Com toda essa discussão sobre o Programa “Mais Médicos”,
penso que a Atenção Básica de Saúde está no mínimo, tendo uma errônea, e
limitada compreensão.
Sei que essa é uma discussão “inicial”. Mas primeiro, ela
não pode se reduzir a apenas a questão de “mais médicos”.
Estou lendo por aí, que a Atenção Básica não precisa de
estrutura, assim, seria equivocada a reinvindicação que fala da precariedade de
estrutura da saúde pública, principalmente da Atenção Básica.
Gente, que absurdo é esse?
Claro que precisamos de estrutura: precisamos de carro para realizar
as visitas domiciliares. Precisamos de vacinas, assim, precisamos de lugares para
o acondicionamento delas, como geladeiras, ar-condicionado, para que elas não
estraguem. Precisamos de ambientes acessíveis, “agradáveis”, para que as
pessoas possam ter o mínimo de acolhimento. Precisamos de estetoscópios para os
médicos. Aferidores de pressão. Precisamos balanças para pesar. Precisamos de
cadeiras confortáveis não somente para os profissionais, mas para os usuários.
Precisamos de folhas de receituários. Precisamos de computadores,
principalmente um pouco mais modernos, pois é grande hoje, o número de cursos
que as universidades estão ofertando a nós profissionais, via EAD... Precisamos
de frutas, pois quando em atividades educativas que falamos de alimentação
saudável, sai do nosso bolso a compra do café da manhã para o grupo. Precisamos
de Data-Shows, para passarmos vídeos relacionados a área da saúde... Entre
muitas outras coisas.
E por falar em estrutura, mas em estrutura humana (recursos
humanos), a necessidade se amplia ainda mais.
Ao profissional da Atenção Básica, é esperado o
desenvolvimento e aplicação de práticas, oriundas de conceitos tão quanto
complexos aos da área de Medicina Nuclear, por exemplo, em minha opinião. A ele
é esperado, um trabalho que considere os DETERMINANTES SOCIAIS, assim,
problemas como a VIOLÊNCIA URBANA, Drogas, mudança de comportamento, controle
social, alimentação saudável, educação “libertadora”, prevenção e promoção de
saúde, clínica ampliada, trabalho trans-inter-multi profissional, Agente
Comunitário de Saúde, entre também muitos outros conceitos e práticas.
E digo mais, a Atenção Básica não é esse lugar onde o
profissional de saúde médico, ou qualquer outro, fique “dois anos” em um lugar “remoto”,
já “precaríssimo” em termos de conjuntura social, e que isso vai “resolver os
problemas de saúde do Brasil”. Não é tão simples assim. E uma postura como esta,
talvez “jogue no lixo”, despreze, um conceito que sempre foi um pilar na
Atenção Básica, que é a “construção do vínculo” que o profissional de saúde
deve ter com a população “adstrita”, que é se trabalhar territorialmente.
Em minha opinião, esse “balaio”, reflete exatamente como
lidamos com aqueles que mais precisam nesse país. “Qualquer coisa”, é qualquer
coisa para quem não tem nada.
Acho que a Atenção Básica merece uma Atenção melhor. Não é
porque é Básica, que é menos complexa, que os outros níveis de Atenção à saúde.
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