O que faz
uma pessoa nascer nos EUA, morar em Los Angeles, estudar nas mais
conceituadas universidades, trabalhar para um dos mais importantes
jornais do mundo, ter família, amigos, etc., (como qualquer outra
pessoa, pelo menos nesses últimos aspectos), e mesmo assim, se
“enfiar” com sua bela esposa, numa das zonas de conflitos mais
perigosas do mundo: a Caxemira, onde a Índia e o Paquistão se
digladiam? Uma região pobre, miserável, e um dos principais abrigos
para pessoas chamadas de “terroristas”?
Filmes
assim muito me fascinam e inquietam. E levanto algumas questões que
passam por minha cabeça. Seria a fama? Um jornalista arriscaria a
vida, como por exemplo, Tim Lopes, no meio dos traficantes, para ter
fama? Lógico que no caso dele não, pois a grande maioria das
pessoas como eu, não o conheciam. Ele foi um repórter
investigativo, então, nunca divulgava sua identidade. Seria o
dinheiro? Mas o cara do filme já tinha uma vida “sossegada” pelo
que me pareceu. Nascido nos EUA, inteligente, jornalista...
O filme
“O preço da coragem” fala de uma história real, do jornalista
Daniel Pearl, que morreu em 2007, sequestrado e depois decapitado no
Paquistão. Mostra os dias que se sucederam, depois de seu sequestro,
até o seu final fatídico. O filme foi baseado no livro da esposa de
Daniel, Mariane Pearl, também jornalista, grávida de 06 meses, que
o escreveu, como uma forma de falar um pouco ao filho, quem teria
sido o seu pai. O papel dela foi interpretado por Angelina Jolie, com
belos encaracolados cabelos pretos, caracterizando sua personagem,
francesa, de origem cubana.
Daniel
era o chefe da sucursal asiática, do The Wall Street Journal. Estava
fazendo uma matéria sobre um suposto homem bomba. Saiu para o
trabalho, dizendo a esposa que talvez chegasse atrasado para o
jantar, e não mais voltou. O filme fala sobre questões atuais e nem
tão atuais assim. Atuais: terrorismo, 11 de setembro, homem bomba,
Guantánamo, jornalismo global. Nem tão atuais: miséria, miséria
humana, conflitos religiosos, direitos humanos, dignidade,
espionagem, diplomacia, diferenças e principalmente: coragem. Uma
frase que a esposa disse, que me recordo, apelando para a TV, no
decorrer do sequestro (pois existia um boato, de que Daniel seria um
espião americano) muito forte: “onde existir miséria, existirá o
terror”.
O
mensagem que me passou o filme foi esse grande, descolamento que pode
uma pessoa, fazer de sua “zona de conforto”. Sua coragem em ir
para um lugar desses do mundo (falando assim, até parece que eu vivo
na Europa...), para narrar fatos para um outro mundo, relacionados a
coisas “obscuras”, como disputas petrolíferas, intolerância
religiosa, genocídios, escravidão, ditaduras, tráfico de armas,
política, entre outras, que estão acontecendo por aí (sem excluir
nosso país). Quer dizer, existe muita “coisa errada” nesse
mundo. Ele poderia sentar sua bunda em um escritório, cuidar de sua
aposentadoria, e viver a vida tentando gozar o máximo possível.
Optou por tentar fazer a diferença, e trabalhar por um sentido
maior, acreditando que essa realidade ora pode ser muito cruel, e que
podemos fazer alguma coisa. Como jornalista, foi trabalhar. Morreu.
Lembrei-me de um outro filme verídico, em que contava a história de
um fotógrafo americano, senão me engano, que trabalhando
fotografando as atrocidades de uma guerra recente no leste europeu,
foi morto. Recentemente também, uma fotógrafa morreu, nesses
conflitos que estão acontecendo no Oriente Médio...
Enfim, o
filme mostra como existe “o mau no mundo” (que mata – que
explora – que faz sofrer) em seu sentido amplo, abstrato, difuso,
mas real. E como existe ainda pessoas que dão até a própria vida,
para que alguma coisa melhore.
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