Em
fevereiro desse ano, fui a Brasília. Fui tentar buscar uma
oportunidade de estudar. Por lá, andando de ônibus, uma cena me
chamou muito atenção, até tirei uma foto com meu celular, tamanha
minha surpresa. Em quase toda parada (digo no Plano Piloto), havia
uma estante com livros. Na hora, essa cena me fez lembrar daquela "prática" chamada BookCrossing. Que é a pessoa pegar um tal
livro, e deixá-lo em um local público, como em praças, parques,
paradas, etc., com um aviso, pedindo para que a pessoa, se tiver
interesse, que o levasse consigo, e depois de lê-lo, deixasse também
no mesmo espaço ou em outro, para que outra pessoa possa fazer o
mesmo que ele, e assim por diante. (Eu mesmo, nunca fiz isso, pois
tenho um certo apego aos meus livros, mas vou fazer a partir de
agora. E conheço pessoas também, que para emprestar um livro para um
conhecido, é uma dureza...)
Mas em
Brasília, fiquei muito impressionado, como disse, devido ver a
quantidade de livros, das mais variadas qualidades (vi títulos muito
interessantes), ali a disposição de qualquer um, de todos, e a
estrutura em que estavam eles (eram estantes de ferro que ficavam
fixas nas paradas, no cantinho geralmente).
Isso foi
em fevereiro. E eu fiquei pensando nesse incrível iniciativa, que o
governo do DF, havia tido.
Semanas
depois, assistindo um programa a noite na TV Brasil, o: 3 a 1,
surpreendentemente para mim, o entrevistado era o idealizador daquela
iniciativa (caindo por terra minha impressão de que era o governo.
“Santa ingenuidade” né?). O apresentador o apresentou como um
“agitador cultural de Brasília”. E ele falou sobre alguns
trechos de sua bonita história de vida. Imigrante nordestino, chegou
em Brasília de “pau –de – arara”. Aos 15 anos aprendeu a
ler, e aos 18 leu seu primeiro livro. Ressaltou que gosta de ler os
clássicos, como Platão e Aristóteles. Numa frase linda que disse,
citou Aristóteles: “o homem somente é realmente livre, quando
percebe que não é maior, nem menor, do que nenhum outro homem.” E
em vários outros momentos da entrevista, cita outros trechos com
força, parecendo incorporadamente.
E a
história ainda fica melhor. Há algum tempo, ele com muita
“ralação”, comprou um açougue. Isso mesmo, ele é açougueiro
de profissão até hoje também. E em seu estabelecimento, de
carnes, começou também a oferecer livros para os seus clientes, e
não apenas proteínas. Pelo que eu entendi, os livros ficavam dentro
no açougue, e no próximo momento, ele os colocou na frente do
açougue. Depois, os livros foram parar no ponto de ônibus, que fica
próximo. E agora, 10 anos depois, a Unesco divulga mundialmente essa
experiência, muito bem sucedida, relacionada a cultura e a educação
de uma sociedade, para uma cidade. Parece que a partir desse
“estopim”, surgiram outros projetos. Como um outro, em que em um
dia do meio do ano, eles (com o pessoal dele) promovem um momento de
“arte na rua”, onde entre outras atividades, um artista da música de renome nacional faz
um show, em uma quadra comercial, na rua, no Centro do DF. Disse que
mais de 20 mil pessoas participaram do último evento (já incluso no
calendário anual cultural oficial de Brasília).
Voltando
aos livros nos pontos de ônibus, ele disse que existem relatos de
pessoas que passaram no vestibular, com a ajuda dos livros
emprestados da “Biblioteca Popular de Cultura” (acho que esse é
o nome do projeto) para se ter uma ideia. E ainda, que vê cada vez
mais as pessoas cuidando daqueles livros, do seu manuseio, na entrega
deles, dos locais onde ficam... Contou até o relato de uma amiga
sua, que surpreendida por um mendigo na calçada de um bar,
oferecendo uma pilha de livros, depois de comprá-los, por qualquer
“mereca”, viu o carimbo do Açougue. Foi lá, e os deixou
novamente em uma parada.
Nas
palavras de uma amigo, depois de relatar a ele essa história:
“coisas assim transformam o mundo”.
Na única foto que tirei (essa foi uma das últimas paradas que havia passado, e em outras, havia muito mais livros, e não estavam nesse estado de "desarrumação"....), reparei que o nome do açougue estava em uma folha colada na estante (Açougue CulturalT-Bone). Mas quando a tirei, nem reparei, achei que era propaganda... Ele se chama Luiz Amorim.
Lembrando disso tudo, eu me recordei de uma matéria que há muitos
anos atrás assisti, de uma iniciativa ocorrida no Nordeste, onde
burros, carregavam balaios de livros em seus lombos, de uma
cidadezinha à outra. Passavam em uma cidade, recebiam cuidados de
seus moradores, que depois de “beberem” dos livros que eles
traziam e/ou levavam, e eles (os burros) também materem sua sede e se alimentarem, rumavam os mesmos na estrada para a próxima
cidade. Uma foto também dessa outra magnífica ideia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário