quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Faça o que eu falo, não faça o que eu faço.

Há tempos venho querendo escrever sobre uma coisa que ainda lateja na minha cabeça, apesar do tempo. Mais de dois anos.
O que me fez escrever foi um artigo que li na folha, do interessante, e “na moda” - Luiz Felipe Pondé. Esse Pondé, que ainda não li nenhum de seus livros, está a todo o momento na mídia, como na Globo e Veja. É um filósofo que vem dando entrevistas. Ele fala sobre os “jantares intelectuais”, onde as pessoas não conseguem digerir o ensopado que são suas próprias vidas. Vi ele também no Roda Viva. Ele faz uma crítica forte, contundente e criativa, desse esquerdismo existente em nosso país. Acho isso muito bom. Ele escreveu sobre suas percepções na Rio +20. Em um trecho, comenta sobre a hipocrisia, dos intelectuais “verdes”, que pregam ideais como a solidariedade, a fraternidade, porém, contraditoriamente, fazem parte de violentos e desonestos ambientes de trabalho. E eu fico imaginando outra questão também: esses ambientalistas, com certeza, fazem umas 20 viagens por mês, sempre participando de conferências (achando que são imprescindíveis sempre), palestras, etc e tal. Será que não sabem quanto é nocivo para o ambiente, o combustível usado em aviões? Que lógica é essa? Enfim...
Ele me fez lembrar a palestra que assisti do Gastão Wagner, uma das mais importantes da minha vida...
Gastão é um médico, sanitarista, da saúde coletiva se preferir, que influenciou com suas ideias, a maneira como a saúde pública vem sendo implantada atualmente. Em suas palavras, muito me impressionou, não apenas o seu conhecimento, mas principalmente, a forma como deu “tapas com luvas de pelica” na cara das pessoas que se faziam presentes no recinto (hábito de pessoas muito inteligentes). Entre os presentes, alguns secretários de saúde e outros gestores. Ele abordou os temas centrais, discutidos em saúde atualmente.
Um de seus comentários “mexeu” na relação dos gestores ( na maioria de médicos mesmo - só a título de esclarecimento) com a classe médica. Levantou um ponto, relacionado as reformas na saúde mediante as atribuições dos gestores (o tema da palestra era “co-gestão, ou gestão compartilhada”): é a política do “doa a quem doer”. E sabemos que a classe médica, é uma, que ninguém gosta de provocar. Argumentou, falando de uma grande quantidade de médicos estrangeiros (africanos, asiáticos) existentes na Atenção Primária da Inglaterra. Que quando começaram as reformas por lá, os médicos ingleses “torceram o nariz”, e partiram para outros países, abrindo vagas para médicos de outras nacionalidades. Ou seja, reformas geram conflitos, e tensões, e é necessário compromisso administrativo para executá-las, como estão no papel. E o que vemos, é que existe uma “flexibilidade” (para não dizer outras coisas) com a classe médica...
Mas o mais interessante mesmo, foi quando falou sobre seus colegas de trabalho, que trabalham no Departamento de Medicina da Unicamp. Criticou seus próprios pares (e isso é quase inédito), questionando: que tipo de “compromisso com a saúde” tinham, colocando professores substitutos em seus lugares em sala de aula por exemplo, enquanto percorriam o mundo, dando consultorias, enriquecendo...
Esse tipo de comentário, de crítica, autocrítica, me impressiona muito. No caso acima, como essas pessoas vão a determinados lugares, falarem de Humanização, de Controle Social, Determinantes Sociais em Saúde, tendo um estilo tão ganancioso e agressivo de vida? Soa como um disparate. Fora o compromisso com a formação dos alunos.... etc.
É sempre complicado vivermos esse equilíbrio, entre o que eu falo com o que eu faço... E do que adianta as questões “macro”, sendo que o meu “micro” é contraditório. Interessante aquela famosa frase de Gandhi: “devemos ser a mudança que queremos ver no mundo”.

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