terça-feira, 12 de março de 2013

ADMIRÁVEL MEDICAMENTO NOVO

Recentemente esteve aqui na cidade, uma importante médica pediatra, para proferir uma palestra em um evento promovido pelo Conselho Regional de Psicologia. Esse evento teve como temática: “a medicalização da vida”, principalmente voltada às nossas crianças (as medicações).

Essa pediatra chama-se Maria Aparecida Affonso Moysés. Sempre presto muito atenção ao que essa especialista fala, principalmente depois que há uns anos atrás, em um programa do Globo News, ela explicou com surpreendente clareza, como está sendo abusivo o uso de medicamentos psicotrópicos prescritos para as crianças, principalmente àquelas diagnosticadas com Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade – TDAH.

(Em uma postagem passada, está essa entrevista da médica com o título: RITALINA FEAT RITA LEE).

Eu não fui a esse evento aqui. Mas essa médica concedeu uma outra entrevista a um jornal local (abaixo a entrevista na íntegra).

Na entrevista, a médica cita um relatório elaborado pela ANVISA, que mostra um estudo farmacoepidemiológico, mediante o uso nacional do medicamento que geralmente se aplica ao tratamento do TDAH. O estudo demonstrou o aumento exorbitante que essa medicação vem tendo num curto período de tempo (enriquecendo ainda mais, os já trilhardários laboratórios farmacêuticos).

O medicamento chama-se Metilfenidato, e o seu nome comercial é Ritalina ou Concerta.

CONCERTA?                                                            Deixa pra lá...

Para se ter uma ideia de como pode ser danoso o uso dessa medicação, a médica diz que a sua atuação no cérebro de quem faz seu uso, é o mesmo que o da droga ilícita chamada COCAÍNA. E que estudos já estão demonstrando uma correlação entre o uso da Ritalina na infância e/ou adolescência, e o uso da cocaína quando adulto. A pessoa adulta talvez, sentiria muita falta de algo quando adulto, sem Ritalina, e a cocaína seria o “suprimento ideal”.

Sei que o uso de Ritalina como psicoestimulante, é feito por alguns alunos de universidades, que usam no sentido de sentirem mais “ativos e dispostos”.

Enfim, é uma droga “violenta”, e o aumento abusivo do uso dessa medicação reflete, no mínimo, a falta de sensatez de profissionais de saúde e políticas de saúde, centradas apenas em aspectos “neuro-psiquiátricos”. Deixando de lado outros importantes aspectos como: desestrutura familiar, sistema de ensino “frustrante”, precária estimulação afetivo-cognitiva, cultura, valores, etc. Todos esses fatores pode muito bem influenciar um comportamento infantil, deixando a criança inquieta, ou mesmo indisciplinada, por exemplo.

Essa medicação tem o “apelido” de “droga da obediência”. Lembrei até de uma campanha que o Conselho de Psicologia Federal entonou o ano passado, que tinha um mote mais ou menos assim: se seu filho esta fazendo “bagunça”, “traquinagem”, fique tranquila mãe, pai, ele apenas está sendo criança.


Uma conversa que eu me lembro de ter tido uma vez, foi com uma mãe às 11 horas da noite. Ela me disse que havia procurado o posto de emergência, pois estava muito preocupada com o filho, de 11 anos. Disse que de uns tempos para cá, vem tendo muitos atritos com o marido (ex), e ele havia saído de casa, estavam separados. Disse que percebeu que o filho vem ficando abatido com toda essa situação, e que gostaria que ele recebesse uma medicação para dormir, pois ele não estava conseguindo. Completou dizendo que ele geralmente dormia cedo, no máximo ia para cama às 8 horas da noite, e agora, 11 horas, o menino ainda deveria estar acordado na casa deles.

Eu perguntei se com o pai em casa, o menino estava indo dormir às 8 horas, como de costume. Ela disse que sim. Que até o momento em que o pai esteve em casa, sim. Então perguntei desde quando o pai havia saído de casa? Ela me respondeu: “ele foi embora hoje”!

Então a conversa mudou para toda a dor que ela mãe-esposa, estava sentindo naquele momento. Mas era muito visível a lógica medicamentosa que a mãe estava querendo proporcionar para o filho. E claro, uma mãe sempre quer o melhor para o seu filho.

Assim, parece que cada vez mais, nossa sociedade está recorrendo ao uso de medicações psicotrópicas. E o uso em situações que estão muitas vezes relacionadas aos problemas que enfrentamos no cotidiano. Podemos pensar também talvez numa diminuição da nossa resiliência mediante esses problemas. Ou até mesmo num “aumento” de problemas correlacionados...

E é claro que todas as pessoas podem e devem recorrer a uma mediação para aliviarem seus sintomas, suas dores. Eu também faço isso. Mas isso fica “um pouco mais complicado”, quando falamos em problemas emocionais, psicológicos. (Muitos especialistas falam de TDHA apenas com viés neurológico, mas muitos também contestam a própria existência do TDHA).

(E interessante perceber também, como alguns – uma grande parte pelo menos- desenhos animados famosos que nossos filhos assistem e adoram, geralmente tem como protagonistas personagens que poderiam muito bem ser diagnosticados como hiperativos: como aquele dos Carros, Litlte Sticke, Pokoio... etc. Será que esses filmes poderiam influenciar no comportamentos de nossos pimpolhos?)


A equação - sintomas (insônia, tristeza, medo, angústia, agitação, etc.) + medicamentos psicotrópicos = normalidade (felicidade) é muito simplificada em minha opinião.

Temos sempre que pensarmos nos contextos onde as pessoas estão, influenciando diretamente em sua situação de saúde/doença mental.

Nesse assunto, sempre me lembro daquele livro que todo mundo lê na juventude: ADMIRÁVEL MUNDO NOVO, do Huxley.


Para quem não se lembra, naquele mundo, o governo disponibilizava para todos os cidadãos uma droga que tinha o nome de SOMA (as pessoas deveriam ingeri-la diariamente). Essa droga dava uma grande sensação de bem-estar na população fazendo principalmente as pessoas não questionarem nada, tornado-se totalmente acríticas. Tudo ficava na mais absoluta “harmonia”.

Como se tudo estivesse obtusamente muito bom e perfeito na fictícia sociedade que o livro retratou.

Então é assim: psicotrópicos para todo mundo! (ouvi dizer que acharam esses tempos, vestígios do medicamento “fluoxetina” na água do rio que corta Londres, o Tâmisa, tamanho o seu uso pela população de lá. E acredito que facilmente encontraremos em nossos rios também, ainda mais com tanto esgoto sem nenhum tipo de tratamento, jogado diretamente nos rios).

Em conversa com um conhecido meu uma vez, ele disse: “se é para todo mundo usar um droga para se sentir “numa boa”, eu quero ter o direito de poder escolher uma diferente daquele comprada em farmácia...”.

 Entrevista

04/03/2013 14:23

Médica critica uso excessivo de medicamento para déficit de atenção em crianças e adolescentes

Mayara Sá

O consumo de medicamento para transtorno de déficit de atenção aumentou 75% entre crianças e adolescentes no Brasil. Em 2000 foram vendidas 70 mil caixas de metilfenidato, em 2009, 2milhões. O aumento coloca o Brasil como o segundo maior consumidor mundial do psicotrópico, perdendo apenas para os Estados Unidos. O uso do remédio causa controvérsias entre os médicos. A pediatra Maria Aparecida Affonso Moysés, professora da Unicamp (Universidade estadual de Campinas), é uma das vozes a questionar a existência de “uma doença neurológica que só altera comportamento e aprendizagem”. Em entrevista ao Midiamax, durante o evento “Medicalização na escola e a formação profissional do psicólogo”, realizado na semana passada em Campo Grande, ela explicou que os diagnósticos para o uso da droga estão errados e que é preciso estar atento ao comportamento das crianças, e não medicá-las indiscriminadamente.

Midiamax: Por que o uso do metilfenidato aumentou tanto no país?

Os médicos estão prescrevendo mais, isso não há dúvida. Em 2000 foram vendidas 70 mil caixas de medicamentos. Em 2010 foram dois milhões de caixas. O aumento é mais de 1,8 mil por cento, segundo dados do IDUM (Instituto de Defesa dos Usuários de Medicamentos), que é baseado em dados da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). O fato é que os medicamentos estão sendo mais prescritos. E o estudo mostra que quem mais prescreve a medicação são os mesmos médicos.

Midiamax: O diagnóstico do déficit de atenção (TDAH) está mais preciso? Por isso, o aumento da venda do remédio?

Quem defende o uso da droga diz que é porque está se diagnosticando mais. De um modo melhor. Eu acho que não é isso. Não concordo com isso por alguns motivos. Primeiro porque você tem esse pico só neste campo da medicina. Só nessa área de uso de psicotrópico para crianças e adolescentes com problemas de comportamento e aprendizagem. Você não tem isso em nenhuma outra área da medicina. Esquisito imaginar que esse melhor atendimento por parte da saúde avance apenas em uma parte específica da psiquiatria. A outra questão é que o TDAH é uma doença muito controvertida. Isto é, não se nega que existem pessoas com esses comportamentos. Mas, a questão é: esse comportamento é um problema neurológico, neuropsiquiátrico? Isso não tem comprovação e não é aceito tranquilamente dentro da própria medicina.

Midiamax: Se a doença é controvertida, então o uso da medicação também é?

O uso deste medicamento é extremamente controvertido na medicina. E não é aceito tranquilamente. O uso de psicotrópicos em criança não é uma coisa tranquila. Ele é um derivado de anfetamina, tem o mesmo mecanismo de ação da anfetamina e da cocaína e todas as reações adversas dessas drogas e levam a dependência química. Quem toma corre o risco de drogadição – dependência de psicotrópicos – que é o mecanismo de dependência química.

Midiamax: Isso é muito preocupante?

Isso é tão preocupante que a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) soltou um relatório [acesse o relatório aqui]. Ela nunca tinha soltado isso. Trabalho com questões ligadas a comportamento e aprendizagem desde o inicio da década de 80, e isso nunca aconteceu. Desde 2000 que está tendo esse crescimento absurdo é a primeira vez que sai o estudo.

Midiamax: Existem estudos que comprovem a eficácia do metilfenidato no tratamento de déficit de atenção?

Ao contrário de tudo que se diz, do que é difundido, para se saber como é a ação, se o remédio funciona ou não é preciso fazer pesquisas de meta-analise. Que é pesquisar em cima de tudo aquilo que já foi publicado sobre o assunto. Alguns centros são especializados nesse tipo de pesquisa. Um muito importante no mundo é o da Universidade de Toronto, no Canadá. Eles levantaram tudo que foi publicado desde 1980 a 2010 em tratamento de TDAH. É a única pesquisa de meta-analise feita. E dos “10 mil trabalhos feitos sobre o uso do medicamento” apenas uma dúzia foi comprovado ter rigor cientifico para ser pesquisado. E desses, ele observaram que a orientação familiar tem alta evidência de bons resultados. Só o medicamento baixíssima evidência de resultados. Orientação mais medicamento, evidência média.

Midiamax: Isso quer dizer que a orientação familiar é muito mais importante do que o uso de medicação?

A conclusão é que a orientação familiar funciona muito bem. Eles observaram ainda que o medicamento muda o comportamento da criança. Ela fica mais parada, mais quieta. O que não significa que você está resolvendo o problema. Ela está parada. Está controlada. Por isso é chamada de droga da obediência. E não sou eu quem usa esse nome, ela é chamada assim. Ela fica parada, mas o rendimento escolar não melhora.

Midiamax: Então a senhora é contra o uso do metilfenidato?

Sou completamente contra o uso deste medicamento. Não sou a favor do uso de nenhum tipo de droga porque não é comprovado que o TDAH é uma doença.

Midiamax: Isso quer dizer que crianças agitadas não necessariamente sofram de déficit de atenção?

Tem crianças que tem um comportamento diferente? Tem. Mas, o que é isso? Tem uma quantidade de problemas que podem levar a isso. Não é uma coisa. Geralmente, o comportamento é uma manifestação, é um sintoma de que algo não vai bem. Ele não é a doença em si, é a manifestação. E geralmente é algo que indica que essa criança está vivenciando um conflito – um sofrimento. Então eu preciso saber o que está acontecendo com ela para poder ajudar.

Midiamax: Quando se fala em orientação familiar quer dizer que os pais não souberam orientar?

Quanto se fala em orientação familiar não quer dizer que a culpa é dos pais. É orientar os pais para como lidar com as crianças que tem esse comportamento. Se você tem um profissional que está disponível e preocupado em descobrir isso e não dar um ‘diagnóstico’ você consegue. Pode até não ser um médico. Muitas vezes, os próprios pais percebem. O que precisa é desconfiar que algo não está bem com essa criança, ela pode estar pedindo socorro.

Midiamax: O ‘diagnóstico’ se deve a uma ânsia de resolvermos tudo com rapidez?

Também, as pessoas querem resolver tudo muito rapidamente. E os pais estão convencidos que estão fazendo o melhor para seu filho. Eles estão recebendo esse bombardeamento, da mídia mesmo. Você tem uma doença que é extremamente difundida na mídia. Entra na moda. Os pais e profissionais são convencidos de que criança que tem um comportamento diferente tem isso. Ai tem esse boom de medicação.

Midiamax: E a quem se atribui essa difusão?

Na verdade você está lidando com um interesse enorme da indústria farmacêutica. A tal ponto que o remédio é vendido como que melhora a cognição. Ele é divulgado como amplificador cognitivo. E não é nada disso.

Fonte: http://www.midiamax.com.br/noticias/840115

 

 

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