'Não sou contra o ativismo de sofá', afirma o filósofo francês Pierre
Lévy
Idealizador do
termo 'inteligência coletiva', professor falou ao 'Estado' sobre as petições
online
11 de março de 2013 | 16h 24
SÃO PAULO - Idealizador do
termo "inteligência coletiva" e autor de livros sobre cibercultura
desde a década de 90, o filósofo francês Pierre Lévy afirmou, em entrevista ao Estado
nesta segunda-feira, 11, que os abaixo-assinados
pela internet são expressões legítimas da vontade dos cidadãos.
Ele nega que esse tipo de
mobilização seja menos legítima do que as manifestações tradicionais, como
protestos na rua, e afirma ser necessário investir em alfabetização digital
para elevar o nível de debate na internet.
Apesar do crescente controle da
rede, tanto por governos autoritários como pelos democráticos, o professor da
Universidade de Ottawa, no Canadá, acredita haver mais liberdade de expressão com
a internet do que sem ela.
Lévy também prevê que o poder
de reunir dados e analisá-los vai desempenhar um papel fundamental na vida
política do futuro.
Confira abaixo a íntegra da
entrevista, concedida pelo Twitter. Em suas respostas, Lévy indicou links para
outros documentos que embasam suas ideias, reproduzidos abaixo.
Qual a
relevância dos abaixo-assinados online para pressionar os parlamentares?
Eu penso que seja tão relevante
como os abaixo-assinados escritos. Uma petição é uma petição. Uma petição
online só é mais fácil de organizar!
Sendo mais
fácil, o sr. não acha que há um risco de promover o "ativismo de
sofá" nesse tipo de campanha?
Eu não sou contra o ativismo de
sofá. Qualquer forma que o cidadão use para se expressar é positiva.
Você vê
aspectos da democracia direta nesse tipo de movimento?
Não. Democracia direta ocorre
quando a decisão está nas mãos das próprias pessoas. Eu prefiro ver os
abaixo-assinados como formas de expressão.
Essas
ferramentas online também não podem dar voz e força à intolerância e grupos que
estimulam o ódio? Como lidar com isso?
Você está certo. Essas
ferramentas online podem ser utilizadas pelas forças da escuridão e do ódio, e
elas são! Não há outra forma de lidar com isso além de promover educação e
alfabetização digital. E nós devemos também combater as má ideias online e
offline.
Discussões
na internet e comentários de notícias sempre parecem tender à difamação e
agressão recíproca. Por quê?
Lembre que, na história,
discursos de ódio floresceram também na imprensa e em jornais. Não é uma
especificidade da internet. Isso também não é exclusividade do online:
polêmicas sempre existiram. Veja, por exemplo, as propagandas negativas na TV!
Pessoas responsáveis devem promover uma conversa civilizada, em vez de
demonizar o outro.
Os
governos pelo mundo estão dando uma resposta à altura a essas novas formas de
engagamento político?
Eu acho que há um crescente senso da
importância da esfera pública digital. Em geral, há uma mudança no
debate público em direção ao mundo digital. De um lado, as
pessoas podem debater e se expressar de forma muito mais eficiente com
ferramentas digitais. Por outro lado, governos podem hoje ser muito mais
transparentes, e os cidadãos precisam exigir essa transparência.
Há um
risco de aumento de controle da internet pelos governos?
Claro! Em primeiro lugar,
ditaduras, como China, Irã, etc, fazem censura e vigilância de seus oponentes.
Aliás, os serviços de inteligência de todos os países tentam analisar os dados criados
pelas pessoas. Porém, de forma geral, há muito mais liberdade de
expressão com a internet do que sem ela.
As futuras
revoluções serão tuitadas?
As futuras revoluções... E as
futuras contra-revoluções! Eu anuncio a ciberdemocracia há mais de dez anos. A evolução política em torno do globo provou que minhas previsões estavam
certas.
Quais
serão os próximos passos da ciberdemocracia?
Primeiro, uma melhora na
inteligência coletiva online, uma inteligência coletiva mais reflexiva, mais
hábil para conhecer a si mesma. Depois, uma melhor transparência dos governos,
como justificativas e visualização das consequências das decisões orçamentárias.
É isso,
professor. Você gostaria de dizer algo mais sobre o assunto?
Sim, eu acho que o domínio dos
dados e da análise dos dados vai desempenhar um papel fundamental na vida política do futuro.
Fonte: http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,nao-sou-contra-o-ativismo-de-sofa-afirma-o-filosofo-frances-pierre-levy,1007313,0.htm?p=2
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