segunda-feira, 6 de agosto de 2012

"Povo inteligente. Povo Bonito." - Sérgio Vaz

Em fevereiro desse ano, fui a Brasília. Fui tentar buscar uma oportunidade de estudar. Por lá, andando de ônibus, uma cena me chamou muito atenção, até tirei uma foto com meu celular, tamanha minha surpresa. Em quase toda parada (digo no Plano Piloto), havia uma estante com livros. Na hora, essa cena me fez lembrar daquela "prática" chamada BookCrossing. Que é a pessoa pegar um tal livro, e deixá-lo em um local público, como em praças, parques, paradas, etc., com um aviso, pedindo para que a pessoa, se tiver interesse, que o levasse consigo, e depois de lê-lo, deixasse também no mesmo espaço ou em outro, para que outra pessoa possa fazer o mesmo que ele, e assim por diante. (Eu mesmo, nunca fiz isso, pois tenho um certo apego aos meus livros, mas vou fazer a partir de agora. E conheço pessoas também, que para emprestar um livro para um conhecido, é uma dureza...)
Mas em Brasília, fiquei muito impressionado, como disse, devido ver a quantidade de livros, das mais variadas qualidades (vi títulos muito interessantes), ali a disposição de qualquer um, de todos, e a estrutura em que estavam eles (eram estantes de ferro que ficavam fixas nas paradas, no cantinho geralmente).
Isso foi em fevereiro. E eu fiquei pensando nesse incrível iniciativa, que o governo do DF, havia tido.
Semanas depois, assistindo um programa a noite na TV Brasil, o: 3 a 1, surpreendentemente para mim, o entrevistado era o idealizador daquela iniciativa (caindo por terra minha impressão de que era o governo. “Santa ingenuidade” né?). O apresentador o apresentou como um “agitador cultural de Brasília”. E ele falou sobre alguns trechos de sua bonita história de vida. Imigrante nordestino, chegou em Brasília de “pau –de – arara”. Aos 15 anos aprendeu a ler, e aos 18 leu seu primeiro livro. Ressaltou que gosta de ler os clássicos, como Platão e Aristóteles. Numa frase linda que disse, citou Aristóteles: “o homem somente é realmente livre, quando percebe que não é maior, nem menor, do que nenhum outro homem.” E em vários outros momentos da entrevista, cita outros trechos com força, parecendo incorporadamente.
E a história ainda fica melhor. Há algum tempo, ele com muita “ralação”, comprou um açougue. Isso mesmo, ele é açougueiro de profissão até hoje também. E em seu estabelecimento, de carnes, começou também a oferecer livros para os seus clientes, e não apenas proteínas. Pelo que eu entendi, os livros ficavam dentro no açougue, e no próximo momento, ele os colocou na frente do açougue. Depois, os livros foram parar no ponto de ônibus, que fica próximo. E agora, 10 anos depois, a Unesco divulga mundialmente essa experiência, muito bem sucedida, relacionada a cultura e a educação de uma sociedade, para uma cidade. Parece que a partir desse “estopim”, surgiram outros projetos. Como um outro, em que em um dia do meio do ano, eles (com o pessoal dele) promovem um momento de “arte na rua”, onde entre outras atividades, um artista da música de renome nacional faz um show, em uma quadra comercial, na rua, no Centro do DF. Disse que mais de 20 mil pessoas participaram do último evento (já incluso no calendário anual cultural oficial de Brasília).
Voltando aos livros nos pontos de ônibus, ele disse que existem relatos de pessoas que passaram no vestibular, com a ajuda dos livros emprestados da “Biblioteca Popular de Cultura” (acho que esse é o nome do projeto) para se ter uma ideia. E ainda, que vê cada vez mais as pessoas cuidando daqueles livros, do seu manuseio, na entrega deles, dos locais onde ficam... Contou até o relato de uma amiga sua, que surpreendida por um mendigo na calçada de um bar, oferecendo uma pilha de livros, depois de comprá-los, por qualquer “mereca”, viu o carimbo do Açougue. Foi lá, e os deixou novamente em uma parada.
Nas palavras de uma amigo, depois de relatar a ele essa história: “coisas assim transformam o mundo”.

Na única foto que tirei (essa foi uma das últimas paradas que havia passado, e em outras, havia muito mais livros, e não estavam nesse estado de "desarrumação"....), reparei que o nome do açougue estava em uma folha colada na estante (Açougue CulturalT-Bone). Mas quando a tirei, nem reparei, achei que era propaganda... Ele se chama Luiz Amorim.
Lembrando disso tudo, eu me recordei de uma matéria que há muitos anos atrás assisti, de uma iniciativa ocorrida no Nordeste, onde burros, carregavam balaios de livros em seus lombos, de uma cidadezinha à outra. Passavam em uma cidade, recebiam cuidados de seus moradores, que depois de “beberem” dos livros que eles traziam e/ou levavam, e eles (os burros) também materem sua sede e se alimentarem, rumavam os mesmos na estrada para a próxima cidade. Uma foto também dessa outra magnífica ideia.


Nenhum comentário:

Postar um comentário