segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

INFORMATIVO NA SOLA DA BOTA - O Agente Comunitário de Saúde em Foco

(POSTANDO UMA EXPERIÊNCIA QUE REALIZAMOS JUNTO PRINCIPALMENTE AOS AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE NO ANO  DE 2010 E 2011)
 
INFORMATIVO NA SOLA DA BOTA – O Agente Comunitário de Saúde em Foco
 
Nos vários momentos que diariamente nossa equipe, tem com os Agentes Comunitários de Saúde - ACS, um tom bastante presente nas conversas, é o sentimento de desvalorização, que essa categoria de profissionais de saúde verbaliza. Existiu uma narrativa de uma ACS, na época em que estávamos começando nosso trabalho, e que nos motivou a construir uma proposta de atividade voltada especificamente para os ACS. Em uma conversa, uma ACS disse que num encontro inusitado com uma moradora da sua área, em um supermercado, fora o horário de trabalho, recebeu a seguinte exclamação: “Nossa, nem estava reconhecendo você sem o uniforme, é você que todo mês vai lá em casa! Como é bonita!”; A Agente citou esse acontecimento, ressaltando que as pessoas nem a reconhecem, sem o uniforme diário de ACS. Mas pensamos que existem muitos outros “não-reconhecimentos”, nessa profissão. Que aliás, para muito gestores/especialistas, ainda nem está definido, se é ou não considerado uma profissão.
 
Começamos a nos encontrar com os ACS de uma Unidade de Saúde. Nessa Unidade existe uma equipe de saúde, composta por: médica clínico-geral, uma odontóloga, uma auxiliar de odontologia, uma enfermeira, dois técnicos de enfermagem, dois agentes administrativos, uma agente administrativa que dispõe as medicações para a população e uma gerente, que também atua como assistente social. São quatro ACS ao todo. E juntos, caracterizamos e pensamos em alguma ação que “desse mais voz” ao ACS, almejando de que eles, e sua categoria, sejam um pouco mais valorizadas, tanto pela comunidade em que trabalham, como entre os colegas de serviço. Geralmente, a conversa com os ACS se deu nos primeiros horários da manhã, onde eles, todos os dias de trabalho, se reúnem na Unidade de Saúde, para o planejamento das ações diárias. Nesses momentos, a enfermeira também faz algumas orientações e repassa alguns informes. E se deu também nas sextas-feiras no período vespertino, pois aqui na rede de saúde, está estipulado também, que devem acontecer as reuniões de equipe. Momentos esses, que também pensamos ser importantes para as atividades interdisciplinares, como a confecção do informativo. Dessa maneira, pensamos em confeccionar um informativo, onde eles pudessem “aparecer” mais.
 
O informativo está dividido em algumas partes: a primeira chama-se: “Bate Papo Saúde”. É o maior espaço do informativo, e geralmente é escrito em parceria de um ACS com outro profissional da unidade de saúde de nível superior, como a enfermeira por exemplo. Assuntos como: vacinação, diferença entre urgência e emergência, métodos contraceptivos e violência contra a mulher, foram discutidos nesse espaço ao longo das edições do informativo.
 
São informações que os ACS esboçaram curiosidade em entender melhor, relacionadas com as problemáticas que enfrentam. E o profissional de nível superior, pode contribuir com um “olhar mais científico” sobre a o assunto. O espaço fica na primeira página, centralizado, no informativo. 
 
 Logo abaixo, existe um quadrante esquerdo e outro direito. No esquerdo, está o espaço: “Conselho de Saúde”. São escritas por um ACS, notícias sobre os últimos acontecimentos do Conselho Local de Saúde (como o dia das reuniões, ou, o que é o conselho, sobre a sua eleição, onde acontece, e as suas ações). Geralmente, o ACS que escreveu essa parte, estava integrando o conselho. No quadrante direito, está um espaço chamado: “Nosso Bairro”. Onde outro ACS escreve uma nota sobre o território, ou seja, a região de abrangência de cobertura da Unidade, e onde ele mesmo reside (já foi escrito sobre a questão dos moradores jogarem lixo em lugares impróprios no bairro, sobre a existência de muitos cães soltos pelas ruas, prejudicando o trabalho deles (ACS) inclusive. Em outra edição, foi abordado a questão da água, e saneamento básico, uma vez que em grande parte dos bairros, não existe esgoto, e nem mesmo água encanada. E no último informativo confeccionado, abordou-se um projeto em que a Universidade Católica da cidade, estava desenvolvendo, especificamente nessa região. 
 
 No verso (o informativo tem apenas uma folha - frente e verso), está um espaço grande, chamado: “Sem Uniforme”, onde postamos em cada edição, uma foto de um dos ACS, sem uniforme, e ao lado, uma enquete/entrevista, onde o ACS pode falar um pouco mais sobre a sua vida (como: qual é o seu filme favorito, quantos filhos, animais de estimação, sobre sua família, quanto tempo de trabalho como ACS, o que é saúde na opinião dele, os desafios da profissão, as limitações, os projetos dele para o futuro etc.). Esse espaço foi o primeiro pensado, e surgiu a partir da questão da percepção da “não valorização” do trabalho e da própria profissão ACS. Pensamos ser essa uma forma de materialização do “aparecer” para a comunidade, e para os colegas de trabalho. Interessante, que para a fotografia, alguns ACS relataram “ter passado até pelo salão de beleza”, com roupas diferentes, para aparecerem “bem arrumados” (nas próprias palavras deles). E em um dos informativos, nós tivemos a ideia de entrevistar para esse espaço, um ACS de outra unidade de saúde vizinha. É uma antiga colega de trabalho dos Agentes dessa unidade de saúde, do qual todos tinham muito apreço. E antes, na realidade, todos trabalhavam juntos, pois ocorreu um desmembramento da região, criando mais uma unidade de saúde (nessa nova, era onde estávamos confeccionando os informativos).
 
Logo abaixo existe um espaço, com o nome de: “Informes da Unidade”, onde são postulados: horários, procedimentos que a unidade de saúde está oferecendo, mudanças na agenda/rotina da unidade, início ou encerramento de grupos e outras atividades da UBSF.
 
E por último, um espaço denominado: “Saúde e qualidade de vida é:”:, onde escolhemos alguns temas geralmente em forma de desenhos, para a finalização do informativo de maneira mais “provocativa”. Todos esses processos do informativo foram construídos não apenas pelos ACS, mas por outros profissionais da unidade, como a gerente da unidade, a enfermeira, os técnicos etc. E sempre em parceria com o com o nosso grupo.
 
Foram confeccionados 4 informativos, ao longo de 1 ano e meio. Com tiragem de 100 exemplares de cada informativo. Com essa experiência, não apenas almejamos valorizar um pouco mais o ACS enquanto profissional fundamental e diferenciado da Atenção Básica, mas também trabalhar conceitos como: de Educação Permanente, de Controle Social, e principalmente de Educação em Saúde. Quanto ao impacto das informações mediante a população, pouco podemos dizer nesse aspecto. Uma vez que o informativo depois de pronto, ficava a disposição da população, na sala de espera da unidade de saúde, e não temos relatos dos comentários da população. Sabemos que existia a possibilidade da população as vezes nem ler o que estávamos escrevendo.  Mas foi notório o empenho e satisfação nossa, a cada informativo confeccionado.
 
Outro comentário é com relação ao tempo, para a confecção do informativo disponibilizado para os ACS. Devido à rotina desses ACS na unidade, a confecção do informativo, foi realizada em horários “não estipulados”. Quando existiu um “tempo livre”, sentávamos juntos (Nós e os ACS), para pensarmos os temas, pautas, dos informativos, bem como na sua edição. Assim, não foram preestabelecidos horários para a confecção desse informativo, com a gerência da unidade, já  que nos foi justificado que o tempo do ACS era limitado, devido a grande demanda de atribuições.
Pensamos que diante o processo de trabalho cotidiano que os ACS exercem, uma atividade como o Informativo, talvez não se “enquadre” no que ainda está arraigado na Atenção Básica: aquele modelo tradicional. Não sendo entendido como algo que também pode “promover saúde” de alguma forma. Acreditamos também, que poderíamos ter melhor aproveitado o informativo, no sentido de se trabalhar com a população. Talvez, ter pensado na participação da comunidade no próprio processo de elaboração do informativo.
 
E foi muito legal perceber, que no andamento dessa atividade do informativo, dois dos 04 ACS que participaram na elaboração deles, começaram a cursar um curso superior. Uma delas está cursando enfermagem, e o outro ACS está fazendo letras.
 

 

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