quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

O CIRCO DA DENGUE ESTÁ ARMADO NOVAMENTE! Apresentando: A PODEROSA LIBÉLULA

Mais uma vez, pela quinta, sexta, sétima, sei lá eu..., uma epidemia de Dengue avassala aqui a cidade, o estado. Pessoas morrendo. Um rapaz forte esses dias morreu, estava com Dengue. Disseram-me que um dos seus rins ficou necrosado, em consequência dessa doença.
 
E nos jornais, a imprensa, não para de falar nisso. E aparece até um ranking de pessoas mortas. E aparece até um ranking de casos notificados. De casos confirmados. E o prefeito fala. E os secretários de saúde também. E vemos coletivas sobre o assunto. E os doutores também falam. E aparecem novas explicações, métodos, variáveis, estatísticas. E faz-se mutirão. E testa-se a vacina. E “dale” gente. E fala-se de uma “força tarefa de Combate a Dengue” – prioridade vermelha. E contratam-se médicos às pressas temporariamente. E as unidades, postos de saúde, emergência e hospitais, ficam “abarrotados”. E só se fala nisso, e só se focaliza a Dengue. E os profissionais de saúde esquecem outras doenças e problemas de saúde da população. E os profissionais de saúde também “pegam” Dengue (conversei com uma colega médica, com Dengue hoje). Um agente comunitário de saúde, uma vez me disse que havia “pego” Dengue umas 5 vezes já. E é somente as metas e indicadores relacionados a Dengue, que são a prioridade. E pelo menos na área da saúde, parece que o ano somente começará, depois da Dengue (como aquele negócio que diz que o ano no Brasil, para começar a andar principalmente nas repartições públicas, só depois do Carnaval... aqui, na área da saúde, só depois da Dengue...).
 
                          O CIRCO DA DENGUE ESTÁ ARMADO NOVAMENTE!
 
E muitas pessoas ficam adoecidas, inclusive crianças, gestantes e idosos. Algumas delas morrem, como citei acima. E pessoas chorando, tristes. E pessoas cansadas, abatidas, até desesperadas, nas longas filas para um atendimento (a todo e qualquer horário do dia e noite).
 
Esses dias li uma matéria, em que uma comerciante fechou seu negócio por tempo indeterminado (acho que ela tem uma padaria), e com um aviso na porta justificou-se: estou com DENGUE.
 
 
 
Dengue, vem de dengoso. Esse nome foi dado, eu acho, naquela época em que se classificam elas (as doenças) a partir dos nossos “humores”, ou mais ou menos isso. Mas vou te contar uma coisa, DENGUE, não tem nada haver com essa coisa de dengoso não. Já tive Dengue uma vez. E é uma sensação horrível. Dizem que a sintomatologia, bem como a intensidade dos sintomas, varia de uma pessoa a outra. Óbvio. Mas uma sensação em comum, a quase todas as pessoas que já conversei, e que já tiveram Dengue, é de um extremo mal-estar. Não te dá vontade de fazer nada. Eu não queria nem mesmo ficar “deitadão”, assistindo um bom filme. Tive febre, vermelhidão pelo corpo, cefaleia forte, e um incômodo terrível nas minhas vias respiratórias. Uma coisa muito esquisita. Parecia um “pigarro” que não saia da parte interna do meu nariz. E não dá vontade de fazer nada, nem mesmo de ficar acordado e dormir. E às vezes vem mesmo aquele pensamento: agora eu vou morrer...
 
É um negócio feio. Pelo menos comigo foi. Mas mesmo assim, quase me arrastando em alguns momentos, em todos os dias da doença no meu corpo, quando ela chegou, saiu, e depois retornou (na verdade ela não sai, dizem que fica “incubada”), eu fui trabalhar. Com o corpo todo doído: “é que tive a doença no primeiro mês do meu primeiro emprego praticamente, depois de formado”. Enfim, que puta azar...
 
E agora, as autoridades e especialistas explicam/justificam: é um novo tipo de vírus, Dengue do tipo 4. E em outros momentos, a imprensa e essas autoridades realocam a culpa no povo. É a questão do lixo, que as pessoas amontoam em casa... enfim, um questão relacionada a CULTURA do povão. E eu também acho que existe muito bem essa correlação: epidemia de DENGUE X CULTURA.
 
Uma vez, em um curso sobre EDUCAÇÃO EM SAÚDE, perguntaram para nós, alunos, a diferença entre PREVENÇÃO E PROMOÇÃO de Saúde? O que diferenciaria esses dois conceitos tão presentes na área da saúde? E pediram para que déssemos exemplos de programas, projetos, ações e atividades de saúde, que demonstrassem essas duas posições.
 
Pelo que eu me lembre, o exemplo que eu citei na prova, foi o programa de saúde voltado ao combate a Dengue. Escrevi que esse programa, por muito tempo, talvez até os nossos dias atuais, eu percebia ter muito a conotação “preventiva”, em suas ações. Era aquela coisa de se fazer uma mobilização grande, na época das chuvas, no verão, na tentativa de mobilizar as pessoas para, por exemplo: não acumularem recipientes contendo água parada em suas casas.
 
Também, seria somente nessa época específica do ano, que ocorriam: as ações nas escolas, as gincanas nos bairros (de quem trouxesse mais pneus abandonados...), as propagandas na TV, folhetos e cartazes, etc. e tal, com o objetivo de que a Dengue não se alastrasse. Porém, passados alguns meses, e a chuva findada, essa temática da “Dengue”, saia das pautas de saúde, e das discussões.
 
Aí, o que acontecia, é que talvez novamente, as pessoas “relaxavam”, e aqueles “ovinhos” da “mosquita” que ficavam armazenados nos objetos que tempos antes continham água, no ano seguinte, com as chuvas, eclodiam. E os índices relacionados a DENGUE, voltavam a zero em termos de combate, ou até pioravam. E começava-se tudo outra vez.
 
(Até que em anos anteriores, eu percebia esse ”circo”, sendo montado de ano em ano. Agora, parece que ele está levando um tempo maior para reaparecer.)
 
Acho que algumas das experiências que eu citei acima, esse quadro, poderia se aproximar mais de uma perspectiva “preventiva” em saúde. Seja pelo seu caráter provisório, pontual, sazonal, e até mesmo, talvez: “superficial”.
 
Passando-se os anos, com a situação piorando em torno da Dengue, como percebemos, esse tema começa a ser discutido pelo menos por aqui, em alguns locais e por algumas pessoas, de modo mais “incisivo” e “prolongado”. E dá a esperança, de que talvez o programa voltado para o combate a Dengue, adote medidas mais influenciadas pela perspectiva da “promoção em saúde”, do que do da prevenção.
 
Mas será que essas discussões estão se aprofundando satisfatoriamente, mediante um problema tão complexo? Com uma melhor “qualidade” e eficácia em suas atividades e ações?
 
Há um tempo, eu já escutei que a DENGUE, é uma doença essencialmente (encontra-se) de países subdesenvolvidos, ou se preferir, em desenvolvimento. Lá para aquelas bandas da Europa, como nos EUA, não tem essa doença não. Está erradicada! Dessa mal o povo também não sofre por lá.
 
Ainda sobre a Promoção de Saúde em Dengue (no intuito de tentar “ampliar” um pouco essa temática) como também em qualquer outro problema de saúde, essa questão “cultural” é fundamental. E é esse trabalho relacionado a nossa cultura, almejando as transformações sociais e comportamentais, que um trabalho em promoção de saúde pretende.
 
Porém cadê as tais mudanças? Parece elas ainda não estarem ocorrendo...
 
Com relação às mudanças, falando de nosso “macro contexto”, o que percebo atualmente, é que as únicas mudanças que vemos realmente acontecer em nosso país, em nossa sociedade, ainda, acontecem apenas âmbito econômico. E parece ser ele o único a ser objetivado/ trabalhado.
 
Por exemplo, o aumento no número de pessoas, tendo acesso ao mercado de consumo, cresceu bastante no Brasil. E isso, pode nos proporcionar à ilusão de estarmos de certa forma “crescendo”, nos “desenvolvendo”. Tanto no âmbito individual, como no coletivo. E claro que a economia, é axiomaticamente importante a todos nós.
 
Mas fica até parecendo um paradoxo pois: aqui ainda, na cidade, existe a propaganda, de que vivemos em uma cidade com um dos melhores índices nacionais em qualidade de vida, e que ela “não para de crescer”. E um mosquitinho de nada... que chupa umas gotinhas do nosso sangue...coloca tudo a perder...toda essa “qualidade de vida”...
 
Agora, história interessante do qual eu quero falar, é de uma experiência de combate a Dengue, que ouvi falar estar acontecendo, em algumas cidades do interior de São Paulo e que estão dando ótimos frutos, para ser mais preciso, na pior das hipóteses, lindas flores...
 
Há tempos atrás, estava eu, visitando os meus pais (na cidadezinha do interior do estado), quando vi dentro de um “saquinho”, algumas sementes e um pequeno panfleto, contendo informações de como plantá-las da maneira correta. Era algo que a prefeitura estava disponibilizando, pois havia as siglas da prefeitura e da secretaria de saúde do município, e também a “logo” do - “Combate a Dengue”.
 
Conversando com meus familiares, sobre aquelas sementes, confirmaram para mim que era mesmo a prefeitura, que estava distribuindo-as de casa em casa, para que as pessoas as plantassem, em suas próprias residências. O motivo da jardinagem coletiva, seria de que aquela planta, ajudava no controle dos casos de Dengue. O esquema é que a pessoa deveria plantar, para que as plantas atraíssem as libélulas, e as libélulas se alimentassem dos mosquitinhos da Dengue. Simples assim! Isso poderia diminuir consideravelmente, a incidência dos mosquitos na casa, na cidade!
 
E hoje, eu conversando com uma colega sobre a Dengue, ela me disse que está também, distribuindo por aqui essas sementes com o mesmo intuito. E, além disso, por meio de uma parceria na comunidade que conseguiu, que trabalha com o cultivo de plantas, daqui a algumas semanas, estará ao invés das sementes, distribuindo já as mudas dessas plantas, feitas pelos parceiros, para a população do bairro.
 
Pensando, achei essa história toda muito interessante.
 
Uma das primeiras coisas que me veio a cabeça, foi a questão da complexidade que envolve um problema de saúde. Como sempre. Depois, pensei em toda a simbologia que essa história do combate a Dengue com uma planta, pode carregar.
 
A proposta, é de que simplesmente plantemos uma planta. O que já é uma coisa muito diferente (quantos de nós, já fez isso?)! Depois, devemos cuidar dessa planta, o que exige um mínimo de dignidade do cuidado, por parte da pessoa (eu mesmo, já matei samambaia de sede na minha casa). E, ampliando a proposta, podemos pensar que essa história, envolve toda a questão do nosso ecossistema, ecologia, desse “lugarzinho” onde vivemos e morremos. 
 
Muito da Dengue, como sabemos, tem relação, e é ocasionada devido à água parada, dentro das nossas próprias casas, em recipientes que deixamos por aí, oriundos, por exemplo, das bugigangas que compramos e que cada vez mais, entopem nossos espaços domiciliares. Ou até mesmo, da água dos vasos de outras plantas.
 
E está também relacionada “a cidade”. E em como elas veem crescendo de maneira desordenada. Se concretando tudo por aí. E com os terrenos baldios “abandonados”, maltratados e sujos, com mato “dessa altura”, pela especulação imobiliária. E as casas “sem uso”, fechadas, trancadas. Relacionada a questão do Saneamento Básico, pois já se sabe que não é somente em “água fresca e parada” que o mosquito senta, pois já acharam ovos por aqui, em “água de fossas”. Foram encontrados focos do mosquito, até na água parada, daqueles buracos nas ruas, que estragam as rodas dos carros, disse-me uma mulher, de uma comunidade uma vez. Está relacionada, com a simples questão de se jogar uma tampinha de garrafa no chão esquecida, e ela cair e ficar de “cabeça” para cima (ou pra bairro?) (como um “copinho” armazenando a água), podendo se transformar em um “criatório”. E até em casca de ovo de galinha usado, já se encontrou larvas.
 
Está relacionada com a questão da vizinhança, pois não adianta eu cuidar do meu quintal, e o vizinho da rua ao lado, não estar “nem aí” para o dele desleixado. O mosquito pode percorrer voando mais de 40 metros... e ele pode sair para conhecer a vizinhança... Está também relacionado a questão de quem pode morar ou não, em um prédio alto, como aqueles privilegiados do centro da cidade. Os que podem, estarão menos expostos ao perigo de serem picados pelos mosquitos. A que a última notícia que eu fiquei sabendo sobre a Dengue, é que as correntes naturais de ar (os gostosos ventos), fazem a pequena estrutura corporal mosquética, não aguentar subir voando, para os apartamentos de andares mais acima.
 
(No Pantanal, considerado como um dos santuários ecológicos do planeta, é também um dos santuários de mosquitos. E lá era fácil empiricamente perceber, que ao vestir uma roupa mais escura, os mosquitos "atacavam" você com mais insistência, do que se estivesse usando uma roupa mais clara. Chegava a arder as pernas, de tantas picadas. Até mesmo no rosto, eles não perduavam. E já presenciei, mosquitos picando, mesmo a pessoa tentando se proteger deles, com calça jeans e blusas compridas e grossas. Eles tinham a pachorra de perfuram esses até esses tecidos. Lembrei-me de uma nota que li numa revista (que eu achei muito cômica), de que os mosquitos, picavam mais os membros inferiores, como os pés, pois eram atraídos pelo odor do "chulé").
 
Assim, é um “problemão” mesmo. E que envolve muitas coisas. E é somente um trabalho estando atento, a essas e outras muitas questões, é que poderá fazer a população no mínimo, refletir sobre a Dengue. Não serão apenas os 20 segundos de propaganda na TV, muito menos as “palestrinhas” de 10 minutos nas escolas e unidades de saúde, que farão amenizar, pelo menos um pouco, toda essa calamitosa situação.
 
Mas fica essa experiência da Crotolária (esse é o nome da charmosa plantinha), para pensarmos.
 
Pode ser que plantando uma planta na terra, plantemos uma ideia diferente em nossas cabeças também.
 
 
Abaixo, as imagens da possível “salvadora da pátria” - “Crotolária”, e da poética “Libélula”.
 
 
 
 
 
 
 
 
Lembrei-me de quando eu era criança,  e perto do rio, quando avistávamos uma,  chamávamos a Líbélula de “helicópterozinho”. Sempre a víamos voando bem rende a água, num belo voo rasante...
 
 
 

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