Há
tempos venho querendo escrever sobre uma coisa que ainda lateja na
minha cabeça, apesar do tempo. Mais de dois anos.
O
que me fez escrever foi um artigo que li na folha, do interessante, e
“na moda” - Luiz Felipe Pondé. Esse Pondé, que ainda não li
nenhum de seus livros, está a todo o momento na mídia, como na
Globo e Veja. É um filósofo que vem dando entrevistas. Ele fala
sobre os “jantares intelectuais”, onde as pessoas não conseguem
digerir o ensopado que são suas próprias vidas. Vi ele também no
Roda Viva. Ele faz uma crítica forte, contundente e criativa, desse
esquerdismo existente em nosso país. Acho isso muito bom. Ele
escreveu sobre suas percepções na Rio +20. Em um trecho, comenta
sobre a hipocrisia, dos intelectuais “verdes”, que pregam ideais
como a solidariedade, a fraternidade, porém, contraditoriamente,
fazem parte de violentos e desonestos ambientes de trabalho. E eu
fico imaginando outra questão também: esses ambientalistas, com
certeza, fazem umas 20 viagens por mês, sempre participando de
conferências (achando que são imprescindíveis sempre), palestras,
etc e tal. Será que não sabem quanto é nocivo para o ambiente, o
combustível usado em aviões? Que lógica é essa? Enfim...
Ele
me fez lembrar a palestra que assisti do Gastão Wagner, uma das mais
importantes da minha vida...
Gastão
é um médico, sanitarista, da saúde coletiva se preferir, que
influenciou com suas ideias, a maneira como a saúde pública vem
sendo implantada atualmente. Em suas palavras, muito me impressionou,
não apenas o seu conhecimento, mas principalmente, a forma como deu
“tapas com luvas de pelica” na cara das pessoas que se faziam
presentes no recinto (hábito de pessoas muito inteligentes). Entre
os presentes, alguns secretários de saúde e outros gestores. Ele
abordou os temas centrais, discutidos em saúde atualmente.
Um
de seus comentários “mexeu” na relação dos gestores ( na
maioria de médicos mesmo - só a título de esclarecimento) com a
classe médica. Levantou um ponto, relacionado as reformas na saúde
mediante as atribuições dos gestores (o tema da palestra era
“co-gestão, ou gestão compartilhada”): é a política do “doa
a quem doer”. E sabemos que a classe médica, é uma, que ninguém
gosta de provocar. Argumentou, falando de uma grande quantidade de
médicos estrangeiros (africanos, asiáticos) existentes na Atenção
Primária da Inglaterra. Que quando começaram as reformas por lá,
os médicos ingleses “torceram o nariz”, e partiram para outros
países, abrindo vagas para médicos de outras nacionalidades. Ou
seja, reformas geram conflitos, e tensões, e é necessário
compromisso administrativo para executá-las, como estão no papel. E
o que vemos, é que existe uma “flexibilidade” (para não dizer
outras coisas) com a classe médica...
Mas
o mais interessante mesmo, foi quando falou sobre seus colegas de
trabalho, que trabalham no Departamento de Medicina da Unicamp.
Criticou seus próprios pares (e isso é quase inédito),
questionando: que tipo de “compromisso com a saúde” tinham,
colocando professores substitutos em seus lugares em sala de aula por
exemplo, enquanto percorriam o mundo, dando consultorias,
enriquecendo...
Esse
tipo de comentário, de crítica, autocrítica, me impressiona muito.
No caso acima, como essas pessoas vão a determinados lugares,
falarem de Humanização, de Controle Social, Determinantes Sociais
em Saúde, tendo um estilo tão ganancioso e agressivo de vida? Soa
como um disparate. Fora o compromisso com a formação dos alunos....
etc.
É
sempre complicado vivermos esse equilíbrio, entre o que eu falo com
o que eu faço... E do que adianta as questões “macro”, sendo
que o meu “micro” é contraditório. Interessante aquela famosa
frase de Gandhi: “devemos ser a mudança que queremos ver no
mundo”.
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