de seu tio. Ela disse que seu tio, segundos antes de seu
suspiro final, viu ele segurar e apertar forte a mão de sua esposa.
Aquela imagem marcou muito ela. Depois me contou sobre meu avô.
Contou, já me recomendando, que se vivenciasse uma situação
parecida com a dele, que nós, filhos, fizéssemos o mesmo que ela
havia feito.
Ela
disse que meu avó, entubado no hospital, sentia fortes dores. Que
ela conseguia ver aflita, um grande sofrimento dele, através até da
máscara de oxigênio, canos e etc. Depois, contou sobre como uma
“santa” (ela quase sempre adjetiva assim os médicos) médica
receitou para ele um remédio muito forte, para a dor. E que ele não
sentiu mais nada, até seu fim... Ela relatou uma noite, em que
estava dormindo no quarto com meu avó, e que ele começou a sentir
muitas dores, e ficar agitado. Disse que foi atrás da enfermeira, e
pediu que a mesma lhe aplicasse o remédio que a doutora havia
receitado. Contou que no primeiro momento, a enfermeira relutou,
dizendo que era um remédio muito forte, que encurtava a vida das
pessoas, e portanto, era complicado sua administração. Mas mediante
a afirmativa de uma outra colega, dizendo que a médica havia mesmo
receitado o medicamento, a enfermeira aplicou, e meu avó dormiu.
Depois,
eu e minha mãe ficamos discutindo sobre qual seria a melhor forma de
partir... Ela disse que não gostaria de sentir dor alguma, como
acontecera com meu avô. Disse que se ficasse naquela situação, que
até encontrássemos a médica, para que ela lhe cuidasse.
Eu fui
contra. Disse que é claro que ninguém mesmo quer sentir dor,
porém, a pessoa com aquele tipo de medicação forte, também não
vê nada o que está acontecendo, ou do que lhe resta ainda para
acontecer. E que isso era muito complicado, pois a pessoa, pode fazer
coisas, como por exemplo, apertar a mão da esposa, antes de partir.
Coisa que não faria se estivesse sedado. E outra, o que seria a dor,
nos momentos finais?
Enfim,
esses dias, em conversa com colegas, chegamos a conclusão, que o
ideal mesmo, era que a pessoa pudesse ter essa escolha, de ser
sedado, ou não. Mas existem casos em que não podemos obter essa resposta da pessoa.
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