Por Dráuzio Varela
via:http://www.mariolobato.blogspot.com.br/
“As pessoas não têm mais a quem pedir
ajuda a não ser a mim. Se tiver mais de três casos urgentes para atender
imediatamente, como eu faço?” Em tom de desabafo, o cardiologista Sérgio Perini
conta que desde abril de 2012 é o único médico em atividade na cidade de Santa
Maria das Barreiras, no interior do Pará. O único para atender uma população
carente de 18 mil habitantes.
Essa situação não é exclusividade de
Santa Maria das Barreiras. A cidade divide o problema com milhares de municípios
que, como ela, são pequenos e afastados de grandes centros urbanos. Segundo o
último levantamento do CFM (Conselho Federal de Medicina), feito em 2012, o
Brasil abriga 388.015 médicos, cerca de 1,8 por mil habitantes. A Argentina tem
3,2, Espanha e Portugal têm 4 e Inglaterra, 2,7. Ainda assim, a quantidade de
médicos brasileiros é considerada razoável, mas não resolve o problema de saúde
do país porque apenas 8% dos profissionais estão em municípios de até 50 mil
pessoas. E municípios desse porte representam quase 90% das cidades (veja
tabelas no final desta matéria).
O restante dos profissionais está
aglomerado em grandes regiões. Distrito Federal e os estados de Rio de Janeiro e
São Paulo têm respectivamente taxas de 4,09, 3,62 e 2,64 médicos por mil
habitantes, enquanto outros estados não somam nem um profissional por mil
habitante, como é o caso do Amapá (0,95), Pará (0,84) e Maranhão (0,71). Ainda
assim, a taxa maior em um estado não significa que cidades pequenas daquela
região ofereçam atendimento adequado.
Nesse cenário, Santa Maria das
Barreiras e tantas outras cidades brasileiras tentam lidar com a carência da
maneira que podem. “Como faltam profissionais, as ocorrências mais graves não
têm como ser atendidas aqui, então encaminhamos para a cidade de Redenção, que
fica a 130 km. O trajeto de 2 horas é feito por estrada de terra”, relata o dr.
Perini.Para tentar resolver a questão, o governo federal criou em 2011 o Provab
(Programa de Valorização dos Profissionais da Atenção Básica), uma iniciativa
para levar médicos recém-formados a regiões carentes oferecendo uma bolsa de R$8
mil. O incentivo, porém, não foi suficiente. O último levantamento, feito com
base nos dados de 2012, mostrou que 2.856 prefeituras solicitaram 13 mil
médicos. Menos da metade, 1.291, foi atendida por pelo menos um profissional, já
que apenas 4.392 médicos se inscreveram e 3.800 assinaram contrato. O número
equivale a 29% das vagas abertas.
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