"Máfia do câncer" desmontou rede pública para criar monopólio
privado
Aline dos Santos
Desmonte
da rede pública e monopólio do setor particular no tratamento do câncer. Os
dois fatos, que ocorreram de forma simultânea em Campo Grande, levantaram as
suspeitas que levaram a Polícia Federal a bater na porta do médico Adalberto
Abrão Siufi, dono da clínica Neorad, diretor-geral do Hospital do Câncer até
anteontem e ex-diretor do setor de oncologia do HU (Hospital Universitário) de
Campo Grande.
A
investigação que culminou na operação Sangue Frio começou em março do ano
passado para entender por que os serviços de radioterapia oferecidos pelo SUS
(Sistema Único de Saúde) eram fornecidos apenas pelo setor privado. “É um
monopólio, uma máfia. É difícil crer que os órgãos municipais ou estaduais não funcionem
e só os particulares, já que a mesma pessoa controlava os dois”, afirma o
superintendente da PF, Edgar Paulo Marcon.
Para os
que enfrentam a doença e recorrem ao SUS, as opções são poucas. A radioterapia
é feita somente no Hospital do Câncer. Já atendimento ambulatorial e
quimioterapia são oferecidos na Neorad.
No ano
passado, a resistência do HU em aceitar recursos do governo federal e reativar
o setor de radioterapia foi parar na Justiça. O plano previa investimento de R$
505 milhões em 80 hospitais, cinco deles em Mato Grosso do Sul. No Estado,
somente o HU e a Santa Casa de Campo Grande rejeitaram a oferta.
A
recusa levou o Sintss (Sindicato dos Trabalhadores em Seguridade Social) a
acionar o MPF (Ministério Público Federal). “E a batalha continua. Nem o HU nem
o Hospital Regional estão se preparando para receber os equipamentos. Tem um
acelerador que é top de linha na radioterapia”, denuncia o presidente do
sindicato, Alexandre Costa.
Diretoria -
Auditoria realizada pela CGU (Controladoria-Geral da União) em 2012 verificou
prejuízo de R$ 973 mil aos cofres públicos. De acordo com a chefe da
controladoria em Mato Grosso do Sul, Janaína Faria, o valor foi obtido após
levantamento em contratos do Hospital Universitário que somam R$ 11 milhões.
A
análise trouxe à tona uma série de irregularidade: direcionamento de licitação,
montagem de processos licitatórios, subcontratação de serviços para empresas
ligadas a dirigentes do hospital, superfaturamento e emissão de empenho
anterior à adesão em ata de registro de preços.
Na
terça-feira, a PF apreendeu documentos no HU e a Justiça Federal determinou o
afastamento do diretor do hospital, José Carlos Dorsa Vieira Pontes, e do
gestor de contrato com os terceirizado, Alceu Edison Torres. A ordem também foi
dada para dois empregados de empresa terceirizada que atuam no HU. Conforme
informações extraoficiais, os afastados são Antônio Carlos Dorsa e Rodrigo
Freitas.
Sofrimento - Com
os setores de oncologia dos hospitais públicos sendo desmontados, equipamentos
pagos com dinheiro público foram deslocados para o Hospital do Câncer, que
oferece tanto atendimento pelo SUS quanto particular.
Em
dezembro de 2011, auditoria do TCU (Tribunal de Contas da União) identificou
uma situação que faz parte da rotina dos pacientes: o tratamento do câncer é
ainda mais sofrido em Mato Grosso do Sul se comparado aos outros Estados.
Conforme a vistoria sobre a política nacional de atenção oncológica na rede
pública de saúde, era atendida 33,9% da demanda por radioterapia e 34,4% dos
que precisam de cirurgias oncológica.
SUS
mais 70% - Conforme denúncia do MPE (Ministério Público Estadual), o
médico Adalberto Abrão Siufi fez manobra para manter contrato com a empresa
Neorad e o Hospital do Câncer, que rendia, em média, R$ 3,1 milhões por ano.
Entre 2007 e 2010, a Neorad recebeu R$ 12,7 milhões.
Entre 2007 e 2010, a Neorad recebeu R$ 12,7 milhões.
O
detalhe é que o contrato previa o pagamento do valor estipulado pelo SUS mais
acréscimo de 70%. A promotora Paula Volpe pediu na Justiça o afastamento da
direção do hospital. No entanto, ontem, o Conselho Curador afastou os diretores
por 15 dias.
Uma das
primeiras medidas foi demitir Betina Moraes Siufi Hilgert, filha de Adalberto e
administradora da unidade hospitalar. Contudo, segue mantido o contrato com a
Neorad.
Fonte: http://www.campograndenews.com.br/cidades/capital/-mafia-do-cancer-desmontou-rede-publica-para-criar-monopolio-privado
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