quarta-feira, 12 de junho de 2013

Retrato da nossa época: Sociedade de Consumo

Com financiamento farto, interior tem bolha de shoppings

CLARA ROMAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

 
Dinheiro fácil pode ter inflado o número de shopping centers no interior do país, aumentando o risco de os empreendimentos fracassarem.

Segundo dados da Abrasce (Associação Brasileira de Shopping Centers), em 2013 haverá um recorde de inaugurações de shoppings, com novos centros em 41 cidades.

Em 2014, serão mais 32. Até o fim do ano, cerca de 51% dos shoppings em operação no país estarão em cidades do interior.


Segundo consultores, há excesso de empreendimentos e novatos no negócio, atraídos pela facilidade de se conseguir financiamento, o que pode comprometer a qualidade dos centros comerciais.

Com vários IPOS (abertura de capital na Bolsa) na última década, a disseminação dos fundos imobiliários e a entrada de capital estrangeiro, várias empresas aumentaram o número de projetos e assumiram riscos maiores.

Além disso, entre 2010 e 2012, o BNDES aumentou 148% os desembolsos para o setor, chegando a R$ 859 milhões no último ano.

"Muitos dos projetos de shopping centers não terão condições de se realizar com o patamar de qualidade que os investidores estão imaginando", afirma João da Rocha Lima Jr., professor de mercado imobiliário da Poli (Escola Politécnica da USP) e dono da consultoria Unitas.

"Está havendo muita indisciplina, muita fantasia. Tem muita gente falando de shopping center sem entender como faz e, lamentavelmente, tem capital estrangeiro envolvido nisso."

Máximo Lima, sócio da HSI investimentos, gestora de fundos que atua no mercado imobiliário, afirma que há muitas cidades pequenas e médias que estão recebendo mais shoppings do que a real demanda da cidade teria capacidade de absorver.

Segundo ele, houve uma falta de critério por parte de muitos atores. "Caras que conseguiram levantar dinheiro no mercado e saíram anunciando vários shoppings, mas sem nenhuma estrutura para isso", afirma ele.


Victor Moriyama/Folhapress
Corredor de shopping em Sorocaba (SP), cidade que possui quatro shoppings e deve ter mais dois inaugurados em breve
Corredor de shopping em Sorocaba (SP), cidade que possui quatro shoppings e deve ter mais dois inaugurados em breve

ALÉM DA CONTA

A conta aproximada, utilizada por especialistas, é que uma cidade de 150 mil habitantes comportaria um shopping médio.

Mas há casos como Sorocaba (SP), cidade de 586 mil habitantes, com quatro shoppings e com inauguração prevista para mais dois. Nessa conta, a cidade deveria ter 900 mil habitantes.

Segundo Márcia Sola, diretora do braço do Ibope dedicado às pesquisas de viabilidade de shoppings, muitos clientes se arriscam e mantém projetos mesmo quando o instituto aponta que há grande chance do empreendimento falhar.

Uma das consequências é que as grandes lojas optam por se instalar em apenas alguns shoppings.

Marcos Tadeu Marques, gerente de expansão da Riachuelo, afirma que os critérios das lojas são parecidos, o que faz que haja uma convergência para alguns centros, condenando os preteridos. "Não vi nenhum shopping sucumbir. Não deu tempo. Mas eles estão mais dispostos ao risco", afirma.
 
 

Para abrir shopping, empresa exige desocupação esperada desde 2012

Leonardo Rocha e Paula Maciulevicius

 
 
O projeto do Shopping das Moreninhas depende de dois fatores para sair do papel e as obras começarem. Segundo o diretor executivo da Maxims Investimentos, Sérgio Gonçalves, responsável pelo empreendimento, são exigidas a abertura de uma nova via de acesso às Moreninhas e a retirada de 50 famílias de uma outra área da empresa.
O prefeito Alcides Bernal (PP), que esteve esteve nesta semana no local para analisar o projeto, prometeu aos empresários que vai solucionar estas questões.
Em relação às famílias, o prefeito ressaltou que estas já “asseguraram” vagas no residencial que está sendo construído nas Moreninhas, onde funcionava uma horta comunitária. Sobre a via de acesso, Bernal destacou que conseguirá o recurso por meio do PAC (Programa de Aceleração de Crescimento), obra
Segundo informações dos investidores, o shopping irá gerar 1.000 empregos diretos e 2.500 indiretos. Ele terá 109 lojas, cinco salas de cinema e uma praça de alimentação para 1.200 pessoas. Sergio Gonçalves destacou que o investimento no local é de R$ 100 milhões e que este recurso já está disponível.
Famílias – De acordo com relatos dos moradores que aguardam o residencial José Maksoud ficar pronto, no bairro Moreninhas IV, a demora não foi exatamente justificada. No calendário, a entrega que seria feita em outubro de 2012, passou para janeiro, agosto e agora volta a outubro, um ano depois. Entre a troca da prefeitura, falta de documentação até a dificuldade em mão de obra, a extensão dos prazos já passou por todas essas explicações.
Cerca de 200 famílias são as mais prejudicadas na história. Estão em casas de alvenaria improvisadas nas ruas Ayrton Senna e Alto da Serra. Em março do ano passado, a Emha (Agência Municipal de Habitação de Campo Grande) passou de porta em porta fazendo o cadastro para transferi-los até o residencial.
“Vai sair, vai sair e não sai. Era ano passado, mudou para janeiro, junho e agora diz que é setembro ou outubro. A gente não pode mexer em nada nessa casa porque vai perder e eles nunca resolvem. Só fica na promessa”, descreve a dona de casa Luciana Macedo, 26 anos. Na residência de alvenaria moram ela e a filha, que vivem com o desgaste  e não podem fazer nada.
A vizinha Josiane Santana Pereira, 27 anos, tem enfrentado drama maior. Segundo ela, as constantes rachaduras na casa provocam “medo” sobre uma possível queda de parte do telhado. Josiane, o marido e três filhos são inscritos no programa de casas da Emha desde março do ano passado, quando funcionários passaram na região fazendo o cadastro.
“A maioria das casas falta terminar. Eles tinham estipulado para agosto deste ano e olha que com a demora minha casa está toda rachada, mas se a gente arrumar vai perder dinheiro nas melhorias. Lá pelo menos eu vou investir no que é meu”, destaca ela.
Residencial – A equipe do Campo Grande News foi até o residencial. Das 482 casas, 60% delas já estão rebocadas e cobertas. Poucas delas chamam atenção: em 37 casas a pintura foi pré-realizada. Segundo apuração do Campo Grande News, a prefeitura ainda não decidiu a fachada e nem as cores que serão pintadas. O resultado é que não se pode concluir a pintura até que o projeto seja aprovado.
E enquanto não há uma decisão em cima disso, a obra continua seguindo em outras etapas como de cobertura, fiação e plantação de grama.
Na obra a informação é de que a indefinição da pintura ainda não atrapalhou o cronograma porque não há uma data para a entrega. Segundo a empreiteira que realiza a construção, Coplan, a obra começou em março e tem 18 meses para conclusão, ou seja, ainda está dentro do prazo estipulado em contrato.

Moradia improvisada, em área irregular.Moradia improvisada, em área irregular.

Casas novas, aparentemente prontas.Casas novas, aparentemente prontas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário