terça-feira, 2 de abril de 2013

Algumas passagens da minha semana passada


A VERGONHA DAS GESTANTES

Conversei com algumas gestantes. Entre elas, uma de 17 anos, e outra de 20. Elas me retrataram uma cena que achei muito incômoda, relacionada a evasão escolar.

Estávamos conversando sobre a relação delas com a família, com o marido, namorado, com os amigos.... em casa...

Sabemos que é muito importante um apoio tanto emocional, como social, ainda mais em se falando de mães jovens, algumas adolescentes.

Elas começaram dizendo que depois da gravidez, os amigos, “sumiram”.

Sobre a escola, a gestante com 20 anos, disse que não terminou o segundo grau escolar. E disse que desistiu de estudar esse ano. Que até pensou em voltar a estudar, e que frequentou algumas aulas no início do ano letivo. Mas abandonou, pois disse ter sentido muita vergonha na escola.

Quis saber mais sobre essa “vergonha”. Ela disse que todo mundo ficava olhando para ela. Que principalmente os professores ficavam com uma “cara estranha”, reparando, comentando, sempre em sua condição de gestante. “Era como se eu fosse o mau exemplo”.

Essa gestante, disse também que não tinha nenhum apoio de sua família. Que os pais não “aceitaram” sua gravidez. Que ela até se mudou para a casa do namorado, e que agora, depois de meses, ainda estava em fase de adaptação à casa da sogra.

A outra gestante, a de 17 anos, disse que também sentiu essa mesma “vergonha” na escola. Mas mesmo assim, não deixou de estudar. Ela está no terceiro ano do segundo grau. Sobre a vergonha, citou: “na aula de biologia, parece que todos olham para mim, com se eu fosse especialista no assunto de reprodução humana, principalmente o professor.” Ela ao contrário da primeira gestante, contou que seus pais, a família, e principalmente a mãe, está dando muito apoio emocional, nessa fase nova de sua vida.

 

“ESTOU LUTANDO O DIA TODO PARA FUMAR SÓ TRÊS CIGARROS.”

Essa frase foi dita por uma senhora, que é dependente de cigarro. Ela fumava mais que uma carteira diariamente, e agora, em tratamento para parar de fumar, disse estar conseguindo reduzir bastante, a quantidade de cigarros fumados por dia.

A maneira que ela falou, soou muito forte para mim.

 “lutando o dia todo”... Eu entendi que naquele momento da vida daquela senhora, quase não devia existir nada além do cigarro. E fiquei divagando: que grande dimensão é essa que uma substância toma na vida de uma pessoa, a ponto dela dar por entender não ter mais nada para o que se pensar, além da própria substância?  O que será que existe para ela “pensar”, ou outras lutas para enfrentar, além do cigarro? Existiriam? Ou o contrário? Existiria um monte de outras coisas na vida, como problemas, e ela estaria focalizando apenas o cigarro?

 

GRAVAÇÕES TELEFÔNICAS DENTRO DO CONSULTÓRIO

Esses dias escutando uma conversa entre dois médicos no PSF, uma deles alertou o outro:

- Agora eles (a população) estão entrando para a consulta com o celular ligado. Eu não deixo mais a pessoa na consulta entrar com o celular. Eles querem gravar o que a gente fala.  Para a população tudo é motivo para depois reclamarem para a Televisão...

 

“SOLIDÃO NO FUNDO DA AGULHA”
"Solidão no Fundo da Agulha" é uma expressão que eu escutei o Loyola Brandão falar, relacionado ao título do seu novo livro. Achei lindo.

Esses dias, fomos participar de um café da tarde, na casa de um maravilhoso casal. Ele tem já seus 94 anos. Ela, 87.

No café, várias pessoas da rua também participaram. Havia uma senhorinha de 104 anos. E o mais impressionante: com um fino senso de humor intacto (apesar de quase não mais escutar). Quando fui pedir para tirar uma foto dela, ela me respondeu: “quem você quer assustar?”.

Nesse café, se formos indelicadamente somar as idades, dos que ali se faziam presente, havia muito mais que mil anos...

Um comentário de outra senhora quando chegando, foi abraçar a vizinha: “nossa, deve fazer uns 5 anos que não a vejo. Nós somos vizinhas de fundo...”

O assunto que surgiu foi a Insônia.

Uma senhora disse que quando está na sala, assistindo TV, sente tanto sono que até adormece. Mas que quando vai para cama, perde totalmente o sono. A filha disse: “então vamos voltar a TV para o seu quarto mamãe”.

Uma senhora fez a relação de sua insônia (“vejo o sol se pôr e o sol nascer, quase todos os dias”), com os vários problemas diários que vivencia, como: ter que cuidar de sua casa, cuidar de uma neta e do marido que está acamado...

Diferentemente, um senhor disse que não adiantava não dormir devido aos seus problemas, pois não se resolveriam se ele ficasse acordado...

Outra senhora disse que quando perde o sono, levanta-se da cama, e vai arrumar as gavetas do seu guarda-roupa, ou do armário da cozinha.

Outra dona, falou sobre a fase difícil, de depressão e insônia, que passou, depois do falecimento da filha. A filha faleceu com 71 anos.

Por fim, ainda apareceu um senhor, dizendo que adora dormir de barriga cheia, e dorme muito gostoso, quando em dia de festa, toma uma “cervejinha”. Ele mostrou para nós que durante o dia, na claridade, faz tricô.

Eu pensei comigo que naquela rua, deveria existir alguma coisa na água que as pessoas bebiam. Para mim era um lugar especial. Existindo tantas pessoas idosas e com tanta vitalidade.

Esse “café da tarde” desta vez aconteceu no fundo de uma residência, embaixo de uma “ramada” linda, que cobre todo um espaço da varanda. Um lugar aconchegante, arejado, tranquilo, simples, cheio de plantas, flores e até algumas galinhas.


Tirei uma foto, retratando uma imagem bem a “mania” Manoel de Barros: a garrafa pet que virou uma luminária.

 

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