Era uma sala do 9º ano, lotada, abafada e calorenta.
Cheia de adolescentes educados, bonitos e inteligentes, de 12, 13 e 14 anos.
O meu colega farmacêutico, primeiramente, fez uma
apresentação onde mostrou um “cardápio” das drogas, tanto lícitas, como
ilícitas. Ressaltou os tipos, os danos, e as peculiaridades de uns 6 tipos de
drogas. Depois falou rapidamente sobre o tratamento.
Findado esse momento, comecei a falar, sugerindo que
realizássemos uma RODA, apenas com as cadeiras.
Como mote inicial, com todo respeito que o tema exige, começamos
a conversa sobre a recente morte do líder do Charlie Brown Júnior, o Chorão.
Coloquei que segundo a mídia, tudo indicava que ele teria tido uma OVERDOSE de
cocaína.
O primeiro comentário que surgiu foi: “tem gente aqui na
escola falando dele, chorando, e nem conhecia ele.”
Depois, coloquei: “como uma pessoa com tanto prestígio, talento, família,
fama, dinheiro, faz uso de drogas a ponto de até morrer? Porque ele fazia uso?
Que tipo de explicação poderíamos dar?”
“POR INFLUÊNCIA DOS AMIGOS” – foi o primeiro comentário.
O pessoal começou a discutir que os amigos poderiam fazer
com que as pessoas começassem a fazer uso de drogas. Uns concordaram, outros
não. Uma menina disse que muitas vezes se você não faz alguma coisa que todo
mundo faz, você é discriminada. Eu disse que na minha época entendíamos que
essa pessoa era a “Maria” ou “João” vai
com outros”... Um menino que se chamava João ralhou comigo. Uma outra menina
disse que não era assim não, que não é por que outra pessoa faz, que ela tem/vai fazer, ressaltando sua firme
opinião.
“ELE SE SENTIA SOZINHO” “DEPRESSÃO”
Começamos a conversar que por mais que uma pessoa esteja
entre muitas outras pessoas, como em uma sala de aula cheia de alunos como
aquela, ela pode se sentir sozinha. Uma menina disse que passava as tardes
inteiras em casa, sozinha. Depois, começamos a falar sobre o que pode levar uma
pessoa a se sentir isolada, sozinha, e surgiu o tema do BUYLLING. Uma menina meio
em tom de brincadeira, disse que era o que mais tinha ali, e apontou o dedo para
uma colega ao lado, dizendo que essa colega ficava provocando ela. Depois o
papo rumou para a INTERNET, pois parece que cada vez mais, temos “amigos
virtuais”, e menos amigos “reais”. Conversamos sobre a questão da FAMÍLIA, e
que muitas vezes a conversa dentro de casa, fica abafada e/ou inaudível, pelo
som da TV.
Concordamos que o uso de drogas no caso do Chorão, era difícil de se dar uma explicação para essa morte/tragédia. E que algumas hipóteses foram discutidas.
Depois, algumas perguntas foram surgindo:
“Qual é a droga mais difícil de se largar?”
Não sei, pois vai de pessoa para a pessoa, organismo,
cabeça, de cada um. Mas o que geralmente vemos, é que existem muitas pessoas
que conseguem parar de fumar. E existem menos pessoas que conseguem largar de
beber bebida alcóolica. E pouquíssimas que conseguem parar de fumar CRACK.
“É verdade que VODKA faz menos mal que cerveja?” “Nossa,
eu já fiquei muito loca de Vodka”, outra completou.
Não, pois o teor alcóolico da Vodka é muito maior que o
da cerveja. O que acontece as vezes, é que a Vodka, geralmente é ingerida
misturada a sucos, refrigerantes, o que faz ser mais “agradável” ao paladar. Mas
é tão quando prejudicial a saúde, sua ingestão em excesso, que a cerveja.
“O que é cirrose?”
É uma doença no fígado, que é um importante órgão do
nosso corpo, responsável por “filtrar” nosso sangue, e suas impurezas.
“Meu pai sempre me pede para buscar cerveja para ele no
bar.”
Por lei, é proibido a venda de qualquer bebida alcoólica
para menores de 18 anos. Seu pai e o dono do bar, se forem pegos pela polícia,
podem ser processados e presos. Também, nós sabemos que no Brasil, existe uma “cultura”,
em que o adolescente, muitas vezes experimenta seu primeiro gole de cerveja,
oferecido por familiares como os próprios pais, e dentro da própria casa. E que
o uso de bebida alcóolica e outras drogas na adolescência, como já foi citado,
pode interferir no desenvolvimento do adolescente, em seu cérebro.
Depois de uns 40 minutos de conversa, já com quase todos
os alunos fora da sala, no recreio, uma adolescente chegou até mim e perguntou
sobre o tratamento que meu colega havia citado no final de sua apresentação.
Perguntei para que tipo de droga. A menina respondeu: cigarro, álcool, crack e
outras. Ela disse que era seu pai, que ele era “viciado”. Ela disse que as
vezes vê o pai, e que ele mora com um irmão, que também é “viciado” na casa da
avó. Disse que na casa da avó não tem mais nada, pois o pai já levou tudo para
vender e trocar por drogas. E que ele morava no bairro mesmo, “andando por aí.”
Conversamos sobre a possibilidade de a menina convidar o
pai a ir conversar conosco na unidade de saúde do bairro, para que
orientássemos melhor ele, e também ela. Ela disse que iria tentar levá-lo, pois
iria vê-lo esse dia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário