quinta-feira, 17 de março de 2016

Adilson Filho: Assustador ver crianças reproduzindo o fascismo dos pais

publicado em 14 de março de 2016 às 22:48
12821619_10205681784312537_983108294014487033_n-001por Adilson Filho, especial para o Viomundo
Não adianta, eu não consigo naturalizar o que está acontecendo. Apesar de saber das origens históricas e da engrenagem social que levou a isso, é assustador ver as manifestações de ódio no Brasil inteiro.
Não sou sonhador, dou essa geração como perdida, mas ainda acredito que temos, como humanistas, que ‘disputar’ pelo menos as novas gerações que aí estão.
Eu não me conformo de ver jovens, às vezes crianças, expressando esse tipo de sentimento tão ruim, como nessa foto de um desenho infantil, ou idolatrando alguém como Bolsonaro.
O fascismo é a doença social da intolerância e essa surge e se desenvolve lentamente na subjetividade do indivíduo, da continuada incapacidade de lidar com a frustração, de aceitar o não como resposta, de querer sempre tudo para si mesmo e da atrofia da capacidade de se colocar no lugar do outro.
O vovô bonzinho, os papais e mamães carinhosos, o patrão compreensivo, o vizinho gente boa, em todos esses ele pode emergir.
Enquanto tudo corre bem, tudo tranquilo e favorável à pessoa, privilégios não são ameaçados, nada se percebe.
Mas é na hora da escassez, da ausência, na hora em que tem que se dividir alguma coisa, que o monstro começa a se debater querendo ‘sair da jaula’. Mas, ainda assim, é insuficiente para ele vir com força e tomar as ruas de uma nação; é preciso algo mais, e esse algo mais é o medo, o medo compartilhado com mais gente, como está acontecendo agora.
Não dá mais tempo para pensar, a Globo entrou no coração, na mente e nas almas de cada uma dessas pessoas. A hora agora é de pisar forte nas ruas para afirmar o que queremos para o Brasil de nossos filhos e netos.
Mas junto a isso, acho que cada um de nós tem a responsabilidade de fazer a sua parte, como pais, educadores formadores de opinião.É preciso, além de evitar (que seja temporariamente) expor quem amamos ao contato com pessoas que estão pregando o ódio, tentar com diálogo, exemplos e atitudes fomentar a empatia, a preocupação com o coletivo, estimular seres em formação a saírem de si e se colocarem à serviço do outro, a ver de verdade o outro.
Tentar criar seres mais tolerantes, menos apressados, com menos emergências, seres de fato conectados uns aos outros, unidos por uma “consciência coletiva”. Essas coisas não se aprendem nos livros de história, por isso eu insisto: não basta informação e conhecimento.
O momento é muito difícil, escrevo tentando fazer autocrítica, no meio do desespero que, assim como muitos, me encontro ao ver o monstro em cada esquina, nas praças, nas escolas. Mas eu sempre vou acreditar que é possível.
Enquanto puder olhar pra jovens e crianças e imaginar que podemos, com exemplos e dedicação, ajudá-los na construção de um país melhor, mais humano, solidário e pacífico para eles tocarem o futuro, terei esperança e lutarei com gosto por isso.
Adilson Filho é professor da rede pública de ensino do Rio de Janeiro

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