Com dívida de R$ 17 milhões, diretoria faz devassa em hospital
Aline dos Santos e
Paula Maciulevicius
Alvo de
investigação por superfaturamento, o Hospital do Câncer Alfredo Abrão, em Campo
Grande, opera no vermelho. De acordo com balanço divulgado nesta terça-feira
pela nova diretoria, a dívida era de R$ 17.763.474,86 em 22 de março. Do total,
R$ 600 mil foram pagos até hoje.
O maior valor, R$
14 milhões, corresponde a empréstimo com a Caixa Econômica Federal. O
financiamento foi em 60 parcelas de R$ 269 mil. Seis já foram pagas. O dinheiro
foi aplicado na compra de terreno para ampliar o hospital.
A dívida também inclui pagamentos vencidos a fornecedores, medicamentos, outros dois empréstimos bancários e honorários.
A dívida também inclui pagamentos vencidos a fornecedores, medicamentos, outros dois empréstimos bancários e honorários.
Com os médicos, a dívida
entre outubro e fevereiro chega a R$ 991 mil. Entre janeiro e fevereiro deste
ano, o débito acumulado com os plantonistas do CTI (Centro de Terapia
Intensiva) era de R$ 160 mil. O saldo bancário do hospital é de R$
123.197,43. A situação financeira foi encontrada pela nova direção em 22
de março. “A transparência vai nortear nossas ações”, afirma o
diretor-presidente Carlos Alberto Moraes Coimbra.
De acordo com ele,
serão solicitadas informações à Caixa sobre o contrato de empréstimo. O valor
inicial era de R$ 9,2 milhões para compra da área e R$ 1,3 milhão para saldo da
obra.
No entanto, em
agosto de 2012, o contrato foi revisto, sem aval do Conselho Curador, e o valor
alterado para R$ 14 milhões. A revisão foi assinada pelo então diretor-geral
Adalberto Abrão Siufi e sua filha Betina Moraes Siufi Hilger, que foi demitida
do cargo de administradora do hospital.
“Se pegou o
dinheiro para comprar o terreno, porque não pagou de forma integral”, questiona
o diretor-geral Jeferson Baggio Cavalcante.
Devassa - Conforme Carlos
Coimbra, todos os contratos serão reavaliados e três já foram rescindidos. Sem
divulgar o valor dos termos cancelados, ele afirma que se trata de empresas
prestadoras de serviço em consultoria pessoal. “Foi uma questão de economia”.
No processo de
reestruturação, 15 pessoas foram demitidas. Em um dos casos, um terapeuta
ocupacional foi contratado, com registro em carteira, para trabalhar das 7h às
11h. Porém, mudou sua jornada para três horas diárias: 5h às 8h.
A direção também
vai reforçar junto ao Ministério da Saúde e à bancada federal o pedido de um
acelerador linear, utilizado na radioterapia. Outra mudança será na
remuneração dos médicos residentes. Antes, o valor pelo procedimento do SUS,
conforme a direção, era repassado para Adalberto Siufi. Agora, cada médico
residente vai receber por trabalho realizado.
Venda de bens – A direção
determinou que cinco imobiliárias avaliem um terreno e um imóvel que fazem
parte do patrimônio do hospital. A estimativa é que a venda dos bens renda até
R$ 1,3 milhão. A operação será concretizada mediante aprovação do Conselho
Curador e do MPE (Ministério Público Estadual). O dinheiro será revertido para
capital de giro.
A comissão
provisória foi ratificada em eleição na noite de ontem. Carlos Coimbra segue
como diretor-presidente. Jeferson Baggio Cavalcante foi mantido como
diretor-geral e Sueli Nogueira Telles como diretora-financeira. A nova
diretoria fica até 2015.
A direção do
hospital foi afastada após operação da PF (Polícia Federal) e denúncia de
superfaturamento e autocontratação apresentadas pelo MPE (Ministério Público
Estadual). A cúpula do hospital era composta por Adalberto Abrão Siufi
(diretor-geral), Blener Zan (diretor-presidente) e Wagner Miranda
(diretor-financeiro).
Conforme a
denúncia, Siufi fez manobra para manter contrato com a empresa Neorad, do qual
é proprietário, e rendia, em média, R$ 3,1 milhões por ano. Pressionado pelo
Conselho Curador, o contrato com a Saffar & Siufi Ltda (nome oficial da
Neorad), que perdurava desde 2004, foi rescindido em agosto do ano passado.
Contudo, em março
deste ano, sete meses depois, o Ministério Público recebeu a informação de que
a sucessora no contrato foi a Siufi & Saffar Ltda. Apesar dos nomes invertidos,
as empresas tem o mesmo quadro societário. O detalhe é que o contrato previa o
pagamento do valor estipulado pelo SUS (Sistema Único de Saúde), mais acréscimo
de 70%.
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