VIA: http://mariolobato.blogspot.com.br/2013/03/na-logica-de-danuza-protecao-pune.html
domingo, 24 de março de 2013
NA
LÓGICA DE DANUZA, PROTEÇÃO PUNE DOMÉSTICAS
Tal qual os senhores de escravos do século XIX, que diziam que os negros não poderiam ser libertados, pois seriam entregues à própria sorte, a colunista Danuza Leão, da Folha, argumenta que a PEC das Domésticas, aprovada pelo Senado Federal, na verdade pune tais profissionais, uma vez que, com maiores direitos trabalhistas, como FGTS e adicional noturno, elas serão dispensadas pelas patroas
no Brasil 247
- No
século XIX, os escravocratas tinham um discurso na ponta da língua. Negros não
podiam ser libertados porque, sem a proteção dos fazendeiros, que, afinal de
contas, lhes devam abrigo e alimentação, seriam entregues à própria sorte. Neste
domingo, aquele velho discurso ecoou na Folha de S. Paulo, na coluna da
escritora Danuza Leão, que já viveu seus dias de glória como
socialite.
No texto "A PEC das empregadas", Danuza
escreve sobre o projeto de lei aprovado em primeiro turno pelo Senado Federal,
que amplia direitos de tais profissionais, com a exigência de benefícios como o
recolhimento de FGTS e o pagamento de FGTS. Ela prevê que o projeto, se não for
bem discutido, colocará muita gente no olho da rua, uma vez que as patroas da
classe média alta não conseguirão manter o privilégio – que, aliás, não existe
em boa parte do mundo civilizado, que Danuza bem conhece.
Recentemente, Danuza já havia escrito
que viajar a Paris e Nova York havia perdido a graça, porque havia o risco de
dar de cara com o porteiro do prédio (leia mais aqui). Aparentemente,
a socialite ainda não se acostumou com um Brasil em que as fronteiras sociais se
movem e não são as mesmas do seu tempo.
Leia, abaixo, a coluna de
Danuza:
A PEC das
empregadas
Essa Pec das empregadas precisa ser
muito discutida; como foi mal concebida, assim será difícil de ser cumprida, e
aí todos vão perder.
A intenção de dar as melhores condições
à profissional, faz com que seja quase impossível que o empregador tenha meios
de cumprir com as novas leis; afinal, quem vai pagar esse salário é uma pessoa
física, não uma empresa.
Vou fazer alguns comentários sobre as
condições -diferentes- em que trabalham as domésticas aqui e em países mais
civilizados.
Vou falar da França e dos Estados
Unidos, que são os que mais conheço. Lá, quem mora em apartamento de dois
quartos e sala, é considerada privilegiada, mas nenhum deles tem área de serviço
nem quarto de empregada (costuma existir uma área comunitária no prédio com
várias máquinas de lavar e secar, em que cada morador paga pelo tempo que usa);
uma família que vive num apartamento desses tem -quando tem- uma profissional
que vem uma vez por semana, por um par de horas.
É claro que cada um faz sua cama e lava
seu prato, e a maioria come na rua; nessas cidades existem dezenas de pequenos
restaurantes, e por preços mais do que razoáveis.
Apartamentos grandes, de gente rica,
têm quarto de empregada no último andar do prédio (as chamadas "chambres de
bonne", que passaram a ser alugadas aos estudantes), ou no térreo, completamente
separados e independentes da família para quem trabalham.
Essas domésticas -fixas e raras- têm
salario mensal, e sua carga horária é de 8 horas por dia, distribuídas assim:
das 8h às 14h (portanto, 6 horas seguidas) arrumam, fazem o almoço, põem a casa
em ordem. Aí param, descansam, estudam, vão ao cinema ou namoram; voltam às 19h,
cuidam do jantar rapidinho (lá ninguém descasca batata nem rala cenoura nem faz
refogado, porque tudo já é comprado praticamente pronto), e às 21h, trabalho
encerrado.
Mas no Brasil, muitos apartamentos de
quarto e sala têm quarto de empregada, e se a profissional mora no emprego, fica
difícil estipular o que é hora extra, fora o "Maria, me traz um copo de água?".
E a ideia de dar auxílio creche e educação para menores de 5 anos dos
empregados, é sonho de uma noite de verão, pois se os patrões mal conseguem
arcar com as despesas dos próprios filhos, imagine com os da
empregada.
Quem vai empregar uma jovem com dois
filhos pequenos, se tiver que pagar pela creche e educação dessas crianças? É
desemprego na certa.
Outra coisa esquecida: na maior parte
das cidades do Brasil uma empregada encara duas, três horas em mais de uma
condução para chegar ao trabalho, e mais duas ou três para voltar para casa, o
que faz toda a diferença: o transporte público no país é trágico. Atenção: não
estou dando soluções, estou mostrando as dificuldades.
Na França, quando um casal normal, em
que os dois trabalham, têm um filho, existem creches do governo (de graça) que
faz com que uma babá não seja necessária, mas no Brasil? Ou a mãe larga o
emprego para cuidar do filho ou tem que ser uma executiva de salário altíssimo
para poder pagar uma creche particular ou uma babá em tempo integral, olha a
complicação.
Nenhum país tem os benefícios
trabalhistas iguais aos do Brasil, mas isso funciona quando as carteiras das
empregadas são assinadas, o que não acontece na maioria dos casos; e além da
hora extra, por que não regulamentar também o trabalho por hora, fácil de ser
regularizado, pois pago a cada vez que é realizado? Se essa PEC não for muito
bem discutida, pode acabar em desemprego.
P.S.: É difícil saber quem saiu pior na
foto esta semana: se d. Dilma, dizendo em Roma que a culpa pelas tragédias de
Petrópolis se deve às vítimas, que não quiseram sair de suas casas, ou se
Cristina Kirchner, pedindo ajuda ao papa no assunto das
Malvinas.
Leia, ainda, o texto da Agência Brasil,
sobre a PEC das Domésticas:
Mariana
Jungmann
Repórter da Agência
Brasil
Brasília
- O plenário do Senado aprovou hoje (19), por unanimidade em primeiro
turno, a proposta de emenda à Constituição (PEC) que amplia os direitos
trabalhistas dos empregados domésticos, conhecida como PEC das Domésticas. Foram
70 votos favoráveis e nenhum contrário. Foi aprovada apenas uma emenda de
redação, de modo que a matéria conserva o texto enviado pela Câmara dos
Deputados.
O texto estende aos empregados
domésticos 16 direitos assegurados hoje aos demais trabalhadores urbanos e
rurais regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), incluindo
obrigatoriedade de recolhimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS),
hora extra e adicional noturno. Além disso, passa a ser obrigatório o aviso
prévio de 30 dias antes de demissão sem justa causa ou de pedido de demissão por
parte do trabalhador. A categoria reúne 6,6 milhões de brasileiros, sendo a
maioria formada por mulheres (6,2 milhões).
Por acordo entre o presidente do
Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e os demais senadores foram quebrados os
interstícios necessários para a votação em primeiro turno. A votação em segundo
turno foi marcada para a próxima semana, na terça-feira (26). Se o texto da
Câmara for mantido também na próxima votação, a matéria seguirá para
promulgação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário